Capitulo 28.

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Sophie

Encarava um ponto qualquer da minha sala já faziam dez minutos. A angústia de não saber como Nikolai estava e o que meu pai falaria quando chegasse em casa se misturava com a raiva que eu sentia de Mateo - por ter contado tudo - e meu pai - por reagir daquela forma. Quanto mais meu pai demorava para chegar, mais irritada e angustiava eu me encontrava.
Quando a porta da frente finalmente abriu, eu levantei rapidamente do sofá em resposta e vi meu pai chegar acompanhado de Amy. Olhei para a mulher com expressão de dúvida, e ela me respondeu discretamente com um balançar de cabeça - me confirmando que Nikolai estava bem. Não que eu pensasse que meu pai havia seriamente machucado Nik, mas ainda sim queria vê-lo para confirmar que estava tudo bem.
Meu pai foi até a sala e, de frente para mim, jogou um envelope com fotos na mesa de centro. Eu o peguei e retirei três fotos que ali tinham: eram de domingo, pouco antes de Nikolai terminar tudo. Uma das fotos me mostrava entrando em sua casa e as outras duas pareciam ter sido tiradas de alguma janela e mostrava-nos na cozinha, abraçados. Maldito. Mateo realmente não tinha nada melhor para fazer do que me seguir?
— Precisamos conversar. — Ele disse, a voz dura.
— Okay. — Eu respondi, devolvendo as fotos à mesa de centro.
— O que diabos estava pensando, Sophie? Você tem noção do quão errado é o que você fizeram? Ele é seu professor, além de bem mais velho e meu amigo. — Percebi que ele deixou de fora estrategicamente o "melhor". Ele estava realmente com raiva de Nikolai. — Você já é bem madura pra dizer que ele te influenciou a fazer algo. Sei que você sempre reconhece suas ações e que...
— Quer saber? Você quer falar? Então vou falar. Sim, eu reconheço tudo o que falo ou faço e tomo responsabilidade por isso. Não me arrependo de nada que eu fiz, nem mudaria se tivesse a chance. Porque não fizemos nada de errado. Tudo bem, de um ponto de vista ético pode até ser errado namoro entre professor e aluna. Mas até então, entre chefe e funcionária também. — Eu cruzei os braços, olhando dele para Amy algumas vezes, e ele entendeu. Arqueou a sobrancelha como se questionasse como havia descoberto.
— Ela nos ouviu falando no telefone hoje de manhã. — Amy se explicou, e meu pai suavizou a expressão um pouco.
— Sim, ele é mais velho. E daí?
— Eu não quero você jogando uma vida toda pela frente fora por alguém que já viveu e já tem a vida feita.
— Se você acha que eu deixaria qualquer um, mais novo ou mais velho, me impedir de alcançar meus objetivos, então você não me conhece bem. — Constatei, irritada. O que ele imaginava que aconteceria? Largaria tudo por um homem? Eu era minha própria pessoa, antes de qualquer coisa.
— Eu não ach...
— E mais, o que tem se ele é seu melhor amigo? Você age como se ele tivesse te traído por roubar algo seu. Mas aí é que está: eu não sou sua. Porque você é meu pai não quer dizer que é meu dono ou que precisem de permissão pra ter um relacionamento comigo. Sou eu quem decido o que eu faço e com quem, e você age como se Nikolai ficar comigo fosse um insulto à amizade de vocês porque ele está desrespeitando algo seu.
— Eu sei que...
— E você age como se não conhecesse Nikolai! Como se não soubesse que ele é uma das pessoas mais respeitosas e doces que existem. Que ele jamais faria algo comigo que eu não quisesse, ou que pediria que eu desistisse dos meus sonhos, ou que me faria qualquer mal. Você age como se tivéssemos nos juntado para te machucar de propósito, mas não escolhemos por quem a gente se apaixona. Você não escolheu se apaixonar por alguém que tinha uma depressão tao profunda que acabou se matando, Senhorita Berger não escolheu se apaixonar pelo chefe e Nikolai não escolheu se apaixonar pela filha do melhor amigo dele. Mesmo assim, ele terminou tudo comigo ontem porque não queria machucar você. Ele já colocou seus sentimentos acima dos dele uma vez para que você ficasse com a pessoa que amava, agora eu acho que é a sua vez.
Meu pai me encarou surpreso por saber dos triângulo amoroso que acontecia na juventude dele, e parecia estar sem palavras diante do meu discurso. Eu então saí dali em direção à saída.
— Para onde vai?
Eu não respondi, apenas fechei a porta e andei em direção à casa de Nikolai

••

Devagar, abri a porta e pude ver dali o homem deitado no sofá enquanto a TV tocava um daqueles documentários que ele tanto gostava. Quando ele escutou a porta fechar, olhou desconfiado em minha direção e pude notar que ao mesmo tempo que ele relaxou ao ver que era eu, também ficou confuso com minha presença.
— Você mudou o lugar da chave reserva. — Constatei, enquanto caminhava até o mais velho.
— E ainda sim você achou.
— Te conheço bem.
Ele ficou quieto por uns segundos, e eu me sentei ao lado de seu corpo.
— O que faz aqui?
— Queria saber se estava bem. — Respondi, e levei a mão cuidadosamente até o corte que tinha em seu lábio. Não encostei ali, mas percorri o restante de sua boca com meu polegar cuidadosamente. Minha respiração estava pesada e eu sentia a mesma ansiedade da primeira vez que nos beijamos.
— Já viu. — Ele falou, mas apesar da resposta seca, seu tom de voz era gentil.
— Não imaginava que meu pai conseguiria machucar alguém assim.
— Acredite, nem eu.
— Mas você deixou. — Observei, agora deixando seus lábios em paz mas observando a bolsa de gelo que estava em seu abdômen. — Sei que poderia tê-lo parado a qualquer momento. — Ele não me respondeu, e eu tive a confirmação de estar certa. Então, tirei a bolsa de gelo e levantei sua camisa. Havia, no centro de sua barriga, uma marca vermelha - tanto pelo soco quanto pelo gelo em contato com a pele por um longo período. Podia ver alguns pontos arroxeados. Nikolai segurou minha mão, me fazendo soltar sua camisa, e me olhou nos olhos.
— O que realmente está fazendo aqui, Sophie? Seu pai sabe que está aqui?
— Eu queria te ver. — Admiti — Não sei. Não disse onde ia mas ele deve imaginar.
— Ele deve estar preocupado.
— Não quero falar dele! Ou pensar nele. — Revirei os olhos — Olha...eu sei que terminou tudo por medo de como ele iria reagir. Bem, acho que descobrimos. Eu não sei você, mas eu não quero...não quero ficar assim.
— Sofiya... — Ele murmurou, me olhando como se eu fosse a maior tentação do mundo. Eu arrepiei em resposta — Por favor, não podemos criar um problema maior do que já criamos.
— Pelo contrário...acho que não da pra ficar pior. E se for assim, por que deveríamos ficar separados? Se não pode piorar?
— Você distorce a lógica a seu favor, sabia?
— Eu apenas a uso. — Eu me inclinei em sua direção. Como ele estava deitado, não conseguia se afastar. Sentia nele a mesma ansiedade que havia em mim, e nossas respirações ficaram pesadas.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora