Capítulo 10.

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Nikolai

A garota usava um short vermelho bem justo e curto, junto de uma camiseta branca com um tecido bastante fino, o que deixava evidente que ela não usava sutiã.
— Você vai jantar assim? — Eu perguntei, olhando por cima do ombro dela para ver se seu pai não estava vindo.
— Esse é meu pijama. — Ela justificou, dando de ombros. Ela estava tão gostosa naquela roupa que foi difícil não pensar nos nossos momentos escondidos em meu carro. Além disso, o cheiro maravilhoso de seu cabelo acariciava minhas narinas mesmo que ela estivesse a bons centímetros de distância.
Reunindo minha força de vontade, eu desisti da ideia de jogá-la contra a parede ali mesmo e sem respondê-la, levei as garrafas até a cozinha, entregando uma a meu amigo e ficando com a outra. Ashton já estava colocando a comida na mesa e eu me sentei enquanto ele chamava sua filha.
— Sophie, você está de pijama? — Perguntou, quando ela se sentou
— Sim, pai. Depois de jantar eu vou direto para a cama então pensei que não teria problema.
— Mas temos visitas.
— O treinador não se importa, não é? — Ela me olhou, desafiadora. Tudo que pude fazer foi dar de ombros, e meu colega desistiu da discussão. Muitas vezes Sophie ganhava de seu pai no cansaço.
— Então, Nik — Ele prosseguiu, enquanto servia nossos pratos — Como vai a moto?
Pensei na BMW R60/2 que havia conseguido por um preço relativamente amigável. Ela precisava de alguns ajustes, claro. Há dois meses vinha me empenhando em restaura-la por completo mas estive bastante ocupado nas últimas semanas, e a restauração teve um atraso.
— Já consertei a maior parte dela. Ainda tem uma peça que preciso comprar, mas só tem em outra cidade. Vou conferir de novo se realmente não encontro por aqui.
— Você comprou uma moto? — Sophie perguntou, sabendo que sua pergunta quase óbvia me lembraria de um dos momentos que ela foi até minha casa naquela semana, em uma ocasião em que seu pai chegaria tarde.
Lembrei de como ela subiu na moto, empinando a bunda para me provocar - o que levou a beijos bem quentes com a garota por cima do capô do meu carro.
— Sim. Quando estiver pronta eu trago ela aqui para que vocês a vejam em todo seu vigor. — Respondi, mantendo meu tom calmo, sem entrar no jogo dela.
Nos vinte minutos seguintes, Sophie ficou quieta enquanto Ashton contava sobre suas novas descobertas e criações na cozinha. O homem sempre teve interesses diversos, descobrindo um hobby novo a cada dois meses. Cozinhar estava sendo o mais duradouro desde então.
E tão repentinamente quanto havia começado, aquele assunto terminou e antes que pudéssemos ter alguns minutos de silêncio, Ashton pronunciou um "Ah!" exasperado, deixando claro que havia se lembrado de algo.
— Conseguiu falar com Senhorita Berger?
— Sim. Ela disse que estará livre na próxima sexta, e adoraria ir.
— Ótimo! Lembro que ela comentou que adorava animais, achei que seria uma boa escolha para...
— Voce terá um encontro com a Senhorita B? — Sophie interrompeu, a testa franzida em contraste com um sorriso que eu sabia bem - não era sincero. Para qualquer um alheio ao que acontecia ali, imaginaria que a morena estivesse apenas expressando um sincero interesse. Mas eu tinha certeza que ela deveria estar muito próxima de me xingar.
Antes que eu pudesse me explicar, Ashton acabou rindo um tanto nervosamente. Não entendi o motivo, mas não gastei muito tempo analisando aquilo.
— Não, Soph. — Ele respondeu por mim
— Certeza? Porque vi os dois conversando na sala hoje, dando risadas e tudo. Pareciam próximos. — Ela disse, uma expressão assustadoramente calma. Ashton me olhou, franzindo o cenho. Ótimo, agora eu devia explicação aos dois.
— Eu fui até a sala dela hoje para perguntar se estaria tudo bem ser acompanhante da classe comigo no passeio da próxima semana. Quando soube que o passeio seria para o zoológico e aquário Audubon, ela fez uma piada sobre como um macaco atacou seu irmão uma vez e eu ri.
A expressão no rosto dos dois suavizaram em esclarecimento, e o ar pareceu ficar bem menos pesado. Sophie ficou quieta durante o restante do jantar, e quando terminamos de comer, me ofereci para lavar as coisas enquanto Sophie arrumava a mesa.
Ele foi buscar mais cervejas e foi até a sala, procurando algo para que pudéssemos assistir.
Quando a mais nova apareceu na cozinha com o restante dos utensílios, parou ao meu lado sem graça, parecia buscar algo para dizer. Eu prestava atenção no que fazia, evitando olhar para a morena.
Eu sabia que ela não pediria desculpas pela desconfiança, e seria cansativo demais exigir dela aquilo. Ainda sim, seu silêncio falava mais do que qualquer outra coisa que poderia sair de sua boca agora. Ela sabia que tinha se enganado.
— Amanhã meu pai tem um curso de culinária. Das 17 às 20. — Ela finalmente disse, chegando mais perto.
— Então eu acho que nos vemos na minha casa? — Respondi baixo, e ela sorriu satisfeita. Mandando um beijo no ar, disse um boa noite e se retirou.
Após terminar de lavar a louça e assistir um pouco de esporte com Ashton, retornei a minha casa.
Deixei o casaco na entrada e me sentei no sofá por uns instantes. O local era simples, mas ajeitado. A porta dava direto para a sala que era espaçosa, com um sofá de quatro lugares em frente a um de dois, uma mesa de centro de madeira entre eles e uma TV na parede à esquerda.
Decidi ficar por ali, assistindo um programa qualquer enquanto pensava sobre Sophie e no que aconteceria se Ashton descobrisse tudo.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora