Capítulo 16.

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— Você nos viu. — Reconheci, no banheiro do restaurante. Fomos até lá com a desculpa idiota de que meu sutiã estava aberto e eu precisava da ajuda da morena.
— Não tinha como não ver. — Sienna respondeu, cruzando os braços. — Eu não acredito que você não me contou, Sophie. O que, achou que eu iria espalhar ou sei lá? Não confia em mim?
— Não é isso...
— Foi por isso que terminou com Mat! — Ela entendeu, e pareceu deixá-la ainda mais irritada — E você mentiu sobre o motivo para mim. É isso que está fazendo durante a semana quando diz que não pode ir até minha casa pois está estudando?
Eu olhei para baixo, indicando com meu silêncio que sim, havia feito aquelas coisas.
— Inacreditável. Achei que não guardássemos segredos.
— Sienna, é só que estava acontecendo muita coisa. Eu ainda nem sei o que temos de verdade, não estava pronta pra dizer em voz alta, eu acho. E não é que eu não confio em você, mas...isso é muito complicado. Se alguém nos escuta conversando, ou você faz qualquer tipo de insinuação e alguém descobre, ele pode ser demitido. E meu pai provavelmente o mataria. — O rosto dela se suavizou aos poucos enquanto eu me explicava — Me desculpe. Eu queria contar. Só não sabia como.
Ela ficou em silêncio uns segundos - que mais pareciam minutos -, e então suspirou pesadamente. Então, assentiu, aceitando minhas desculpas. Eu sorri um pouco.
— Tudo bem. Só...não esconda mais nada assim importante, tá bem?
— Tá bem.
— Então... — Agora, sua expressão já era mais bem humorada. Ela sorriu com malícia — Não acredito que você e o Miss Rússia transaram. Quer dizer, ele é sexy até para mim.
— Não transamos!
— Ainda. — Eu revirei os olhos em resposta a ela, mas acabei sorrindo. — Como isso tudo começou?
Então eu contei rapidamente sobre o vestiário, sobre como não conseguia tirá-lo da cabeça, sobre a festa e a primeira vez que nos beijamos. Ela absorveu as palavras ansiosa, e eu me perguntei por que demorei tanto para falar com ela sobre aquilo. Então ela disse que ao nos ver ontem percebeu quão intenso éramos, e por isso ficou chateada comigo.
— Eu entendo. — Disse, encolhendo os ombros — Acho que se você se apaixonasse por alguém e não me contasse eu também ficaria chateada.
— Apaixonasse? — Ela repetiu, as sobrancelhas arqueadas
— Você me entendeu. — Disse rapidamente — Gostasse, sei lá. — Tentei disfarçar
— Sem mentiras, Sophie.
— Tá. Talvez eu esteja...apaixonada. Não acha que é muito cedo pra isso, acha?
— Sou suspeita para dizer, mas acredito que cada um tem seu tempo. Quando você sabe, sabe.
— Pode ser. Mas não acho que ele também se sinta assim.
— Você estava lá ontem? — Ela ironizou — Porque eu estava. Ele teve a paciência de se justificar para uma garota bêbada que não conseguiu nem acertar sua porta.
— Ouch.
— Só estou dizendo que ele pareceu bastante apaixonado. — Ela explicou, e então torceu o rosto em confusão. — Ele não é tipo...um tio, pra você?
— Na verdade, não. Quer dizer, ele me conhece desde criança e acho que sempre teve um certo nível de afeto. Mas ele sempre foi meio distante, nunca senti como um laço familiar.
— Bem, aproveitando que estamos contando coisas — Ela disse, repentinamente mudando o rumo da conversa. — Eu meio que dormi com Samantha.
— Dormir...?
— Sim, dormir do tipo que você faz acordada.
— Não! O que?
— Ontem. Eu estava bêbada e irritada com você. Quando eu entrei no quarto ela acordou com o barulho, e acabamos discutindo. Até que de repente ela me beijou. Ou eu a beijei? Não tenho mais certeza. Só sei que, bem, ela claramente não tinha experiência naquilo mas pareceu gostar muito.
Eu estava sem palavras. Era quase tão absurdo quanto eu e Nikolai. Ok, talvez um pouco menos. Mas só um pouco. Ainda sim, Sam era uma idiota, e eu não sabia como reagir.
— Eu escolho te poupar de qualquer comentário meu. — Disse por fim, negando com a cabeça. No entanto, a morena ria divertidamente.
— Prefiro assim. Vamos voltar, eles provavelmente acham que estamos fabricando seu sutiã pela demora.
Rindo, saímos dali e voltamos para a mesa. Alguns comentários sobre nossa demora foram feitos, mas ninguém insistiu pois imaginaram que estaríamos conversando ou discutindo, já que antes o ar hostil de Sienna era óbvio, e agora conversávamos como sempre.

Nikolai

O segundo dia do passeio correu tão bem quanto o primeiro. Atentei-me para os assuntos de Amy a fim de perceber se ela não estava, em algum momento, flertando como Sophie a havia acusado de fazer. No entanto, apenas confirmei o que já sabia: nossas conversas eram sobre assuntos inocentes e diversos, sem segundas intenções.
Ainda sim, admiti a mim mesmo que algumas vezes durante as conversas eu pensei em como seria se não tivesse recusado tantas vezes a proposta de Asher de chamar Amy para sair. No entanto, minha teoria era de que naquele momento estávamos relativamente confortáveis um com o outro apenas por não ter nenhuma expectativa ali. Se fôssemos em um encontro, o papo muito provavelmente não fluiria tão bem.
No horário combinado, reunimos todos de volta no ônibus e dessa vez, Sophie e sua amiga sentaram-se no fundo. Quando retornamos à escola, eu e Berger esperamos que todos os alunos fossem para suas respectivas casas, e ao fim sobraram apenas nós e Sophie.
— Irei jantar na casa de Asher, então vou levar senhorita Fortescue para casa. — Informei Amy — Você quer uma carona?
— Obrigada, estou de carro. — Ela disse, antes de se direcionar a seu carro no estacionamento.
— Você vai para minha casa? — Sophie perguntou, quando a professora já estava longe
— Sim. Seu pai está ansioso para saber como foi o passeio.
Entrando em meu carro, Sophie me olhou. Eu pude perceber pela visão periférica que ela continuava me olhando enquanto eu colocava meu cinto e ligava o carro. Quando dei partida, finalmente olhei para ela.
— O que? — Perguntei. Seu olhar era um misto de admiração e malícia, que me fez sorrir com humor.
— Nada. — Ela disse, e por fim olhou para frente. Ficamos em silêncio o restante do caminho, que durava apenas alguns minutos.

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