CAPÍTULO 22 - O ACIDENTE DE MATTEO RESENDE

496 56 5
                                    

"Quando eu lhe dizia: - me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: - eu gosto de você também
Só que você foi embora cedo demais "(Love Afternoon - Renato Russo)

Nick e Pedro retornaram de viagem a São Paulo. Antony havia sido incumbido de encontrar um novo apartamento para viverem juntos, a nova moradia era melhor que a caixa de sapatos que moravam e, para comemorar, ofereceu um jantar de inauguração de casa nova. Toni era um ótimo anfitrião e cozinheiro, a intenção era que seria também uma forma de comemorar o retorno do amigo e do namorado.

A comida estava deliciosa e Tony ouvia empolgado os relatos da viagem, mas percebeu que nitidamente o casal estava distante e tenso. Quando Pedro e Nick relatavam um acontecimento, não se olhavam em cumplicidade, algo normal que acontece com quem está dividindo experiências, além disso quase não se falavam entre si, o que depois de algum tempo deixou Tony constrangido por toda situação que nem sabia que estava rolando, mas não havia o que se fazer para amenizar a situação, a não ser inventar uma desculpa e cair fora dali, ir para a cama seria uma ótima opção, afinal teria que ir trabalhar logo pela manhã bem cedinho, e foi o que fez.

Pedro ajudou Nick a organizar a cozinha e a lavar a louça, quando voltaram para a sala um silêncio constrangedor se fez presente. Pedro percebendo que não havia mais o que fazer por ali logo se despediu.

Após um banho demorado e bem quente Nick retornou à sala, Tony estava esperando o amigo, curioso como sempre.

— Então? Desembucha, amigo — disse direto ao ponto — o que houve? Na cara que vocês estavam em tempo de um pular no pescoço do outro.

— Pois bem, vou lhe contar, mas já sei que vai me dizer que fui avisado.

— Hum, então não era uma impressão realmente! — disse Tony se acomodando melhor no novo sofá — o que aconteceu para concordar comigo?

— Parece que Pedro está apaixonado por mim, mas se comportou como um imbecil desrespeitoso e filho de uma puta — explicou — além de só querer me comer, senti também que tem uma disputa com Matteo em que o prêmio sou eu. Acredita nisso?

— Olha, Nick, não acho que esteja errado em pensar isso, mas não tenho como julgar, pois não estou no seu lugar. Pedro me parece sim apaixonado, mas você não está na mesma frequência que ele. Está me entendendo? E se você sentisse algo por ele, como teria sido?

— Tem razão, Tony — ponderou. — Eu não tinha pensado por esse lado, como é bom ter você ao meu lado. Se eu sentisse o mesmo por ele acredito que teria sido bem diferente. Agora deve estar pensando que sou o idiota do ano.

— Honestamente, quer saber o que penso? — Nick acenou em positivo com a cabeça e Tony continuou — Pedro pode pensar o que ele quiser, eu me importo com o que você pensa e sente, então fazer algo que você não queira apenas prejudica a si mesmo. Eu sei que o meio LGBT é cheio de sexo casual, eu adoro, admito, mas transar quando não estamos afim é bem próximo a um estupro. Então meu amigo, não estupre seus sentimentos, seu coração. Essa história de se arrepender apenas do que fez é uma bobagem, não precisamos nos ferir para aprender com os erros. Essa romantização de sofrimento, que o que é mais difícil tem um sabor diferente, bobagem, tudo bobagem, amigo.

Nick guardou as palavras de Tony, no fundo sabia que o amigo estava certo e se sentiu ainda mais desanimado. A viagem para Belo Horizonte, uma cidade que queria tanto conhecer, fora frustrante e o pior a vontade de rever Pedro, que já nem era tanta, desapareceu de vez.

NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora