Capítulo 3.

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Sophie

Naquela sexta feira eu havia acordado de bom humor, pois a festa era naquela noite, e festas sempre me deixavam animada. Mas além disso, teria treino e eu usaria um short específico para o que tinha em mente.
Já tinha planejado tudo: além de desfilar pelo campo em sua frente, eu fingiria não conseguir jogar tão bem para que ele ficasse depois do treino para me relembrar alguns truques. Enquanto eu passava tudo novamente por minha cabeça, a voz de Sienna atrapalhou meus pensamentos.
— ...o que você acha?
Sem ter prestado atenção no início de sua história, eu apenas assenti com a cabeça e coloquei a mão em seu ombro em forma de consolo.
— Deixe isso pra lá, amanhã na festa terão varias meninas e você poderá esquecer dela.
Ela me encarou com uma expressão de dúvida, e então socou meu braço.
— Ai! Você ficou louca?
— Você não prestou atenção em nenhuma palavra do que eu disse! — A morena reclamou — Falei que está indo tudo bem comigo e Amanda, e vou levá-la amanhã na festa!
Acabei rindo enquanto esfregava o braço dolorido, antes de me desculpar e ser mais uma vez questionada sobre o que estava ocupando minha mente. Então, a expressão no rosto de Sienna suavizou como se ela tivesse entendido tudo.
— Ah meu Deus! Você está pensando em transar com o Mat!
— O qu...não! Sienna, fala mais baixo! — Sussurrei com força, revirando os olhos — Não é nada disso! Eu nem acho que estamos nesse estágio.
— Vocês estão juntos há um ano e meio, Sophie! Me surpreende que ainda não tenham feito nada.
— Quem disse que eu não fiz nada? — Arqueei uma sobrancelha, dando ênfase na palavra "nada" — Não existe só aquela coisa. Você sabe disso melhor que eu.
— Cachorra! — Ela disse alto e acompanhado de um sorriso divertido. Foi o último comentário dela. Ótimo, pelo menos consegui distraí-la e assim, ela ficaria pelo menos uns dois dias sem perguntar mais nada.

Os minutos daquele dia se arrastaram de uma maneira agonizante. Quando finalmente os períodos acabaram, peguei minhas coisas e fui para o vestiário feminino. Tinha avisado Sienna e Mateo que aquele treino demoraria e que não precisavam me esperar. Enquanto me trocava, vi algumas das garotas encarar meu short e eu sorri em resposta.
— Está tentando tomar uma suspensão, Fortescue? — Ouvi Hellen dizer, enquanto amarrava sua chuteira.
— Era o único shorts limpo que eu tinha em casa — Justifiquei, sem me aplicar muito para a mentira parecer plausível. Escutamos o apito e fomos para o lado de fora, onde fui recebida por um olhar surpreso e em seguida irritado de Nikolai. Ele estava com seu uniforme de sempre: uma calça moletom, uma camiseta justa na medida certa e o cabelo castanho, na altura dos ombros, preso em um rabo de cavalo. Pude perceber que ele usou de todo seu auto controle para ignorar aquilo e não gritar comigo ali mesmo. Após nos dividir em times, começamos o treino. Como havia planejado, a toda oportunidade que eu tinha, passava na frente do professor.
Quando minha equipe venceu pela terceira vez, Nik nos colocou em fila para bater falta. Nesse momento, abusei de todo meu talento como atriz para fingir não conseguir chutar direito.
— O que foi, Fortescue, esse short apertado não deixa o sangue circular na sua perna? — Helen provocou.
— E ainda sim eu chuto melhor que você.
O apito de Nikolai nos interrompeu antes da briga escalar, e então ele mandou todas para o chuveiro. Esperei que saíssem de campo e me aproximei do mais velho.
— Eu disse todas, Sophie. Isso inclui você.
— Eu só ia te pedir para me ajudar a treinar um pouco meu chute.
— Sabe de uma coisa? Não acredito que você tenha esquecido como se chuta.
— Bom, eu não estou conseguindo! Agora você pode ajudar sua melhor jogadora ou mandá-la para o banho e a observar piorar a cada jogo.
Ele suspirou, e eu sabia que havia ganhado.
— Já passamos por isso, Sophie. Você precisa girar o quadril para ter impulso ao chutar.
Ele se aproximou devagar e, de frente para mim, colocou as mãos em minha cintura. Comecei a respirar mais pesado, olhando para ele. Com firmeza e ainda sim de maneira delicada, ele girou meu quadril como havia feito na primeira vez que me ensinou aquilo. Eu coloquei as mãos por cima de seus braços e percebi que ele evitava olhar em meus olhos.
— Então você vira assim, e coloca a força na perna.
— Entendi. Vou tentar.
Ele se afastou e eu me posicionei, mas ao chutar errei propositalmente uma vez mais.
— Por que está agindo assim, Sophie? — Nikolai perguntou, se aproximando mais uma vez mas dessa vez, sem medo de me olhar nos olhos.
— Eu...não sei. — Admiti, encarando os olhos escuros do mais velho. Ele era uns 20 centímetros mais alto, e ficava um misto de sexy e intimidador me encarando daquela forma.
— É claro que não sabe... — Ele disse, irritado, e buscou a bola. — Já chega por hoje. Você pode treinar sozinha nas suas horas livres. Agora vai para o chuveiro. — E antes que eu pudesse o fazer, ele chegou perto mais uma vez — Você não precisa disso.
Eu sabia que ele se referia a meu short, e de repente eu me senti infantil. Andando até o vestiário, tentei entender qual era o efeito que ele tinha sob mim. Eu estava agindo ainda mais impulsivamente do que o costume.

••

— Vamos logo, você está uma gostosa! — Sienna disse, jogada em sua cama enquanto eu me olhava no espelho uma vez mais. Havia tentado algumas roupas mas acabei optando por uma calça skinny preta e um top vinho com um decote que davam bastante destaque aos meus seios. Finalizei tudo com um all star preto e Sienna me ajudou com a maquiagem. Ela era muito boa com aquilo.
Encarei minha amiga: o vestido justo que ela usava fazia seu corpo parecer saído de um catálogo de lingerie da Victoria's Secret, e o contraste que o tecido branco fazia em seu tom de pele escuro era incrível.
— Se desistir da carreira de dançarina, você sabe que consegue ser modelo, né?
Ela riu, concordando, e então pegamos nossas bolsas e saímos. A mãe de Sienna estava viajando naquele final de semana, o que tornou uma tarefa fácil escapar aquela noite e encontrar Mateo nos esperando na entrada com seu carro.
A casa de Michelle era perto dali, não demoramos mais que 15 minutos. Mat estacionou no quarteirão e entramos no local onde já havia um número surpreendente de pessoas.
Após pouco tempo dentro da casa, Sienna apareceu com bebidas e uma garota.
— Mat, Soph, essa aqui é a Amanda — Ela apresentou, enquanto nos entregava copos com alguma bebida alcoólica que eu não sabia distinguir.
— É um prazer te conhecer, Amanda! Sienna não para de falar de você. — Mateo a cumprimentou, e eu concordei, dando um sorriso caloroso como cumprimento.
Após algum tempo e um certo número de copos daquela bebida misteriosa, estava na pista de dança com Mateo, sentindo tudo muito intensamente. A música, o calor, a animação.
— Vou ali fora com o Avan, já volto. — Ele disse em meu ouvido, e eu sabia que iria fumar.
Procurei por minha amiga e sua quase namorada, mas não as encontrei em lugar nenhum. Desisti então de dançar, já que estava sozinha, e fui até a mesa tomar mais alguns copos da bebida que agora já até parecia mais agradável ao meu paladar.
Após alguns minutos que pareceram horas, comecei a ficar entediada e decidi ir embora. Do lado de fora da casa, peguei meu celular e digitei o número da primeira pessoa que veio em minha cabeça.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora