Capítulo 1.

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Sophie

— Você precisa me passar a bola! — Gritei, enquanto escutava o time azul comemorar o gol que haviam acabado de fazer contra meu time, o vermelho. Apesar de estarmos na frente com dois gols, eu ainda gritava com os integrantes do meu grupo como a competidora ávida que era. Sentia o pulmão queimando e o suor descendo pela minha têmpora, mas meu único foco era roubar a bola e atravessar o campo com ela. Minutos mais tarde a partida acabou sem nenhum gol adicional, o placar informando "3x1" enquanto algumas poucas pessoas comemoravam na arquibancada. Dentre elas, pude ver Mateo e Sienna. Mateo estava com seu notebook colado ao corpo como sempre, preparado para qualquer história que pudesse postar. Além de ser o editor chefe do jornal oficial de Maple Ridge, Mateo também atualizava todos os jovens sedentos por fofocas com seu blog. Sienna acenava para mim, usando seu uniforme de líder de torcida vinho e preto, com uma folha de Maple estampada no meio da cropped que meu pai costumava dizer que era quase curta demais. Pelo horário eu sabia que ela vinha direto do seu treino assistir o meu.
— Bom jogo, meninas! — Escutei o treinador Zadornov anunciar enquanto ia até a arquibancada cumprimentar rapidamente Mateo e Sienna antes de ir para o chuveiro.
— Se continuar assim, te oferecem uma bolsa rapidinho. — O moreno disse, dando um beijo rápido em meus lábios. Minha situação não permitia muito mais contato que aquilo.
— E aí você não vai precisar manter sua média maior que a minha, e talvez eu tenha uma chance. — Sienna brincou, e me encarou com um olhar falso de nojo. — Você precisa de um banho.
— É, preciso. Encontro vocês depois na lanchonete?
Após a resposta positiva de ambos, me dirigi até o vestiário. No entanto, ele estava cheio de garotas e sem nenhum chuveiro livre. Ao invés de esperar, decidi usar o vestiário de funcionários já que aquele horário costumava ser vazio.
Por estudar minha vida toda ali, eu conhecia os locais e horários muito bem. Era quase minha segunda casa. Ao entrar no local, vi que tudo estava deserto como previsto e comecei a me despir. Com a toalha em mãos, fui em direção ao chuveiro e iniciei o meu tão esperado banho. Não devia ter ficado mais do que 10 minutos debaixo da água, quando decidi que era o suficiente e comecei a me enxugar. Enrolada na toalha, caminhei em busca da minha mochila quando me deparei com um Nikolai despido, apenas com uma toalha escura em torno da cintura. Ele estava de costas para mim, guardando algo em seu armário mas não pude ver o que era já que estava ocupada demais observando seus músculos.
Minha nossa, foi tudo o que consegui pensar.
Nikolai era um frequentador assíduo da minha casa, já que era o melhor amigo de meu pai desde os 14 anos. Mas não me lembrava de tê-lo visto sem camisa alguma vez. Claro, algumas vezes o suor durante o treino deixava sua camiseta colada o suficiente para mostrar que ele possuía sim um físico decente, mas não estava preparada para tudo aquilo. E quando ele virou de frente...
Blyad'! — Ele proferiu, e não precisei falar Russo para entender que aquilo era algo parecido com "Porra!". De certa forma, ouvir seu russo apenas o deixou mais sexy. — O que faz aqui, Sophie!? Esse é o vestiário dos professores! — Ele continuou, e percebi que ele desviava o olhar para não encarar meu corpo.
— O vestiário feminino estava cheio e não queria esperar. — Justifiquei, dando de ombros. Ele era tão melhor de frente quanto eu pensava. Não demorou muito para que ele percebesse o meu olhar não muito discreto e então cruzou os braços em uma tentativa engraçada de cobrir seu corpo. Péssima ideia, já que os músculos flexionados de seus braços me deixaram ainda mais distraída.
— Você não pode fazer isso. Precisa esperar e tomar banho no vestiário de vocês.
— Você sabe que eu estou de toalha, né? Não precisa encarar o armário enquanto fala comigo.
— Sophie, vista-se de uma vez e saia daqui. — Ele disse, a voz um pouco mais irritada.
Arqueei uma sobrancelha como se aceitasse um desafio e então tirei a toalha do corpo.
— Como quiser. — Respondi, sorrindo. Ele ficou vermelho de uma forma adorável, mas não sabia dizer se era raiva, vergonha ou um misto dos dois. Ele se virou de costas para mim sem falar nada, e esperou enquanto eu me trocava. — Já pode olhar.
Ele demorou uns segundos mas finalmente se virou em minha direção. Respirou aliviado e negou com a cabeça, me mandando sair dali logo. Obedeci, rindo da situação enquanto escutava os passos do professor em direção ao chuveiro.

                         Nikolai

Encarei a parede enquanto a água corria por minhas costas, tentando entender o que havia acontecido. Conhecia Sophie desde criança e sabia que ela era complicada de entender. Era muito esforçada e competitiva, mas por vezes agia por total impulso e sem pensar nas consequências. Aquele incidente era apenas uma prova disso. Considerei contar a Asher o ocorrido, mas ele não ficaria muito feliz em saber que sua filha havia se despido na minha frente. Por fim decidi não falar nada e confiar no discernimento da mais nova para que não acontecesse nada parecido com aquilo novamente.
Esfreguei o corpo quase como se tentasse tirar essa memória à força, mas após me enxugar e vestir, eu ainda lembrava do jeito que a morena havia me encarado. E apesar de não querer admitir a mim mesmo, lembrava de seu bonito corpo.
Após todos os períodos de aula eu estava ansioso para ir embora, tomar alguns copos de vodka e dormir. Aquilo devia ser o cansaço. Sophie era minha melhor jogadora, não podia permitir que ficasse alguma sensação estranha entre nós. Além de, claro, a quantidade de vezes que nos víamos fora da escola por conta de minha amizade com seu pai.
Confiante de que aquelas imagens desapareceriam da minha mente, fui para casa ao fim do dia.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora