"O mesmo sol nasce todo dia, você escolhe como quer
enxerga-lo" (Liniker)Nick já estava mais que atrasado, o fígado seria arrancado, nem teria mais o que justificar, conseguia até ouvir o coração batendo disparado quando chegou no saguão do Edifício Lummia Empreendimentos. Seria despedido? Bem provável. Pensava a todo instante. Em menos de vinte dias de trabalho já havia chegado atrasado mais de três vezes.
Ao caminhar pelo saguão nem sinal do homem que havia encontrado no dia anterior, seria muita coincidência, mesmo sendo nove e quarenta e cinco da manhã. Afastou esses pensamentos, nem era hora para eles. Fábio Pifano estava mais irritado que de costume e, dessa vez tinha certeza que seria posto no olho da rua.
Nick subiu pelo elevador, que neste dia parecia ter adquirido mais velocidade e o deixou em segundos no sétimo andar. Ao chegar à sala deu com o chefe com a cara mais terrível do mundo.
— Nicholas, qual a desculpa de hoje? — interrogou — vamos admitir que é um grande feito quatro atrasos em menos de vinte e cinco dias, então? — concluiu ironicamente.
— Me desculpe, Sr. Fábio Pifano, é que o meu amigo que divide o Kitnet — disse explicando — adoeceu e acabei me atrasando fazendo um chá para ele.
— Sempre uma desculpa, uma hora o despertador, outra o ônibus e agora o amigo moribundo — disse com ar de deboche — mas não se preocupe, eu nem quero saber de mais nada, agora explique-se com o DP — concluiu triunfante — eles que lhe contrataram. Eles que se virem. Nunca vi um funcionário tão sem compromisso. Realmente não é comportamento de alguém que quer continuar empregado.
— Sr. Fábio, mas dessa vez...
— Ah, não, chega! Nem adianta tentar dizer mais nada — resmungou Fábio dando-lhe as costas — inicie seu turno, por favor, se é que isso seja possível!
Nick sentia a cara vermelha e queimando em um misto de raiva e vergonha. Dizia internamente, com aquela vozinha que todos nós temos dentro da cabeça, "não vá chorar agora". Seria só o que faltava, começar a chorar. Percebeu que Renato, no canto da sala, próximo a janela, o observava com cumplicidade. Um sol esbranquiçado e sem coragem nenhuma rompia a espessa neblina e Nick só pensava em como iria cumprir a promessa de ir até em casa levar mais medicamentos para Tony. Com uma hora de almoço e morando na Zona Norte não daria tempo, com toda certeza.
Fábio parou diante a mesa de Nick minutos depois e o convidou a ir à sala do chefe do DP. Na verdade, não era bem um convite. Por sorte, ou azar, o conhecia de quando realizou sua entrevista juntamente com outros candidatos. Lembrava-se que era um homem sério, mas que se fazia muito educado, porém hoje estava com a cara mais amarrada possível. Fábio já havia buzinado todas as lamentações em sua cabeça e, sem nenhuma dúvida, feito sua caveira para Augusto.
— Você percebeu que as coisas não estão muito amigáveis aqui, Nicolas Fernandes — iniciou— poderia despedi-lo, sabe disso? — indagou. — Fui responsável por sua contratação, mas não vejo de sua parte nenhum interesse em continuar trabalhando para nossa empresa. Pior que ainda me deixa em uma situação horrível, afinal de contas fiz sua contratação — concluiu com olhar sério.
— Sr. Augusto, — iniciou com voz embargada. — Sou um bom funcionário, bem, quero dizer, hoje foi uma situação que fugiu ao meu controle. Meu amigo, o qual dividimos a casa em que moramos, caiu doente e acabei tendo que cuidar dele um pouco antes de sair de casa para vir para cá. Para meu azar o ônibus pegou o engarrafamento, então já viu o que deu...
— O problema é que isso está uma constante, Fábio relatou que é a quarta vez em menos de vinte e cinco dias— disse desanimado, Nick estava apreensivo, nem conseguia respirar, não poderia perder o emprego, isso significaria ter que voltar a morar com a tia Carmem. Maldito Fábio. — Vou lhe dar uma última chance — iniciou novamente com uma decisão — mas, caso não cumpra o que foi acertado, de iniciar seu expediente às oito horas, ouça bem — pontuou — não são oito e vinte e nem oito e meia, é às oito horas em ponto, irei demiti-lo, ouviu bem, Sr. Nicholas Fernandes? — Não era bem uma pergunta.
— Obrigado, Sr. Augusto — respondeu soltando enfim a respiração que somente naquele momento percebera que estava sem executar havia um tempo.
Retornou à sua sala e sentado à mesa pensava como iria fazer para ir até em casa e ver se Tony estava bem. Passara pela cabeça pedir ao Sr. Augusto uns vinte minutos de tolerância depois do almoço, mas claro isso logo desapareceu da cabeça, seria um abuso e com toda certeza seria demitido ali mesmo. Pedir ao nojento do Fábio estava bem fora de cogitação. Uma horinha somente de almoço não daria nem para chegar na metade do caminho, mas iria arriscar assim mesmo.
Nick desceu as escadas pulando os degraus de dois em dois e encontrou Renato saindo do elevador em direção ao refeitório, chegou ao Hall e saiu correndo pela porta automática sensível ao movimento, sem perceber deu uma topada em alguém que vinha em sua direção.
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NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)
RomanceMatteo Resende, um empresário Paulistano, tem sua vida virada de ponta à cabeça após um "encontro" com um de seus funcionários no elevador. Nick estava atrasado para o trabalho, como sempre, e pede ao estranho que segure a porta enquanto corre ap...