Capítulo 29

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Márcio

Minha paciência estava ultrapassando os limites aceitáveis. Esse afastamento que ela nos impôs começou a me afetar de uma maneira sobrenatural, pois com isso ela me privava não só da sua presença doce, mas também do prazer de estar com nosso filho sempre que meu coração desejava. Como se faz para estancar uma ferida quando se está  tão perto e ao mesmo tempo tão longe do remédio? Como fazer para diminuir um amor que só cresce, e para piorar, te deixa à beira da loucura?

Eu tentei ser paciente, e com muito custo estava buscando  dar a ela o espaço que precisava para refletir sobre tudo o que passamos; mas não aguentava mais tanta indiferença e a solidão que me consumia. Porra eu tinha errado e errado muito, mas estava cego de ciúmes. Sei que isso não justifica o que fiz, mas o sentimento que tenho por ela sempre foi algo muito novo pra mim.  Chego a me perguntar se realmente não é melhor me dar por vencido e desistir. Aceitar que acabou assim como ela já fez. Insistir talvez só nos traga mais dor e sofrimento.

Valéria: Então quer dizer que como as coisas não saíram da maneira que queria e no seu tempo vai desistir? - tinha chamado minha mãe aqui na empresa. Precisava conversar com alguém que estivesse realmente a par da situação e que pudesse me ajudar. 

Márcio: Não se trata disso. - falei já exausto dessa situação. - Está difícil pra mim também, droga! - levantei passando as mãos freneticamente no rosto. Eu já não me reconhecia mais. Era a sombra do que um dia fui. Não tinha fome, sono, nem vontade de trabalhar. Eu precisava tomar uma decisão na vida. Caso contrário iria acabar ficando louco. - Eu pareço um monstro aos olhos de todos e se quer saber, aos meus também. Quando entro naquela casa é como se a peste tivesse voltado com mais potência. Pareço ter uma doença incurável e altamente contagiosa. 

Valéria: Tente entender o lado dela. - pediu como vinha fazendo há dias. 

Márcio: E a mim quem entende ou pelo menos tenta? Meu erro foi grave, não me isento disso, mas será que nunca tive um acerto que contasse também? Tenho feito de tudo para não parecer incomodado com a situação, mas a verdade é que pra mim já não dá mais. - cheguei ao meu limite. - Acho que só estou tentando prolongar uma situação que já está definida para ela.

Valéria: E se eu falar novamente com ela? - sugeriu tentando me dar esperanças, mas sabia que já não havia mais.

Márcio: Acho que a senhora não está entendo... - desabei novamente na cadeira. Estava aprisionado dentro de mim mesmo. Contendo meus passos para não incomodar. Minhas palavras para não desagradar. - Não falei isso para que chegue aos ouvidos dela como uma ameaça de desistência, mãe. Não quero que Pérola se sinta pressionada a nada. Eu a perdi e sou o único culpado disso, mas não posso continuar pagando a minha vida toda. Tenho dois filhos que precisam de mim inteiro. Não dessa casca de homem que me tornei por amor.  Se soubesse as migalhas que me contento ao ter dela iria me achar um tolo. Eu chego a tirar peças de roupa dela do cesto e levar para meu quarto para ter pelo menos seu cheiro perto de mim. Isso está acabando comigo.  - nessa hora percebi que já não controlava mais o choro. - Sabe o que sinto a cada vez que entro no ambiente em que ela está e a vejo sair como se fugisse da morte? Isso me destrói. Me reduz a nada.

Valéria: Sinto muito que as coisas estejam assim. - ficou agachada aos meus pés fazendo carinho em minha perna. - Eu tinha a esperança que com a proximidade e o tempo as coisas se resolvessem entre vocês. Sei que o que fez não foi uma bobagem e nem uma briguinha a toa, mas sei também que foi movido pelo ciúmes da mentira que te contaram. 

Márcio: Estive olhando umas casas no mesmo condomínio. - falei por fim. - Não abro mão de ter meu filho por perto e acompanhar seu crescimento. Quero que ele seja criado com as mesmas condições que Clara.

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