Capítulo 24.

399 28 3
                                    

Nikolai

— Não.
— Niko! — A voz de Asher soava frustrada através do celular.
— Eu não vou nessa reunião idiota.
— Ei, fui eu que organizei.
— Eu sei.
— Ouch. Vai, cara, não quero aparecer por lá sozinho
— Asher, eu nem posso ir. Preciso...lavar um monte de louça.
— Tá, agora você só está criando desculpas.
— Boa reunião pra você.
— Espera! Tá, vamos fazer assim: você fica meia hora. Se não gostar, vai embora. — Eu pensei um pouco e no fim soltei o ar, concordando. — Mas por favor, não vai de moletom

••

Parado na frente da casa de Asher eu toquei a campainha. Quando Sophie abriu, arqueou as sobrancelhas.
— Você está muito gato. — Ela sussurrou, e eu sorri agradecido enquanto arrumava a camiseta preta que usava. Ela estava um pouco mais justa do que eu costumava usar, e combinava com minha calça jeans escura.
— Niko! Me ajude aqui — Asher pediu, enquanto eu entrava. Então, me deparei com o homem segurando duas gravatas diferentes. — Qual dessas me faz parecer bem sucedido?
— E eu sei lá? Tá mesmo perguntando isso pra mim?
— A preta, pai. — Sophie interviu, rindo da situação. Asher estava com uma roupa formal - como ele sempre usava na escola. Depois de vestir a gravata e se ajeitar na frente do espelho, disse que poderíamos ir.

Fomos para a escola em seu carro, e não demoramos mais do que cinco minutos para chegar. O local estava escuro, com a exceção de uma luz ao fundo do corredor que transparecia através da porta de vidro na entrada do colégio. Estávamos alguns minutos atrasados, o que havia deixado Asher tenso. Eu estava tranquilo pois imaginava que a maioria sequer viria.

Para minha surpresa, pelo menos 90% de nossa turma estava presente no ginásio. A iluminação era boa, havia uma mesa com diversas comidas e bebidas e uma música estava tocando em volume bom o suficiente para manter-se uma conversa.
Pude observar algumas pessoas reunidas de acordo com os grupinhos que pertenciam quando mais novos, e aquilo me deu uma sensação ruim de nostalgia. Tudo bem, apenas fique quieto enquanto Asher conversa e logo isso acaba.
— Eu vou comer. — Avisei, e meu amigo revirou os olhos provavelmente incomodado com minha falta de vontade de socializar. No entanto, antes que pudéssemos alcançar a mesa, três mulheres pararam em nossa frente.
— Ashton? Nikolai? — Perguntou uma delas, a que estava no centro. Seu rosto era bastante familiar mas não consegui me lembrar exatamente quem era. Ashton se lembrou.
— Heather! Como está? — Ele apertou a mão dela com energia, e eu apenas inclinei a cabeça. — Angela, Nikki — Ele cumprimentou as outras duas.
— Estou ótima! — Ela me olhou com mais atenção — E vocês também, ao que parece.
Heather era loira e alta, os olhos eram de uma bonita cor de mel. Angela tinha os olhos escuros e puxados, além de um cabelo preto e liso devido sua descendência asiática. Nikki era a mais baixa e a que tinha um corpo melhor...desenvolvido, por falta de melhor palavra. Era uma ruiva cheia de sardas e de olho azul.
— Nossa! Eu só te reconheci por estar junto ao Asher. Você mudou tanto! — Heather continuou, direcionando a a palavra a mim.
— Fiquei mais alto. — Disse, meio seco mas sem necessariamente ser rude. Ela decidiu encarar como piada e deu risada.
— Pelo menos ele agora fala — Ela falou para Asher, e me incomodou um pouco ser tratado em terceira pessoa.
— E como vão as coisas? — O homem ao meu lado perguntou, notando meu incômodo e tentando mudar de assunto.
— Ah, estão ótimas! Estou trabalhado em uma empresa enorme de Marketing, em Seattle. Acabei de ser promovida
— Parabéns! — Ele disse, e eu sabia que estava sendo sincero. Eu me mantive quieto pois sabia que não conseguiria o mesmo. — E você está casada? Tem filhos?
— Não. Ainda não encontrei um cara legal. — Ela sorriu com aqueles dentes brancos demais, e me olhou diretamente — Mas estou à procura. Sem necessariamente buscar algo sério.
— Então, Angela — Eu desviei o assunto para a morena — E você?
Ela pareceu surpresa de ser direcionada a pergunta, provavelmente porque Heather monopolizava toda a conversa.
— Ah, eu acabei de abrir meu próprio negócio. — Ela sorriu, parecia satisfeita consigo mesma. — Uma confeitaria em Nova Orleans. E estou noiva, sem filhos.
— Que legal. Nikki?
— Eu? — A ruiva sorriu — Estou casada. Conheci meu marido na faculdade de direito, mas depois que eu casei ele achou melhor que eu parasse de praticar pra ficar em casa e cuidar dos nossos filhos. Temos dois.
Olhando para o corpo dela, jamais imaginaria que ela tivesse tido um filho sequer.
— Você não sente falta de trabalhar? — Asher perguntou justamente o que eu estava me preparando para questionar.
— Sinceramente? Não — Ela riu, dando de ombros — Eu passo o dia com meus filhos pequenos, fazendo varias coisas que eu gosto... Era muita pressão antes.
— Bem, é o que importa. — Asher concluiu.
— Mas e vocês? — Heather voltou a falar.
— Eu tenho uma filha de 17 anos. Na verdade, tive ela com Annelise.
— Mentira! Vocês estão juntos depois de todos esses anos? E ela, não vem hoje?
— Na verdade, ela faleceu há uns anos atrás.
— Oh, eu sinto muito. — Ela diminuiu o tom de voz, e eu pude perceber que ela estava sendo honesta. Talvez todas aquelas garotas realmente tivessem crescido e mudado.
— Tudo bem. Já faz um tempo. — Ashton mentiu.
— E você? — Devagar, Heather retomou o tom interessado ao se direcionar a mim. — Há alguma competição para mim? — Eu arqueei a sobrancelha, e então ela riu — Brincadeirinha. — Assegurou, mas todos ali sabíamos que ela não estava só brincando.
— Nikolai está solteiro. — Asher me interrompeu, respondendo por mim. Eu dei um sorriso forçado e coloquei as mãos nos bolsos. Pensei em como preferia estar com Sophie naquele momento.
— Nikolai está com fome. — Eu disse, aproveitando da forma que falavam de mim na terceira pessoa — Com licença. — Pedi, andando até a mesa de comidas. Alguns minutos depois, meu amigo se aproximou.
— Eu sei que você tem toda uma raiva guardado dentro de você, mas Heather estava te dando o maior mole. E mesmo depois desses anos, ela continua uma das mais bonitas. Se anime. Talvez saia daqui acompanhado hoje!
— Não é minha intenção aqui hoje. Inclusive, já estamos aqui há quinze minutos. Mais quinze e eu...
— Zadornot! — Escutei a voz familiar pela segunda vez em menos de um mês. Congelei momentaneamente, enquanto Travis se aproximava com outros dois homens. Não me lembrava dos nomes, mas sabia que começavam com J. Enquanto Travis havia envelhecido relativamente bem, os outros pareciam 5 anos mais velhos do que realmente eram. Um deles estava bastante acima do peso e o outro tinha entradas bem grandes para alguém no início de seus 30 anos. — Ashes!
— Travis. — Asher cumprimentou — John. — Apertou a mão do mais gordo, em seguida virando-se para o outro — Jess.
Eu repeti meu comportamento, cumprimentando apenas com um inclinar de cabeça.
— Bom te ver novamente! — Travis disse para mim, mas já que aquilo era, afinal, um reencontro, Asher não estranhou o uso das palavras. — Foi você que organizou isso tudo? — Ele perguntou ao meu amigo.
— Sim — Respondeu, orgulhoso. Asher não estava encolhido ou travado como ficava quando éramos mais novos. Na verdade, conversava com Travis com uma tranquilidade como se fosse de fato um colega próximo. — Sou o diretor daqui, agora.
— Que coragem. Não imaginei que você continuaria aqui depois do ensino médio que teve
— É, bem. Eu acho que quis me certificar de que não seria mais permitido comportamento como o de vocês naquela época.
— Águas passadas, meu amigo! — Ele disse, como se fosse Asher que o devesse desculpas. Quis rir da sua audácia mas o incomodo era maior. — E a vida, como vai? Namoradas? O Nikol...
— Não. — Eu respondi com rispidez. Travis parou e me encarou momentaneamente confuso, mas dançou conforme a música.
— Nossa, ia falar agora que você provavelmente tinha uma. Olha só como você tá fortão! — Ele levou para o lado da brincadeira, e não fez mais menção alguma a garota que havia visto comigo. — E você, Asher? Ainda com a loira?
— Nos casamos, porém ela faleceu anos atrás.
— Poxa, cara, sinto muito. — Ele colocou a mão no ombro de meu amigo, como se aquilo o ajudasse a dar ênfase em sua empatia. — Vocês faziam um casal bonito. Eu sempre imaginei que teriam filhos e ficariam juntos para sempre.
— Nós tivemos uma filha. Ela tem 17 anos. Estuda aqui, na verdade!
— Deve ser tão bonita quanto a mãe. — Ele disse, e estranhei não encontrar um traço de maldade ou segunda intenção em sua frase. A morte de Annelise parecia realmente ter aflorado sua empatia.
— E é. É meu orgulho. — Asher sorriu largo — Primeira da sala, capitã do time de futebol...espera, tem uma foto aqui
Asher nos chamou para acompanhar, e eu respirei fundo a fim de não transparecer nervosismo. John e Jess ficaram na mesa de comida, sem se importar muito com a conversa. Ele nos levou até um armário com portas de vidro que ficava logo ao lado da porta do ginásio. Era onde ficavam fotos dos times e clubes, troféus e afins.
Ele apontou para a foto que ficava exposta no meio. Lá havia todo o time de futebol feminino. Sophie, como capitã, estava no centro da foto.
— Essa é a Sophie? — Travis perguntou, nos olhando como se ele não tivesse acabado de conectar as coisas. Mas eu soube que sim pelo que falou em seguida — Me parece familiar. — E depois de uma pausa, sorriu — Deve ser porque é tão parecida com você — Constatou, direcionando a palavra a Asher, antes de mudar para mim — E você, o que faz na foto?

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora