Capítulo 9.

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Sophie

Haviam se passado duas semanas desde o incidente do vídeo, e Mateo retornaria à escola naquele dia. Eu não estava mais com raiva do garoto, apenas desapontada por não ser diferente dos muitos idiotas que existiam por ali. Mesmo que já não sentisse um afeto grande por ele, ainda me incomodava saber que após um ano e meio juntos eu significava tão pouco a ponto de me expor daquela maneira apenas para se vingar.
Apesar de tudo, em menos de uma semana o assunto do vídeo foi substituído pelo boato de que alguma das garotas dos Matletas havia feito sexo com dois caras atrás da quadra. Ninguém sabia nomes, mas muitos tinham suas teorias. Eu preferia não gastar meu tempo pensando na vida sexual de outras pessoas, mas fiquei agradecida pela história tomar o lugar da minha.
Também vinha pensando um pouco mais antes de agir após conversar com meu pai sobre o ocorrido. Ele estava, claro, irritado comigo e minhas escolhas, mas mais que isso ele parecia desapontado por meus atos inconsequentes. Ele me lembrou que aquele tipo de coisa ainda poderia ser mal visto pelas faculdades e havia chances de isso atrapalhar minha busca por bolsas de estudo.
Disse também que eu lembrava muito minha mãe, mas que eu deveria aprender a deixar as emoções de lado e pensar antes de agir. Aquilo me deixou um tanto feliz, já que meu pai não costumava falar dela para mim. Eu escutava alguns comentários e até brincadeiras entre ele e Nikolai - já que os três se conheciam desde o colégio -, mas ele parecia ter algum tipo de bloqueio ao falar sobre ela comigo. Talvez ele se sentisse culpado, ou tivesse medo de que eu acabasse do mesmo jeito. As vezes eu também tinha.
— Preparada para rever aquele idiota? — A voz de Sienna fez com que eu virasse o rosto em sua direção enquanto ela se sentava ao meu lado na sala de aula. — Terei Química com ele hoje. Talvez eu derrube algo em suas calças ou cabelo.
— Temos umas três aulas em comum. — Resmunguei.
— E é por isso que eu não gosto de garotos.
— Talvez eu repense minhas escolhas — Eu brinquei, mas então minha mente voou longe para Nikolai.
A conversa com meu pai não foi só flores, e ele me deixou três semanas de castigo de modo que eu precisasse ir direto da escola para casa. Mas ainda sim, Nik e eu demos alguns jeitos de nos ver. Por vezes fingíamos ficar até mais tarde treinando apenas para poder conversar, ou ele me dava uma carona e acabávamos escondidos em alguma rua nos beijando em seu carro.
Parte de mim queria contar para Sienna com detalhes tudo o que estava acontecendo, mas sabia que era perigoso e de certa forma a ideia de precisar me esconder deixava aquilo mais emocionante.
Naquele fim de semana, no entanto, acabaria meu castigo e eu já estava fazendo planos para nós dois. Mesmo que os planos precisassem ser longe, para que não fossemos descobertos.
O sinal que informava o início das aulas soou alto, e logo a professora Berger entrou no local.
Notei que ela começara a se arrumar um pouco melhor. Sua saia estava pouco abaixo da altura do joelho, diferente das que cobriam até os tornozelos que ela costumava usar, e ao invés do suéter bege três números maiores, ela usava uma blusa fina de cor azul bebê, que combinava com os olhos também daquela dor. Era uma mudança sutil, mas fez maravilhas para o visual dela. O look estaria melhor se seus cachos loiros não estivessem naquele coque tão perfeitamente preso.
Comecei a pensar o que havia influenciado seu estilo e ao lembrar do jeito que ela olhou para Nik semanas atrás, fiquei incomodada. Teria ela feito aquelas mudanças a fim de conquistá-lo? Eu tinha confiança em mim, mas não sabia se conseguiria competir com alguém com quem ele poderia ser visto em público sem temer as consequências.
— Uau, Senhorita B! — Sienna disse em tom de elogio, e a professora sorriu, as bochechas tomando uma coloração rosada. Ela ficou adorável, e eu senti meu estômago revirar. — Você está muito linda!
Abri a boca para brigar com Sienna, mas varias vozes levantaram para concordar com ela. "Que mudança!" Eu escutei de um garoto no fundo da sala. "Acho que tem um cara de sorte na história, hein?" Uma outra garota comentou.
— Chega, gente! — Ela pediu, o tom amigável mas ainda frágil como sempre. — Muito obrigada. Mas não tem nenhum cara.
"Eu estou disponível!" Algum outro aluno disse. Não consegui ver quem. Senhorita Berger balançou a cabeça e pediu que prestássemos atenção na aula. Então, começou a falar sobre algum livro no qual não prestei atenção, ocupada demais procurando sinais de que talvez ela estivesse fazendo um esforço para que Nikolai a notasse.
Perto do final da aula, enquanto respondíamos algumas questões, escutei batidas na porta e inevitavelmente espiei o que acontecia. Era o treinador, e eu pude ver seu olhar surpreso quando viu a professora. Ela foi até o mais velho, que lhe cochichou algo. Após algumas risadinhas e mais cochichos, ele saiu dali e eu tentei voltar a atenção de novo para minha atividade.

Nikolai

Após o período de aula daquele dia, passei em minha casa para tomar um banho e fui até a residência de Ashton, que me esperava para jantar. Eu estava um pouco nervoso já que aquele era o primeiro de nossos jantares desde que Sophie e eu havíamos começado a nos ver. Normalmente eu usava calças moletom para qualquer atividade minha, mas resolvi colocar uma das poucas jeans que possuía e uma camiseta com manga 3/4 que não usava há uns dois anos. Queria parecer bem vestido, mas nada que rendesse comentários.
— Niko. — Ashton me cumprimentou ao abrir a porta para mim. — Entra aí.
Meu amigo gesticulava para a casa como quem dizia "fique a vontade", e então fechou a porta atrás de mim. A mesa da sala de jantar já estava posta, e a julgar pelo avental manchado na cintura do homem, a comida seria algo com molho. Ashton descobrira recentemente que adorava cozinhar, era quase terapêutico, de acordo com ele. Isso não queria dizer que ele fazia aquilo tão bem. Claro, em geral ele conseguia fazer macarrão ou purê de batata decentemente. Mas as vezes inventava uns cardápios que me faziam considerar se realmente éramos amigos.
— Então... — Eu o segui até a cozinha — O que tem para hoje?
— Lasanha de legumes com molho branco. Pega lá duas cervejas na geladeira de fora? — Pediu, e eu fui até a parte de trás da casa deles onde havia uma piscina e uma geladeira estrategicamente estocada com cervejas e outras diversas bebidas. Pegando o que me foi solicitado, tomei meu caminho de volta para a cozinha mas esbarrei com Sophie no meio do caminho. Meu queixo quase foi ao chão quando vi a roupa que a garota usava. Não que ela estivesse semi nua, só...excepcionalmente gostosa.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora