Capítulo 7.

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Sophie


Na sala do meu pai, ouvia apenas o barulho do relógio enquanto todos mantinham silêncio. Ele parecia ainda mais bravo do que Nikolai, o que me surpreendeu. Com seus braços cruzados, olhava diretamente para Mateo e eu, sentados à sua frente. Em pé ao nosso lado estavam Nikolai e Senhorita B, que parecia tensa.
— Então, Amy. — Meu pai finalmente quebrou o silêncio. Ela pareceu surpresa ao ouvir seu nome. — Me conte o que aconteceu.
— Eu...Eu não...
— Mateo postou um vídeo íntimo da sua filha. — Nikolai interrompeu, a voz áspera. Apesar de saber que ele estava irritado comigo também, eu só conseguia pensar em como ele ficava sexy com o cabelo penteado para trás e o rosto contorcido naquela expressão de raiva.
— Você sabe que pornografia infantil é crime, não sabe, senhor Castillo? — A voz do meu pai era assustadoramente calma.
— Não fui eu quem postei! — Ele insistiu na mentira, mas sua voz parecia fraca. Acabaria contando a verdade eventualmente. Mateo podia ser inteligente, mas não era bom lidando com confrontos.
— Foi sim. — Eu disse, tentando não pensar em quanto tempo ficaria de castigo — Porque foi você quem me gravou.
Mateo ficou quieto por uns segundos mas então suspirou.
— Eu não pensei direito. Estava com raiva.
— O senhor está suspenso por duas semanas. E não poderá trabalhar no jornal da escola esse ano.
— O que? Mas eu preciso dos créditos para a faculdade!
— Então talvez devesse ter pensado nisso antes de colocar um vídeo de uma menor de idade semi nua na internet. Vou ligar para seus pais e pedir que venham te buscar. Quanto a você — ele direcionou o olhar para mim — como diretor, não tenho nada a dizer. Como pai, resolvemos isso em casa.
Por pior que fosse o castigo de Mateo, algo me dizia que o meu seria pior.
Saí da sala junto de Nikolai e Senhorita B. Andava um pouco à frente deles em direção ao refeitório.
— Eu achei que fosse quebrar o braço do senhor Castillo ali mesmo — Escutei a professora cochichar para Nik, com admiração misturada ao seu comum tom assustado.
— Digamos que eu cheguei bem perto. — A resposta, apesar de não ter sido em tom rude, não parecia convidativa para uma conversa, e percebi que ela não sabia mais o que falar. Olhei disfarçadamente por cima dos ombros e percebi que a mais velha o observava com certa afeição. Então lembrei dos inúmeros jantares em que meu pai tentou convencer Nikolai a sair com a mulher. De repente, fiquei incomodada. Sem dizer mais nada, eu apenas fui direto para o refeitório aproveitar o restante do tempo de intervalo.
Entrando no local pude escutar risadas, assobios e cantadas. Segui direto para a mesa onde sentava Sienna e algumas outras amigas do time de torcida dela. Quando ela me viu, seu rosto se iluminou. Não por me ver exatamente, mas porque eu poderia dizer o que aconteceu. E se tinha algo que Sienna gostava, era fofoca.
— Você está bem? O que o diretor falou? Fiquei sabendo que o miss Russia bateu no Mateo. É verdade?
— Uma pergunta por vez. — Pedi, coçando a cabeça. — Não, Nik...quer dizer, treinador Zadornov não bateu nele.
— Devia. — Amélia, uma das líderes que estavam ali na mesa, comentou rapidamente enquanto prendia as madeixas ruivas em um alto rabo de cavalo. Aquele provavelmente era o único cabelo que eu invejava. Combinado com os olhos verdes e as inúmeras sardas no rosto, Mia - como preferia ser chamada - era uma das garotas mais bonitas daquele lugar. E também uma das mais agressivas. Uma vez, no ensino fundamental, ela quebrou a perna de uma menina que cortou seu cabelo durante a aula. Após muita conversa e a garantia de que viria um psicólogo regularmente, seus pais conseguiram com que ela não fosse expulsa.
— Sim, eu estou bem. — Continuei as respostas — Meu pai suspendeu Mateo por duas semanas, e disse que ele não poderá mais trabalhar no jornal da escola.
— Eu não acredito que ele fez isso. — Sienna disse, revirando os olhos antes de Amelia complementar
— Ele é um garoto. Geneticamente feito para ser um imbecil. Não me surpreende.
Eu acabei rindo, mas logo ouvi meu nome ser chamado.
— Ei, Fortescue — A voz pertencia a Will, um dos trogloditas idiotas que sempre me surpreendia por passar de ano. Ele era bem alto e forte, o que fazia com que ele parecesse uns 5 anos mais velho. Mas o rosto...bem, Deus não da asa à cobra. — Quanto você cobra por uma dancinha daquela?
— O mesmo que a sua mãe, seu imbecil. — Sienna respondeu por mim, levantando. Por comparação, ela parecia uma formiga perto do garoto, mas o tom feroz compensou. Todos então comemoraram a favor da morena, e eu pensei por um momento que as líderes de torcida com certeza conseguiriam matar alguém se preciso.
— Sienna, tudo bem — Eu disse, fazendo com que ela sentasse novamente — Se eles vão me chamar de vadia, então é melhor eu fazer as pazes com isso, não? — Arqueei uma sobrancelha, sugestiva, e foi minha vez de levantar. Todos olharam para mim, esperando para ver o que eu acrescentaria à cena.
— Já que muitos de vocês nojentos nunca verão peitos sem precisar pagar por isso, vou fazer um favorzinho — Falei, subindo em cima da cadeira.  Levantei a camiseta que usava, revelando um sutiã também branco que era um dos meus favoritos. Se não pode com eles, junte-se a eles. 
De repente o refeitório estourou com risadas, assobios e algumas pessoas batendo na mesa. Mas agora já não estavam fazendo aquilo com o intuito de me incomodar, e sim com um ar de aprovação. Antes que eu pudesse aproveitar aquele momento da virada do jogo a meu favor, meus olhos pousaram em Nikolai e Senhorita B na porta do refeitório, me observando com desaprovação. Abaixei a camisa rapidamente, e os olhares dos alunos seguiram o meu até a dupla. Todos pararam de comemorar, e eu quis enfiar minha cabeça em um buraco ao sentir o olhar desgostoso de Nik para mim. Desci da cadeira sem quebrar o contato visual.
— Isso foi genial — Sienna disse, rindo. Mas tudo parecia desfocado e eu só conseguia ver o mais velho balançando a cabeça em desaprovação, antes de sair dali acompanhado da professora.
— Foi bem inteligente, Fortescue. — Mia concordou. Então, as duas começaram a falar sobre a nova acrobacia para a competição regional que se aproximava, e eu fiquei pensando na expressão do treinador.

••

Após o último período, direcionei-me ao vestiário a fim de me preparar para o treino. O assunto ainda estava rolando, e pude notar que algumas meninas cochichavam algo e me olhavam de vez em quando. Tentei não me incomodar com aquilo, trocando-me com rapidez e indo direto ao campo.
Lá estava Nikolai conversando com Helen, que parecia excepcionalmente animada. E aquilo não parecia um bom sinal. Enquanto eu me aproximava, ela passou por mim e piscou.
— Aí está você. Preciso dizer uma coisa. — O treinador avisou, e eu cheguei mais perto.
— Antes de dizer algo, eu sei que o que eu fiz foi...
— Farei uma competição para decidir se você ou Helen será capitã do time. — Ele me interrompeu, e eu fiquei sem fala por uns instantes.
— Mas eu sou a capitã.
— Sim. Mas Helen vem mostrando uma melhora surpreendente e seria injusto não considerá-la para a posição também.
— Você só está fazendo isso pelo que aconteceu hoje.
— Uma capitã não é só alguém que joga bem, Sophie. Precisa ser esperta e responsável.
— Isso não está certo. Você está colocando a culpa do vídeo em mim.
— Não, estou colocando a culpa em mim por achar que você não faria idiotices de garotas de 17 anos. — Ele disse, mostrando um pouco mais de emoção do que costumava. Logo retomou seu tom sério — Acha que merece continuar como capitã? Então mostre.
— Tá! — Respondi, irritada, e fui até meu lugar no campo para iniciar a partida. Juntei toda a raiva de Mateo e Nikolai e transformei aquilo em combustível para fazer o melhor treino da minha vida. Dividi o time em dois e então dei início ao jogo.
Após os 50 minutos de treino, meu corpo queimava enquanto eu e meu time comemorávamos a vitória: 5x2. Nikolai não pareceu surpreso enquanto anotava algo em seu caderno.
— Parabéns pelo jogo, meninas. Estão liberadas. Na quarta eu quero esse mesmo empenho. Se continuarem assim, vamos vencer o time de Broad View com os olhos fechados.
Percebi que ele evitada a todo custo sequer olhar para mim. Comemorando, todas as jogadoras foram para o vestiário tomar banho e eu as segui, sem saber se meu rosto queimava pelo jogo, pela raiva ou pela vergonha.

O TreinadorOnde histórias criam vida. Descubra agora