Márcio
Depois que a Pérola voltou para minha casa, comecei a enfrentar uma rotina de banhos frios nada agradável. Ao mesmo tempo em que via a necessidade de me manter o máximo afastado, meu corpo era como imã sendo sugado pela sua presença.
Hoje em especial teria a companhia dela em uma consulta ao pediatra de Clara. Geralmente era a minha mãe que ficava encarregada dessa visita mensal, mas depois do ocorrido naquele dia, ficamos ainda mais afastados. Em parte pela vergonha que eu sentia por ter falado tudo o que falei, mas também pelo gênio forte de dona Valéria. Sua carinha amável e toda a sua doçura só perdiam para seu gênio nada agradável.
Pérola: Estamos prontas. - falou aparecendo na sala onde eu a espera já impaciente.
Márcio: Já não era sem tempo. - falei me dirigindo para a porta de saída. Outra coisa que também estava diferente aqui, era a presença de uma cozinheira e uma arrumadeira. De repente me vi o bendita sois entre as mulheres em minha própria casa.
Pérola: Até parece que estou feliz com essa situação. - a meliante kid resolveu fazer gracinha aquela hora da manhã.
Márcio: Falou algo? - me virei interrogando.
Pérola: Estou só contando uma história para Clarinha. - rebateu se fingindo de inocente.
Márcio: Gosta de príncipes, Pérola? - provoquei
Pérola: Prefiro o Lobo Mau. - falou e na hora senti meu membro criar vida própria quase rasgando o tecido da minha calça.
Márcio: Pensei que o herói da Chapeuzinho fosse o caçador... - resolvi entrar em seu jogo.
Pérola: Isso porque o Lobo Mau preferiu comer a vovozinha. - falou dando duplo sentindo a sua afirmação e isso só piorou a minha situação.
Márcio:Talvez a experiência da vovó tenha contado para essa decisão. - falei arqueando a sobrancelha.
Pérola: O mal do Lobo foi achar que uma carinha inocente quer dizer alguma coisa. As que aparentam mais inocência podem esconder surpresas deliciosas. - Puta que pariu! Agora eu gozo. - Aposto que na verdade, o tal Lobo feroz não passava de um velho lobo cansado e dominar a vovó foi uma tarefa mais fácil. Afinal a idade pode pesar para alguns. - falou passando por mim e rebolando aquela bunda que me deixava louco. Isso não ia prestar!
(...)
Quando chegamos ao consultório, a minha presença não passou despercebida pelas mulheres que ali estavam. Não porque fosse algo fora do comum um pai levar a filha ao pediatra, mas eu mais parecia uma estranho daquela criança que carregava meu sangue e sobrenome.
Muitas vezes pensei em desistir e deixar que minha mãe se encarregasse de criar Clara, mas desistir para mim era algo que eu não aceitava muito fácil. Logo chegaria o momento em que um colégio de sistema integral resolveria esse problema. E quando Clara já estivesse maior, certamente não iria querer pagar mico com a presença do pai. Era só uma questão de tempo para a minha vida seguir o rumo que eu tinha traçado.
Márcio: Essa médica está fazendo uma cirurgia nessas crianças? - já estava impaciente. Aquele lugar parecia a sucursal do inferno. Meus ouvidos não aguentavam mais tanto choro.
Pérola: Claro que não! - me olhou como se um chifre dourado estive nascendo em minha testa,
Márcio: E o que justifica essa demora toda?
Pérola: O senhor de criança não entende nada mesmo. - riu e pela primeira vez eu notei o quanto aquele sorriso era lindo e isso me incomodou mais ainda. - Tem que aprender muito ainda.
Márcio: Com você? - perguntei zangado
Pérola: Com a vida - falou e no mesmo instante fomos chamados para a consulta. - Ela ensina, mas muitas vezes age como uma palmatória implacável.
E foi pensando no que a Chapeuzinho me disse que saí daquele consultório. Constatei em poucos minutos que não sabia nada sobre Clara. Sua rotina de sono, vacinas, alimentação. Nada! Tive até vergonha quando fui indagado sobre tais informações e tive que recorrer a uma estranha para não dar o silêncio como resposta.
A noite...
Depois de uma manhã de apuros em uma clínica pediátrica, o trabalho acabou sendo minha válvula de escape. Entrei de cabeça nos novos projetos e até esqueci um pouco tudo pelo que tinha passado. Com meu pai em Seattle nas negociações de um novo projeto, eu e Diego, o único a quem podia chamar de amigo, ficamos encarregados dos últimos detalhes sobre as obras do resort de Arraial do Cabo. Em processo de finalização, seria preciso uma vistoria mais detalhada e decidimos aproveitar o final de semana para isso. Afinal poderíamos trabalhar e nos divertir de uma só vez.
Diego, assim como eu, era avesso a compromisso e não dispensava uma boa companhia. Então seria o momento ideal para ter, pelo menos que só por dois dias, a minha vida de antes. Só precisava acertar com Pérola para que ela ficasse com Clara.
Pérola: Licença, senhor Márcio. - mesmo que ela quisesse demonstrar respeito com aquele " senhor" eu sabia que não passava de uma maneira de me provocar. De deixar claro que para ela eu não passava de um velho.Ah! Chapeuzinho se você soubesse como as garras de Lobo Mau são afiadas... - A Clara já está dormindo. Hoje vou precisar sair mais cedo, pois tenho prova e gostaria de aproveitar para descansar antes de ir para a faculdade.
Márcio: Sem problema. Aproveitando que está aqui. - falei como se ela não passasse o dia todo na minha casa. - Gostaria de saber se seria possível que passasse o final de semana com Clara. Irei viajar a trabalho e ficaria mais tranquilo que você ficasse responsável por ela.
Pérola: Dona Valéria já havia me consultado a respeito desse assunto. Não vejo problema nenhum.
Márcio: Ótimo! - finalmente um pouco de liberdade! - Amanhã chegarei mais cedo para que possamos combinar todos os detalhes e seu extra.
Pérola: Boa noite!
Márcio: Boa noite!
Esse final de semana eu iria aproveitar para extravasar e tirar de vez a Chapeuzinho de minha cabeça. Nada que uma boa foda não resolvesse.
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Aprendendo a Amar
FanfictionAmar vai muito além de pele, de corpo, de toque. Amar é alma, espírito. Nem todo mundo conhece esse tipo de amor... Amor que o tempo não apaga... O vento não leva... Ninguém separa.