Capitulo 26.

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Sophie

Eu franzi o cenho por longos segundos, tentando entende-lo. No fim, desisti e achei melhor perguntar o que raios ele queria dizer com aquilo.
— Do que está falando?
— Nós. Isso. — Ele disse, seco, mas eu podia perceber que ele estava chateado — Não podemos continuar juntos.
— E você decidiu isso quando? — Perguntei, incomodada pela forma que ele dizia. Como um aviso. — Porque até onde eu sei, não existe só você nessa relação para que você me avise que não podemos mais ficar juntos.
— Sophie, não é isso. Mas eu percebi que não está certo. Não podemos fazer isso com seu pai...
— Ah meu Deus! — Disparei, irritada, e me levantei — Não acredito que está mesmo fazendo isso. Terminando comigo por conta do seu amiguinho.
— Soph — Ele se levantou também, ficando de frente para mim — Eu sei que você está chateada, mas tente entender que...
— Tentar entender? Claro, porque eu sou uma criança que não entende nada né. Sou tão ingênua e imatura. — Ironizei, cruzando os braços — Você não pareceu se importar com isso quando estava me fodendo
— Não fale assim, não é...
— Não é o que?
— Não é certo o que estamos fazendo
— Para quem? Porque pra mim é muito certo. E pra você também.
— Sophie, o seu pai...
— O que tem o meu pai, Nikolai? Ele não faz parte dessa relação.
— Ele é seu pai e meu melhor amigo. Ele faz parte disso sim.
— Quer saber, eu não vou discutir com você se quiser terminar tudo, não preciso implorar. Mas faça isso por você, e não porque acha que meu pai não conseguiria lidar com isso. Se quiser acabar tudo porque cansou, tá, você que sabe. Mas sabemos o que realmente acontece. Você usa a amizade do meu pai como muleta pra se afastar de um amor forte que possa te machucar do jeito que aconteceu quando era criança. E cara, eu sinto muito que seus pais morreram daquele jeito infeliz e que você ficou sozinho por muito tempo. Mas a vida é assim: cheia de riscos e tristezas. E se você não consegue lidar com isso talvez não seja o mais maduro da relação.

As palavras saiam de minha boca com velocidade e rispidez. Eu ofegava por falar tanto sem respirar e provavelmente estava vermelha por conta da raiva. Nikolai me encarou quieto, provavelmente sem saber o que responder. Eu revirei os olhos e saí dali, caminhando até a casa de Sienna para finalmente ter a raiva substituída pela tristeza.

••

Acabei dormindo na casa de Sienna - desta vez de verdade. De manhã, ela insistiu que eu poderia ficar ali e que ela ajudaria a dar uma desculpa a meu pai, dizendo que eu estava passando mal, mas eu achei melhor ir à aula. Afinal, eu me recusava a agir como se meu mundo tivesse acabado. Sim, eu estava inchada por chorar grande parte da noite anterior, e minha falta de vontade de aplicar maquiagem resultou em uma cara de quem estava genuinamente doente. Mesmo assim não ficaria o dia em casa como se estivesse de luto. Eu era melhor que aquilo. Então, engolindo minha tristeza e raiva, segui para o colégio junto de minha melhor amiga.
Chegamos um pouco mais cedo, e enquanto Sienna decidiu ficar em frente aos armários esperando Samantha, eu achei melhor já ir para a sala de aula. Perto da porta, pude ouvir a voz da Senhorita B falando com alguém no telefone. Resolvi esperar para não interrompê-la, mas acabei escutando parte.

— Eu sei, mas você devia contar a ela. (...) Eu não acho que ela vá ficar tão chateada. (...) Querido, eu sei, mas a Sophie tem o direito de saber que estamos juntos...

Arregalei os olhos ao ouvir meu nome ser mencionado e imediatamente minha mente conectou os pontos. É claro! Nik estava interessado nela!

— Tudo bem, veja o que ele quer, nos falamos depois.

— Eu sabia! — Falei, alto o suficiente para assusta-lá porém não para chamar atenção indesejada de pessoas do lado de fora. — Eu sabia que vocês estavam juntos! Não acredito que ele mentiu pra mim?
— Sophie! — Amy se levantou bruscamente pela surpresa — Queríamos contar. Quer dizer, ele queria, mas não sabia como iria reagir
— E como eu deveria reagir? Inacreditável!
— Ele estava com medo de que você achasse que ele está substituindo sua mãe 
— Ele te contou da minha mãe!?
— Claro. Foi horrível o que aconteceu com ela. Mas eu nunca tentaria tomar o lugar dela, você não precisa nem pensar em mim como figura materna, só...uma amiga.
— Espera, o que?
— Asher apenas não queria que você pensasse que ele estava apagando a imagem de Annelise.
— Meu pai?
— Ahm...claro.
— Você está namorando com o meu pai?
— Desculpa, estou perdida. Não é por isso que está brava?
— Não! — Eu disse, um misto de alívio e humor em minha voz — Quer dizer — Pensei um pouco. Como explicar o que havia realmente pensado da situação? — Eu estou brava que ele mentiu para mim. Mas...feliz que vocês estão juntos. Isso é...isso é uma notícia muito boa. Não acredito que ele achou que eu ficaria brava?
Pude ver em Amy o mesmo alívio e então ela sorriu largo.
— Bem, me deixa muito feliz que você nos aprova.
— Senhorita B, eu não tenho que aprovar nada. Mas meu pai está muito mais feliz nos últimos tempos e agora que eu finalmente sei o motivo, sou agradecida a você.
Ela me deu um abraço rápido, como se tivesse medo de passar de algum limite.
— Eu vou ao banheiro rapidinho antes de começar a aula. — Ela avisou enquanto eu deixava meus livros na mesa. Então, saí da sala rapidamente para encontrar Sienna - que continuava parada de frente a seu armário.
— Sienna! Preciso te contar uma coisa! — Falei, animada. Por um momento, Nikolai até havia saído de minha mente. Antes que eu pudesse contar a ela sobre meu pai, Mateo se aproximou.
— E aí, gata.
— Olha, eu não estou com paciência pra você agora.
— Eu só queria te contar uma história interessante que eu ouvi sábado. — Ele falou, com uma pose pomposa que me irritou. Não me lembrava se ele sempre fora daquele jeito e eu apenas não notava, ou se ele virou um completo imbecil. — Eu tinha esquecido uma das lentes da minha câmera no laboratório e como ainda tinha a chave reserva de quando eu fazia o jornal, resolvi vir buscar. Claro, eu não sabia que teria uma reunião entre os colegas de classe do diretor! E então eu tive que me esconder, sabe, para que o diretor não me visse ali. Agora, eu escutei uma conversa inusitada entre o treinador e um colega. Algo sobre...estar namorando uma aluna. — Ele sorriu com aqueles dentes brancos demais, e eu arrepiei até a espinha. Ele sabia. Claro que sabia que era eu, ou não estaria me dizendo tudo aquilo.
— O que temos a ver com isso? — Sienna interviu, tentando me ajudar.
— Bem, me inspirei em Sophie sobre contar ao diretor se algo que eu achasse errado estivesse acontecendo — Claro que ele se referia ao fato de eu contar a meu pai que, de fato, ele havia vazado aquele vídeo — E...ah, olha só! — Ele olhou para algo atrás de mim, e quando eu virei vi meu pai caminhando a passos pesados, antes de gritar.

— Você! — Ele apontou para Nikolai, que estava prestes a entrar em uma das salas. Com toda a conversa com Mateo nem reparei que ele havia chegado. Nik olhou confuso para meu pai, que parecia ter fogo nos olhos. Então, pude ver em seus olhos que ele havia entendido o mesmo que eu.

Meu pai agora sabia de nós.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora