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Hoseok bufou enquanto fechava a caixa de papelão que guardava suas meias calças, sentindo-se extremamente frustrado por estarem todas ali menos a que ele precisava para aquela noite.

— Tia? Você viu minha meia calça arrastão preta? — Hoseok gritou, deixando seu quarto para dirigir-se até o de sua tia.

Assim que chegou no cômodo em que a mulher passava a maior parte de seu tempo, estancou na porta e prendeu a risada ao vê-la adormecida em cima da mesa no canto do quarto, um cigarro pendendo entre os dedos longos e repletos de calos, quase queimando os papéis que ocupavam a planície de madeira.

Então, o garoto se aproximou e tirou o cigarro de entre os dedos da mulher, apagando-o no cinzeiro antes de cutucá-la no rosto para que ela acordasse.

— Hm? O que? Quem morreu?

Ele riu e abanou a cabeça negativamente, acomodando-se na ponta da cama dela para esperar que a mulher acordasse totalmente e pudesse lhe ajudar a achar o que ele procurava.

— Caralho, Hoseok. Eu já lhe disse para não me acordar a não ser que alguém estivesse morrendo — resmungou quando conseguiu, finalmente, abrir os olhos, fitando o sobrinho sentado em sua cama.

— É o que vai acontecer se eu não conseguir achar a minha meia calça. Arrastão preta, você viu?

Ela negou com a cabeça enquanto se levantava, esticando o corpo esbelto para uma mulher na casa dos cinquenta anos, coçando a bunda para em seguida puxar o cabelo e fazer um coque bem no alto de sua cabeça com os fios vermelhos.

Hoseok admirou Hyejin silenciosamente, sentindo-se como sentia-se toda vez que seus olhos pousavam nela: orgulhoso. Ele tinha orgulho de ter sido criado por uma mulher tão ousada, criativa e mente aberta como aquela e gratidão por ela ter sido a única parente disposta a ocupar-se dele quando seus pais morreram em um acidente de carro.

O garoto era muito novo para lembrar-se de como a perda toda havia acontecido e, ainda mais, para sentir falta de seus progenitores. Entretanto, sua tia vivia lhe dizendo que a mãe do garoto, Hyunjae, era dócil e extremamente compreensiva, por mais que fosse careta — nas palavras da tia —. Hyejin, mesmo sofrendo tanto por perder a sua maior confidente, não quis que a imagem dela desvanecesse da vida do sobrinho. Após a morte de seus pais, Hyunjae e a irmã eram as únicas restantes na família, o que permitiu que o laço forte que existia entre ambas fosse ainda mais consolidado. Tal fato evitou que Hyejin fosse julgada por exercer a profissão que tanto amava: dançarina de cabaré.

No início, Hyunjae ficou receosa por achar que o trabalho dela envolvesse prostituição. Ela não achava seguro e imaginava que a irmã fosse passar por muitos problemas. No entanto, Hyejin explicou-a que não era o caso, que era apenas a dança e, algumas vezes, o canto, que eram as duas coisas que ela mais amava e que nunca desejou fazer na grande indústria musical, o que tornava o cabaré ainda mais ideal.

Hyunjae então, a pedido da irmã, passou a frequentar o bar e cabaré denominado Burlesque, que ficava nos subúrbios da capital. Aquele tipo de clube não era ilegal no país, porém o Burlesque ficava escondido por ser um tanto diferente dos demais. Ele abrigava diferentes tipos de dançarinos e cantores que não eram bem aceitos na sociedade retrógrada sul-coreana: Drag Queens.

A mãe de Hoseok, na primeira vez que as viu, ficou assustada. Mas, ao mesmo tempo, achou incrível a forma como elas interpretavam um personagem, criavam uma persona, cantavam e dançavam com todo o talento que possuíam junto as dançarinas, coordenando-as e guiando-as na apresentação estrelada por elas e suas belezas singulares.

Quando Hyunjae faleceu, Hyejin ficou desolada e parou de dançar durante um bom tempo, dedicando-se também a cuidar da pequena criança de dois anos que veio parar em seus braços, porque a família do pai era inconsequente e ignorante demais para sequer procurar pelo bebê após saber da morte do pai.

Polemic! • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora