Capítulo 4.

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Nikolai

Acordei com o toque alto do celular e chequei o horário: 1 a.m. Quem me ligaria aquela hora? Quando vi o nome do contato na tela atendi o celular o mais rápido possível. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que talvez Sophie houvesse sofrido algum acidente.

— Alô? Sophie? — Os poucos segundos que ela demorou para me responder me deixaram ainda mais preocupado — Sophie!?
— Oi. To aqui, to aqui — Pude escutar sua voz arrastada e não demorou para perceber sua embriaguez.
— Onde você está? Está tudo bem?
— Pfff, claro que está! Eu to aqui ué, na festa.
— Que festa, Sophie? — Perguntei, já levantando e procurando uma roupa enquanto tentava desvendar onde a garota estava.
— Na festa da Michelle. Eu quero ir embora mas o Mateo sumiu.
— Michelle Gibbons? — A mais nova murmurou um "Uhum" — Fica aí que eu vou te buscar.

Assim que desliguei o telefone, peguei minhas chaves e sai de casa com uma calça moletom sem nem conseguir encontrar uma camisa. Por ser um bairro pequeno, muitos dali eram conhecidos e eu já sabia onde Michelle morava, o que foi um alívio.
Ao estacionar na frente do local, pude ver luzes piscando por todas as janelas e portas, adolescentes bêbados em frente à casa, e no meio de tudo isso estava Sophie, me esperando em frente à caixa de correio. Saí do carro esperando que todos ali estivessem bêbados demais para lembrar de me ver ali e a levei até a porta do passageiro, colocando-a para dentro do veículo.
— Você é muito...uau. — Ela disse, passando a mão em meu peitoral, e eu ignorei enquanto colocava o cinto na garota. Voltei ao meu banco e comecei a dirigir.
— O que você pensa que está fazendo!? Olha seu estado!
— Iiihh, eu já fiquei assim ó — Ela deu risada — Tantas vezes.
— Cadê sua amiga? E seu namorado?
— Sumiram. Eles me deixaram sozinha e aí ficou tudo chato.
— Vou te levar pra casa.
— Não! — Ela pediu, quase gritando. — Por favor, não! Meu pai nunca mais vai me deixar sair de casa!
— Sophie, eu não...
— Por favor, Nik!

Suspirando, eu mudei a rota e dirigi em direção a minha casa. Já dentro da garagem eu ajudei a mais nova a sair do carro e a levei para dentro. Ela já havia visitado o local algumas vezes quando era mais nova, mas duvidava de que se lembraria de muita coisa. Era mais comum que eu fosse a casa de Asher do que ele na minha.
Apesar de pequena e simples, minha casa estava sempre
organizada. Por isso, quando Sophie chutou seus sapatos e meias no chão da sala eu quase tive um ataque.
— Você vai me dar um banho gelado agora? — Ela me observava enquanto eu colocava seus pertences em um canto.
— Isso não funciona. Nem café. — Falei, estendendo a mão para ela e, assim que ela segurou a minha, fiz com que levantasse e me acompanhasse até meu quarto.
— Hmm, e o que funciona então? — Perguntou, em tom malicioso ao ver para onde eu a levava. Achei melhor poupa-la de uma resposta mal educada.
— Fique aí. Eu já volto.
Na cozinha, enchi um copo de água com açúcar, um outro copo de água gelada e peguei um comprimido. Levei tudo até o quarto, onde encontrei as roupas de Sophie largadas no chão. Quando meu olhar encontrou a garota, ela estava vestindo uma camiseta minha.
— Aqui, tome. — Entreguei primeiro a água com açúcar. Apesar de contestar, acabou tomando tudo. Fez o mesmo com o comprimido e a água gelada. Ela então se deitou e, em menos de cinco minutos, estava apagada.
Peguei um lençol e fui dormir no sofá, achando melhor manter uma distância saudável entre mim e a menina que usava somente uma camiseta.

Sophie

Acordei com o quarto girando um pouco, e primeiro estranhei o local. Aos poucos algumas memórias da noite anterior vieram à tona e me lembrei de onde estava. Sentei na cama e percebi que minha cabeça não doía, só sentia muita fome e um estômago não tão feliz.
Quando levantei, percebi que usava apenas uma camiseta por cima da lingerie e me questionei por um momento se havia feito algo demais. Não, Nik não faria nada comigo bêbada, pensei.

Na cozinha, encontrei a mesa com um prato cheio de panquecas e ouvi meu estômago roncar. Sentado, encontrei o mais velho com uma calça azul de moletom e uma regata cinza que destacava muito bem seus braços. Seu cabelo não estava preso como de costume, e parecia um misto perfeito de bagunçado e ajeitado.
— Bom dia. — Nik cumprimentou, bebericando seu café preto e me encarando. Não sabia dizer se estava bravo ou apenas sério. — Como se sente?
— Melhor do que eu esperava. O que voce me deu ontem?
— Água, açúcar e um remédio para náusea e dor de cabeça.
Eu ri, sentando-me e me servindo com um pouco de café com leite e panquecas.
— Se fosse algum cara da minha idade não perderia a chance de me dar um banho.
— Bem, então espero que a próxima vez que você ficar naquele estado não ligue para alguém da sua idade. — Ele disse, cruzando os braços. Ah, sim. Ele estava bravo.
— Você que me trocou?
— Não. Você decidiu arrumar uma roupa mais confortável para dormir.
— Hm. — Tentei desconversar. Se continuássemos falando sobre os meus erros da noite passada, Nikolai iria ficar mais irritado. — Bem, hoje é sábado e meu pai acha que estou na Sienna. Temos muito tempo para aproveitar.
— Eu vou te levar para casa assim que terminar seu café da manhã.
— Qual é, Nik. Não quero ir para casa. — Protestei, enquanto enchia minhas panquecas de Xarope de Maple. — E se você me levar meu pai vai saber que algo está errado.
— Sophie, você não pode passar o dia aqui.
— Por que? Tem um compromisso?
— Não é isso, eu...
— Então pronto! Além do mais, vai ser interessante saber o que você faz no seu tempo livre.
Ele me encarou sem saber o que dizer, e então pareceu desistir. Assim que terminei de comer a maior parte das panquecas, ajudei a arrumar a mesa.
Ainda em silêncio, fomos para o sofá.

— E então? O que o misterioso Nikolai faz em seu tempo livre?
— Nada específico, eu acho. Eu assisto TV, conserto alguma coisa. Saio para o bar à noite. — Encarei-o surpresa por um instante — Não me olha assim.
— E você trás alguém pra cá?
— Não vou discutir isso com você.
— Vou interpretar isso como um sim. — Falei, desanimada. Ele suspirou pesado antes de me encarar.
— O que está tentando fazer aqui, Sophie?
— Eu não sei, tá legal? — Admiti, exasperada — Eu só...Eu não consigo tirar você da cabeça desde aquele dia no vestiário. E eu sei que você também não. — Ele continuava me olhando, e eu não sabia dizer o que se passava em sua cabeça. — Eu não estou dizendo que estou apaixonada por você, só que tem alguma coisa acontecendo aqui e você sabe.
— Seriamos errados por tantos motivos. — Ele finalmente disse, com pesar na voz — Eu sou seu professor! Você só tem 17 anos, e o seu pai...O seu pai me mataria. Além disso, você tem namorado. Não pode fazer isso com ele.
— Eu sei — Grunhi quando Mateo foi mencionado. Estava me sentindo culpada por continuar com ele — Eu nem sinto mais nada por ele. E eu sei que é errado. — Cobri o rosto com a mão — Toda vez que eu beijo ele, eu penso em você. Quando eu estou com ele, eu quero estar com você.

Antes que eu pudesse continuar, senti suas mãos nas minhas, retirando-as com delicadeza do meu rosto e me fazendo olhar em seus olhos.

Sofiya... — Ele murmurou, o sotaque Russo carregado. E, para minha surpresa, ele se inclinou e me deu um beijo devagar.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora