Capítulo 23.

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Nikolai

O beijo não durou muito, o que não me surpreendeu. Claro que não tinha clima para muito mais que aquilo. Eu me ajeitei, deitando e a chamando para se aproximar. Ela o fez, apoiando a cabeça em meu peitoral e colocando um dos braços ao redor do meu corpo. Devagar, fiz um carinho em seu cabelo. Não sabia o que dizer. Aquela situação era estranha o suficiente com aquele silêncio, tinha medo de dizer algo e piorar tudo.
— Quando você soube que gostava dela? — Ela quebrou o silêncio, e eu franzi o cenho
— Você tem certeza que quer falar sobre isso?
— Eu sei tão pouco dela. — Ela admitiu, encolhendo os ombros — Pode me contar? — Ela levantou a cabeça, apoiando o queixo em meu peito e me olhando. Eu sabia que a morte de Annelise doía muito em Asher, mas percebi ali como fazia falta para Sophie uma conversa sobre sua mãe.
Respirei fundo antes de começar. Eu havia falado a verdade: Sophie ocupava minha mente, e sempre que eu estava perto da garota não pensava em ninguém além dela. Ainda sim, falar sobre Anne não era muito fácil.
— Para ser sincero? Desde que a vi pela primeira vez. Estava no laboratório de ciências, quando de repente a menina nova entrou super atrasada e atrapalhada. Eu era o único sem dupla, então o professor pediu que ela se juntasse a mim. Depois soubemos que tínhamos mais três aulas juntos, e sabe-se lá porquê ela decidiu se sentar comigo nessas aulas também. Sua mãe gostava de confronto, e acho que quando todos começaram a dizer que ela estava fazendo amizade com a pessoa errada, que deveria estar em outros grupos, ela decidiu fazer o exato oposto. No intervalo, estava sentado junto à Asher quando ela se sentou também. Pela primeira vez, ele ficou quieto por mais de 5 minutos.
— Ele também se apaixonou na primeira vez que a viu?
Eu assenti, recordando do olhar do amigo.
— Seu pai, no entanto, era péssimo em esconder.
Ela riu fraco, e tomou um tempo para absorver as informações. Devagar, começou a desenhar círculos imaginários em meu peito antes de fazer mais perguntas.
— Ela sabia que você gostava dela?
— Não. Nunca falamos disso.
Sophie franziu o cenho.
— Por que?
— Como assim? — Ri um pouco, ela parecia até incomodada pela minha ação.
— Por que nunca disse nada?
— Ah, eu não queria ser rejeitado. Ela gostava do seu pai.
Após segundos em silêncio, ela se apoiou na cama pelos cotovelos e me encarou, analisando minha expressão.
— Isso não parece você.
— O que?
— Medo.
Eu me senti nu - subjetivamente, já que de fato ainda estava coberto apenas pela toalha - pela forma como ela parecia me enxergar.
— Eu também tenho medo.
— Não assim. Não disso.
— Como pode saber quais medos eu tenho?
— Eu sou uma boa observadora. Você até fez isso por medo, mas...não da rejeição.
— Ah, agora vai me explicar o motivo do que eu fiz? — Eu brinquei, mas sabia que não estava sendo honesto sobre aquilo.
— Ela gostava de você também. Não?
— Sophie, ela nunca diss...
— Não disse, mas você sabia. Ela gostava de você também, por isso você nunca contou. Porque sabia que ela retribuiria. — Eu me levantei, balançando a cabeça. E Asher não me perdoaria, completei mentalmente. Andei até meu armário para me trocar, apenas para não precisar encara-la. — Obrigada.
— Obrigada? — Perguntei, confuso. Após vestir uma cueca e bermuda, me sentei a seu lado.
— Por deixar meus pais ficarem juntos. E por me contar mais sobre minha mãe. Apesar de ser uma situação estranha...é bom saber dela.
Ela me deu um beijo de leve e se deitou em meu travesseiro, colocando os pés em meu colo. Comecei uma massagem devagar, e ela suspirou fechando os olhos. Alguns minutos depois seu rosto mudou de calmo para tenso.
— Tudo bem? — Perguntei, e ela abriu os olhos encarando o teto.
— Será que foi por isso que ela...? Porque eu aconteci, e aí ela precisou ficar com meu pai, e ela...
Balancei a cabeça, não gostando de onde seu pensamento ia. Me deitei a seu lado.
— Sua mãe não fazia nada que não quisesse. Ela amava muito seu pai, e amava você incondicionalmente. Ela só estava doente. Não teve outro motivo para o que aconteceu. E você, nem de longe, poderia ser um.
Ficamos ali mais um tempo, enquanto ela absorvia tudo o que havia aprendido naquela noite.
— Preciso ir. Já deu meu horário.
— Sim. Nos vemos amanhã.
— Posso vir aqui no sábado?
— Claro!

E após mais alguns beijos, a garota foi até sua casa.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora