CAPÍTULO 16 - O BEIJO

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"Não me lembro
A última vez que vi você sorrindo"(Cyndi Louper)


Pedro, assim que terminou suas férias, retornou para Belo Horizonte, as aulas se iniciaram na UFMG no início de fevereiro e, com as disciplinas de finalização do curso de Arquitetura e Urbanismo as vindas à São Paulo tiveram de ser contidas, mas não as mensagens via celular, eram tantas e tão frequentes que Nick costumava deixar algumas sem responder. Pedro, como era de se supor, não informou ao pai, que voltara naquela semana de Buenos Aires, que estava mantendo uma amizade com Nick e nem que estiveram saindo regularmente. Na verdade, para Nick era uma amizade, para Pedro pode-se dizer que estava cada dia mais apaixonado.

Na empresa tudo estava caminhando normalmente, o setor de Protocolos estava a cada dia com mais contratos e documentos para digitalizar e Renato supunha que Nick e o chefe não estavam mais se encontrando e dessa forma se evitava trazer os assuntos como feridas abertas à tona.

No início de março Pedro foi passar o feriado prolongado de Carnaval em São Paulo, combinou previamente de sair com Nick quando estivesse na cidade, e assim fizeram naquele verão.

— Pedro, seu pai não está desconfiado o que vem fazer frequentemente em São Paulo? Me lembro que ele me dizia que você raramente aparecia.

— Nisso ele tem razão, sou um cidadão completamente mineiro — sorriu — mas não se preocupe, hoje meu pai está com uma confraternização em casa após a assinatura de documentos da abertura da nova filial em Buenos Aires. Digamos que é uma noite entre diretores e, sinceramente, eu acho tudo tão entediante.

— Você não fica curioso com essa nova filial, com os assuntos relacionados à empresa que um dia acabará herdando? — questionou Nick — afinal eu, sendo seu pai, iria lhe cobrar comprometimento nessas questões.

— Então, Nick, na verdade eu me interesso bastante, mas meu pai combinou comigo que eu apenas me dedicaria aos estudos. Fazer Arquitetura e Urbanismo é exatamente o que eu sempre quis fazer, assim como ele mesmo fez um dia — explicou Pedro — a empresa possui vários acionistas e vice-presidentes, de modo que hoje eu posso apenas estudar e me preparar para no futuro assumir às rédeas.

— Eu entendo — disse um Nick confuso, afinal, não seria melhor que ele estivesse ao menos estagiando na empresa e assim aprendendo seu mecanismo? Mas logo mudou de assunto, não era algo que lhe cabia discutir. — E como está Matt? Quero dizer, como está seu pai?

— Me parece ótimo — disse seco.

***

Nick estava completando dezenove anos no domingo e Pedro fez uma surpresa para ele indo o buscar em casa. Tony, que estava à janela, ficou curioso quando viu o presente nas mãos do amigo, mas não teve tempo de ver o que era. Assim que o carro dera partida Pedro insistiu para que ele abrisse a caixa e vesse o presente. Nick obedeceu e o sorriso se desfez naquele exato momento. Inacreditavelmente o presente dentro da caixinha dourada era o Rolex, o relógio que Matteo lhe dera e ele recusara. Por sorte o carro já estava em movimento, pois se estivesse parado teria saído correndo pela rua, juntaria aos sentimentos de estar envelhecendo as lembranças daquele fatídico dia que Matteo terminou tudo com ele.

Pedro não entenderia se recusasse o caro presente e, sinceramente, não estava disposto a reviver tudo o que aconteceu. Estava claro que Matteo dera ao filho o Relógio como presente e agora ele, Pedro, estava lhe presenteando com o mesmo objeto, parecia até uma piada de mau gosto.

— Não gostou? Podemos trocar por algo do seu desejo, ou mesmo poderá vender, se quiser, não irei ficar chateado.

— Não é isso, Pedro. Nunca tive um objeto tão caro. Na verdade, eu nem sei como usar algo tão valioso sem ter o medo de ser roubado aqui em São Paulo.

NICK E MATTEO (REVISADO 02/08/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora