CAPÍTULO 6 - MATTEO

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"Me dividi em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia"
(R.Russo)

O restaurante encontrava-se abarrotado de clientes em trajes elegantes, o maitre havia, como prometido, os colocado em uma mesa de frente para o jardim que exibia antúrios e hortênsias em flor, apesar de não ser o lugar de costume que Matteo ficava era bastante confortável. Enquanto olhavam o cardápio muitos dos presentes acenavam para Matteo em cumprimento.

Nick se sentia completamente deslocado, ainda por cima conseguia tecer sentimento de que talvez, se não fosse um homem tão importante, Matteo até se interessasse por ele. Qualquer coisa que viesse a rolar seria somente uma noite de sexo, e só, nada mais. Como podia ter sido tão inocente no dia que se conheceram no elevador, com aquela roupa que parecia um corte Italiano. Matteo não poderia ser nenhum funcionário. Nick sentia-se um perfeito idiota.

Matteo interrompeu os pensamentos de Nick o perguntando se desejava algum prato em especial do Menu. A resposta foi um aceno negativo de cabeça, era a primeira vez que estava em um lugar tão requintado e não fazia nem ideia do que se tratava a maior parte do que estava descrito no menu. Após um tempo surgiu um novo dilema para Nick: a carteira de vinhos.

Olhando ao redor, Nick percebera que a maior parte dos homens que ali estavam se encontravam muito bem engravatados e alinhados em suas calças sociais. Ele? Queria sumir na cadeira e se transportar para outro lugar. A única brilhante ideia que se passou por sua cabeça foi dar um gole no vinho à sua frente. Mas nem para disfarçar estava preparado e engasgou-se no primeiro gole atraindo os olhares curiosos dos clientes próximos à mesa. Não estava em seu melhor dia, já estava bem claro essa informação.

Matteo segurava o riso, nada o perturbava.

— Será que não é melhor deixar a bebida de lado? — Nick ficou da cor da camisa encardida que vestia.

— Não se preocupe, tenho mais idade que aparento — sorriu acanhado.

— Hum, então cuidado para não se embebedar, não haveria nenhum mal nisso, mas...— sendo logo interrompido por Nick.

— Deveria ter logo me dito quem era, por qual motivo não o fez?

— Não achei importante, ser uma pessoa comum me pareceu uma experiência diferente — disse bebericando a taça de vinho.

— Não consigo saber quando está sendo sincero, ou está sendo irônico comigo — falou Nick em tom sério.

— Isso talvez seja bom, bem..., — continuou — gostou do almoço? — disse levando o assunto para outros caminhos.

— Delicioso! Nunca havia comido em um lugar bacana assim — falou se arrependendo do descontrole das palavras — desculpe, deve me achar um bobo.

— Não acho, apenas é espontâneo. Gosto de pessoas assim — disse Matteo. — E o que aconteceu para chegar novamente atrasado? — perguntou curioso.

— Antony...Antony amanheceu doente e acabei me enrolando fazendo um chá para ele. Durante o dia anterior não me parecia gripado, de modo que apenas me dei conta quando já estava em cima da hora para sair para o trabalho. Para ficar bem pior o ônibus demorou uma eternidade e ainda tive um belo engarrafamento na Paulista. Quando cheguei ao Edifício Lummia eram mais de dez horas e Fábio já estava cuspindo marimbondos, nem quis me escutar, de certo, nem tiro sua razão. Por volta de umas onze o Sr. Augusto me chamou ao DP e pensei que seria demitido, mas por sorte ele me deu um esporro e uma nova chance.

— Ah, nem imaginaria que era uma saga assim — sorriu Matteo. Logo Nick se deu conta de que estava conversando com seu chefe e não com um colega de trabalho e ficou incomodado com aquela situação.

— Calma, Nick — disse percebendo o incomodo — não se preocupe, encaremos isso como uma conversa de amigos, algo bem informal — rindo amistosamente.

— Bem, Augusto me fez prometer que não chegaria mais atrasado e olhando bem as horas agora isso já é mais que certo. Passa das quatorze e meia — Matteo não estava nem um pouco preocupado com isso.

— Esqueceu que sou seu chefe? Confie em mim, não será hoje sua demissão — sorriu novamente se recostando na cadeira de forma preguiçosa.

— Essa história toda parece até inacreditável. Se eu contar para alguém de certo não iriam acreditar.

— Mas está na cara que está curtindo bastante — inquiriu Matteo.

— Não direi que não — respondeu com falsa modéstia.

— Então pronto — disse Matteo. — Vamos voltar à realidade?

Após alguns instantes já estavam novamente dentro do Lummia Empreendimentos, Nick olhava a paisagem cinza e se sentia estranhamente feliz, tudo fora tão incrível e até poderia dizer mágico, sentia-se mais idiota ainda. O Maserati estacionou na vaga que agora Nick sabia ser exclusiva para Matteo.

— Agradeço pela carona, pelo almoço e espero de verdade não ter lhe incomodado mais que deveria com minha chatice costumeira — disse fazendo Matteo por de traz de sua barba cerrada sorrir.

— Eu adorei sua companhia, não me atrapalhou, ou causou incômodo. Poderíamos marcar uma noite dessas de sair para jantar novamente, o que me diz, aceita? — os olhos de Nick ficaram arregalados de surpresa.

— Não iria querer sair com um funcionário abobado como eu.

— Não me conhece mesmo — continuou sorrindo Matteo. — Aceite então, será uma boa oportunidade para conversarmos mais um pouco, amanhã seria ótimo, o que acha?

— Vamos então— respondeu Nick sem muita saída e sem muito querer dizer não.

— Aí, — disse animado, — perfeito, às vinte espero você no mesmo lugarzinho que fiquei lhe aguardando no seu prédio.

— Combinado! Agora irei para minha sala, estou quase na hora de ir embora e na verdade chegando para o segundo turno...

— Irei entrar com você, espere um pouco.

— Ué, não se importa de ser visto comigo?

— Que bobagem. Tem algum problema com isso, Nick? Olha, não se inferiorize ou se deixe intimidar por qualquer situação — pontuou Matteo seriamente.

Passava das quinze, Nick estava tão preocupado que isso lhe transparecia no rosto. Devia ser tão óbvio que Matteo apertou os ombros de Nick levemente num sinal de "não se preocupe". Assim que adentrou o Hall todos os funcionários da recepção olharam intrigados os dois chegando juntos, Nick desvencilhou do toque de Matteo.

— Você está bem, parece incomodado — disse Matteo assim que chegaram ao elevador.

— Mais por você do que por mim, com toda certeza nesse momento todo os andares sabem que chegamos juntos.

— Isso não é um problema meu, eu não me importo, definitivamente não mesmo. Acho que é você que se sente deslocado, para mim a situação é banal.

— Ah, não, eu até achei engraçado, juro, me senti importante chegando com o Todo Poderoso da Lummia. — Concluiu fazendo Matteo dar um sorriso espontâneo.

— Ótimo, isso quer dizer que estamos acertados para amanhã, certo?

— Certíssimo, às vinte. — Apenas naquele momento Nick se dera conta que já estavam parados no sétimo andar fazia alguns minutos — até, então — despediu-se.

— Até — respondeu — espero que não tenha nenhum aborrecimento com o Fábio Pifano — concluiu enquanto a porta do elevador se fechava e o levava rumo ao último andar.

***

NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora