Capítulo 8.

645 40 2
                                    

Nikolai

— Eu não sei o que fazer com essa menina, Niko — Ashton repetia, andando de um lado para o outro em sua sala. Eu continuava parado perto da porta, de braços cruzados. — Ela é tão teimosa, irresponsável, impulsiva, ela... — Enquanto ele parecia buscar mais palavras eu ri um pouco.
— Ela é, afinal, filha de sua mãe.
Ashton parou de andar e me encarou, o que me fez levantar as mãos em rendição. — Menti?
— Eu sei, eu sei. Sophie não puxou um traço físico sequer de Annelise, mas o jeito... — Ele revirou os olhos, voltando a andar. Ele tinha mania de fazer aquilo quando precisava pensar ou quando estava muito nervoso. Naquele caso, eram os dois motivos ao mesmo tempo.
Pedi a Amy que não comentasse com Ashton sobre o show de Sophie no refeitório, pois apenas o deixaria mais nervoso. Ainda estava bravo com a garota pela quantidade de idiotices que havia feito, mas achei melhor poupar seu pai um pouco de preocupação.
— E aquele garoto. — O homem continuou, rindo ironicamente e balançando a cabeça — Ele entrou na minha casa, comeu a minha comida. E me desrespeita assim?
— Acho que quem foi desrespeitada foi a Sophie. — Adicionei, mas ele nem pareceu ouvir.
— Ele que peça uma carta de recomendação para a faculdade.
— Você sabe que não pode se vingar do garoto. — Continuava falando, e ele continuava me ignorando.
— E a Sophie...ela não vai sair de casa até completar 30 anos! Eu vou tirar o celular dela, o computador, a televisão e até as roupas coloridas! Ela vai passar o dia lendo livros com roupas cinza.
— Ela vai para a prisão, então?
Ashton parou de andar mais uma vez, olhando para mim com uma quase risada, mesmo que sua raiva ainda fosse perceptível.
— Eu falo sério, Niko.
Ele se sentou, colocando a mão na testa como o bom dramático que era. Eu também sentei, apoiando os cotovelos na mesa e esperando que ele se acalmasse um pouco.
— Se você tirar tudo dela, então ela não terá mais nada a perder e agirá como bem entender. Além do mais, não ensinará lição alguma. Só a deixará brava com você.
— E o que sugere que eu faça?
— Eu não sei. Converse com ela. Ela já não precisa mais de castigo e sim de conselhos.
— Tá. Acho que você tem razão.

••

Chegando em casa, a primeira coisa que fiz ao entrar foi tirar a camiseta a fim de aliviar o calor. Apesar de ter saído da Rússia bem novo, parecia nunca me acostumar com o calor de Louisiana. Fui em direção à cozinha em busca de qualquer coisa gelada na geladeira. Demorei um pouco para escolher o que pegar apenas para aproveitar o ar frio que o aparelho proporcionava, mas após pegar uma garrafa de água e fechar o eletrodoméstico, a figura que apareceu de repente me deu um susto tão grande que me fez derrubar a água.

Chto za khren'! — Xinguei, vendo Sophie escorada no batente da porta — O qu... Como entrou aqui?
— Chave reserva no vaso? Não muito criativo.
Fechei a geladeira e peguei a garrafa do chão. Ela era inacreditável.
— O que está fazendo aqui?
— Espera, eu vim treinando isso durante o caminho todo — Sophie pegou o celular e memorizou algo. Então, o guardou de volta e me olhou — Mni zhal' — Ela disse, com um sotaque tão ruim que quase não entendi que ela tentou dizer "Me desculpe"
Precisa treinar bem mais. — Falei, indo em direção à sala. Ela me seguiu
— Eu aprendi uma expressão nova só para me desculpar e é só isso que vai dizer? Que eu preciso treinar mais? — Reclamou, sentando ao meu lado - mais próxima do que deveria.
— Sim. E você não deveria estar aqui.
— Qual é, Nik... Você não pode me culpar pelo vídeo.
— Você estava nele?
— O que?
— No vídeo. Você estava nele?
— Sim, mas...
— Então eu posso.
— Quer saber? Você diz que é o adulto mas quem está agindo com infantilidade aqui é você. Eu não fiz nada de mais, aquele idiota ficou com raiva porque eu terminei com ele e expôs algo íntimo meu. E mais, aquilo que eu fiz no refeitório pode ter sido um pouco...indecente, mas foi para mostrar que eu ainda estou no controle da minha intimidade. Se não consegue lidar com isso, talvez a culpa seja minha por achar que você não faria idiotices de homens de 36 anos. — Imitando o que falei para ela naquele dia mais cedo, levantou-se e pegou sua bolsa, começando a andar até a porta. Puxei seu braço antes que ela pudesse abrir a porta, de modo que ela virasse para mim. Suas bochechas estavam vermelhas de raiva, e seu olhar impaciente.
— Se pronuncia Mne zhal' — Corrigi.
— Está me pedindo desculpa? — Ela sorriu.
— Não vamos exagerar... — Apertei os olhos — O que você fez não foi certo. Mas acho que não tenho o direito de ficar bravo com você.
Na ponta dos pés, a mais nova colocou os braços em meu pescoço.
— É, é o suficiente.
— Você é tão... — Eu suspirei, mas antes que eu pudesse continuar ela me interrompeu.
— Teimosa, impulsiva, inconsequente, sem juízo...Já ouvi tudo isso.
— Eu ia dizer linda. — Ela não disse mais nada. — Ainda mais quando fica quieta. — Então, deu risada, batendo de leve no meu peito em resposta.
Sem mais rodeios, eu a coloquei contra a porta e colei meus lábios nos dela.

Sophie

Enquanto uma de suas mãos segurava minha nuca por entre os cabelos, a outra apertava minha cintura enquanto sua língua explorava minha boca. Não sabia se era o fato de lhe querer tanto, mas seu beijo era de longe o melhor que já havia recebido. Deixei escapar um suspiro quando ele desceu a mão que estava em minha cintura para minhas pernas e me impulsionou para cima, me pegando no colo. Coloquei as pernas ao seu redor enquanto ele pressionava o corpo contra o meu.

Fechei os olhos sentindo seus beijos agora em meu pescoço, e passei com as mãos por todo o peitoral definido do mais velho. Sua pele era quente e ele estava um pouco suado, o que achei estranhamente sensual. Um riso surpreso escapou quando ele apertou a minha bunda com força, e com as mãos em seus cabelos eu o beijei na boca uma vez mais.
— Você...precisa...ir embora... — Ele constatou, entre os beijos que estavam novamente em meu pescoço. Eu conseguia sentir a excitação dele tanto quanto a minha. Mas ele tinha razão.
— Eu sei... — Sussurrei, e ele me deu um longo beijo antes de me colocar de volta no chão. — Meu pai provavelmente está esperando para me enforcar.
Arrumando minha roupa, peguei a mochila que havia caído no chão e dei um sorriso antes de sair dali, guardando a chave reserva de volta no vaso da entrada.
Na porta de minha casa, juntei toda força do meu corpo para parecer confiante, e então entrei. Meu pai me esperava na sala e eu sabia que aquilo não acabaria bem.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora