Capítulo 20.

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Nikolai

Abri os olhos e precisei de alguns segundos para que pudesse me lembrar de onde estava, e com quem. Então, tomei consciência de meu braço em torno da cintura da morena em minha frente, enquanto escutava sua respiração calma. Decidi ficar ali alguns minutos, aproveitando aquela sensação de tê-la nos braços, mas então decidi levantar para buscar algo que pudéssemos comer.
Puxei meu braço devagar, na intenção de não acorda-la. Busquei minhas calças no banheiro, e enquanto vestia percebi um movimento no colchão.
— Oi... — Ela disse, com a voz baixa e um sorriso quase tímido.
— Bom dia. — Respondi, me sentando. — Não queria te acordar. Eu só vou buscar algo pra comer.
— Tudo bem, não estou mais com sono. Eu dormi muito bem. — E então ela sorriu, fazendo referência aos acontecimentos da noite anterior. Eu me debrucei em sua direção e tirei alguns fios de cabelo de seu rosto.
— Foi...? — Eu não sabia exatamente como perguntar. "Foi bom?" "Doeu?" Para minha sorte, antes que eu pudesse terminar a pergunta ela respondeu.
— Foi muito bom. Melhor até do que eu achei que poderia ser. — Eu sorri, aliviado, e lhe dei um beijo. — Eu vou me arrumar e vamos juntos em algum lugar comer. Tudo bem?
— Claro. — Concordei, levantando e vestindo agora a camiseta e meus calçados. Rapidamente, Sophie colocou suas roupas e logo estávamos fora do hotel. No carro, fomos até o restaurante indicado pela recepcionista. Era um lugar simples, mas bastante organizado e limpo. Estava bastante vazio, mas o cheiro de comida sendo preparada foi o suficiente para acreditar na palavra da moça que trabalhava no hotel.
Nos sentamos em uma das mesas, e logo uma ruiva veio nos atender. Com um largo sorriso, nos deu as boas vindas e perguntou o que gostaríamos de pedir.
— Eu quero ovos, bacon e um suco de laranja.
— É para já.
— Eu quero panqu... — Sophie começou, antes de ser interrompida pela moça que ainda estava virada para mim
— Desculpe, você é de onde? Você tem um sotaque tão bonitinho.
— Ah, hm...Rússia.
— E você mora aqui em Nova Orleans mesmo?
— Não, na verdade em uma cidade próxima. Desculpe, é que estamos com bastante fome, poderia...?
— Claro! — Ela sorriu, as bochechas tomando uma coloração rosada. Então, finalmente se virou para Sophie - que parecia incomodada. — Você quer panquecas, não é?
— Sim. Com molho de blueberry. E café preto.
— Certo. Logo eu trago.
Ela se afastou e foi até onde eu imaginava ser a cozinha, e quando olhei para Sophie ela tinha seus braços cruzados, encarando-me impaciente.
— O que?
Ain, você é de onde? Que sotaque lindo. Será que eu posso sentar no seu colo? — Ela imitou a ruiva, me fazendo rir. Antes que entrássemos naquele assunto, perguntei o que ela havia achado da noite anterior. Constatando que ela havia de fato se divertido, eu admiti que fora o máximo de diversão que eu tinha há um bom tempo. Ainda sim, relembrei que não poderia fazer aquilo com alguma frequência. Sabia que dentro de alguns meses ela poderia entrar legalmente em alguns locais - apesar de ainda não poder beber nada -, e talvez conversássemos sobre então.
Tomamos o nosso café da manhã com calma, e então decidimos que era melhor ir para casa. Após deixar dinheiro suficiente para a comida e gorjeta na mesa, saímos dali.
Zadornot? — Escutei o apelido que não ouvia há anos, e franzi o cenho buscando pelo dono da voz.
— Travis? — Um homem da minha idade estava parado em minha frente, entre o caminho do restaurante e do carro. Não havia mudado muito desde o ensino médio. Seu rosto não havia mudado quase nada, e continuava esguio e alto - apenas alguns centímetros menor que eu. Seus cabelos loiros, no entanto, agora tinham resquícios de um grisalho prematuro. 
— E aí, cara? Quanto tempo. Tá todo forte! — As palavras saiam de sua boca, e ainda que positivas, ainda tinham um ar superior, como se ele estivesse tirando sarro de mim. Seus olhos então foram de mim para Sophie, e pude ver seu olhar se transformar totalmente. — Caramba! E essa coisa linda aqui é?
— Sophie. — Ela respondeu mais rápido que eu, antes de complementar com detalhes desnecessários naquele momento. — Sou a namorada dele. — Era perceptível que ela não havia gostado do homem.
— Namorada? Eu sempre jurei que você era gay. Sabe, o tempo todo atrás daquele nerd, protegendo ele e tudo. Mas parabéns, hein — Ele disse, e eu usei todo meu controle para não socar o homem ali mesmo. Continuava o mesmo babaca de sempre. — Está morando aqui em Nova Orleans?
— Não. Continuo lá. Inclusive, preciso voltar, então se não se importa...
— Opa, sem problema! Bom te ver, cara. Se decidir sair daquela cidadezinha e trabalhar em algo interessante, pega meu cartão aí — Ele me entregou o pequeno papel, e eu sorri forçadamente. Então ele entrou no restaurante que estávamos antes, e eu segui caminhando até meu carro.
— Ok, eu literalmente estou fazendo planos para envenenar a comida daquele cara. O que foi isso?
Isso foi o idiota que eu e seu pai lidávamos quando éramos mais novos. — Revirei os olhos, dando partida e finalmente deixando a cidade. — Por isso não podemos fazer esse tipo de coisa. Alguém que conhece seu pai acabou de nos ver. Não podemos arriscar assim.
Ela não respondeu, provavelmente porque não havia muito o que argumentar. A viagem de volta foi silenciosa, mas o clima não estava pesado. A garota cochilou metade do tempo e acordou apenas quando eu estacionei o carro em minha garagem.

— De volta aos documentários e pizza. — Sophie brincou, enquanto entrávamos em minha casa.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora