Aprendendo a Amar

Capítulo 41

Alguns dias depois...

Márcio

Depois de ter perdido a batalha para a ansiedade, levantei e fiquei vagando pela casa silenciosa. O preparo anterior para esse dia agora não causava nenhum efeito. Meus sentimentos pela minha filha não mudariam, mas eu sabia que haveriam mudanças e não sei se estaria preparado para elas.  

Meu pai repetiu várias vezes que tudo ficaria como estava, mas eu temia que as coisas não seriam bem assim. Afinal não havia mais segredo em relação a Clara e se o que ele quis proteger era o casamento com minha mãe, já não tinha mais razão de se manter longe da minha filha.

Eu e Pérola conversamos sobre isso e confesso que só fiquei mais nervoso com essa hipótese. Egoísmo? Talvez. Mas acima de qualquer coisa eu pensava em como ficaria a cabecinha da Clara com essa loucura que era ter um pai-irmão e um avô-pai. 

Pérola: Os ponteiros não andarão mais rápido se você ficar olhando. - senti um leve tremer ao ouvir sua voz sonolenta.

Márcio: Pensei que talvez se olhasse fixamente o tempo pudesse voltar atrás. - falei estendendo a mão em sua direção. Um abraço dela talvez aliviasse essa angústia.

Pérola: Olha... - falou acariciando meus dedos com delicadeza e em seguida uniu nossas mãos. - Não seria uma grande ideia poder voltar o tempo. Dizem que aprendemos com os erros. Então me pergunto que graça teria fazer sempre o certo.

Márcio: Pelo menos uma vez eu queria poder. - admiti

Pérola: Justo. - me olhou com ternura . - Mas  já pensou que sua vida seria bem diferente agora? Vim para essa casa pela Clara, sinceramente não vejo outra situação que pudesse me colocar em seu caminho. Mas supondo que talvez nos encontrássemos por aí, nada do que acontecesse entre nós nos traria até aqui.

Márcio: Como não?

Pérola: Desculpa, mas o Márcio que eu sei que você era antes da Clara não seria um homem que eu olharia duas vezes. - a sinceridade em suas palavras não me causaram espanto. Nem eu sei se me daria uma chance. - Só entende que as coisas seguiram o rumo que deviam. Entre erros e acertos foi o caminho certo por algum motivo.  Não procura desvios ou atalhos somente porque o que está a sua frente parece ser mais longo e cheio de curvas. Pensa que durante essa caminhada haverá momentos que você não terá outra chance de viver. Esquece o "se". Ficar pensando em como as coisas poderia ter sido diferentes só vai fazer com que você carregue um peso desnecessário.

Márcio: Obrigado

Pérola: Está me agradecendo por estar filosofando as quatro da manhã? 

Márcio: Também. - sorri encantado com a força e sabedoria da minha mulher. - Mas principalmente por encher de vida esse caminho e por me mostrar a cada dia que está ao meu lado nessa caminhada, mesmo eu não sendo merecedor disso. Você me faz feliz.

Pérola: Não, amor. A felicidade está dentro de você. E foi somente quando reconheceu isso que passou a senti-la. Eu sei que teremos dias confusos, mas passaremos por eles juntos. 

Como sempre Pérola me trazia a razão. Ela me puxava de volta dos meus medos e me fazia forte.

Mais tarde...

Como combinado estávamos eu e meu pai na recepção do laboratório. Palavras não foram ditas. Nem sei o que seria adequado naquele momento e quando nos foi entregue os envelopes, um para cada um de nós, o silêncio se fez ainda mais necessário.

Agora era real. Embora mesmo que quisesse não havia duvidado que fosse verdade tudo o que tinha me dito. Não que para ele fosse empecilho me atingir, mas abrir mão de sua imagem "imaculada" de bom marido era a última coisa que ele faria.

Rafael: Ela nunca precisará saber disso. - já estava indo em direção a porta quando sua voz rompeu o silêncio.

Márcio: A minha filha não terá uma vida baseada em uma mentira. - decretei me virando e pela primeira vez desde que cheguei, olhando em seus olhos. Olhos cansados que me pegaram de surpresa. De repente um sentimento de pena me atingiu e foi como um soco. Para alguém com tanto orgulho como ele aquela expressão não combinava em nada. - No momento em que ela puder entender essa história eu estarei pronto para contá-la. 

Rafael: Ela não irá me perdoar. - falou cabisbaixo

Márcio: Não se trata de perdão e nem tampouco de você ou eu. Se trata de uma verdade que ela tem o direito de saber. Quando esse dia chegar eu estarei pronto para qualquer reação que ela tiver e aceitarei a decisão que ela tomar.

Rafael: Você é muito melhor do que eu.

Márcio: Não sei se esse é o caso. Pior ou melhor o que nos diferencia é a capacidade que temos de amar. Eu aprendi. Quem sabe não seja a hora de você reconhecer que pode também?

Acenei em despedida e segui o meu caminho certo que ele me levaria para as pessoas que mais amo, a minha família. Como dizem: o futuro a Deus pertence, mas o presente está em minhas mãos e dar o amor que minha pequena precisa só depende de mim E isso é a coisa mais fácil no mundo de se fazer.