Capítulo 14

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Pérola


Depois da conversa que Márcio teve com meu pai, um peso pareceu ter saído de mim. Encarar o resto seria fácil, mesmo que eu suspeitasse que não obstáculos gigantes iriam transpor em nosso caminho. Afinal para algumas pessoas não era tão fácil aceitar que a paixão não ver status.

Depois de uma conversa franca entre nós, resolvemos que eu continuaria a cuidar de Clara. Ele não queria aceitar, mas depois que ouviu meus argumentos, cedeu. Eu não via a hora de que Roberta soubesse da novidade. Até pensei em contar quando retornamos para a casa dele naquela tarde, mas preferi aguardar até a manhã seguinte quando estivéssemos a sós. Não podia correr o risco de Márcio ouvir seus berros vindo da cozinha.

Márcio: Vai dormir aqui, né? - aquele homem mudava de lobo para ovelha conforme a necessidade aparecia. Seu olhar parecia o mais ingênuo que já havia visto.

Pérola: Hoje é impossível. - neguei - A conversa com meu pai comigo nem começou. Não se engane achando que não passarei por um interrogatório.

Márcio: Até que entendo seu pai. - isso foi estranho, mas gostei de saber - Também não sei como irei reagir quando Clara aparecer com um namorado. Na verdade isso nunca passou por minha cabeça. Parece que só depois que você entrou na minha vida que eu realmente tive consciência que sou um pai.

Pérola: Na verdade você sempre soube, só teve certa dificuldade em aceitar.

Márcio: Provavelmente você tem razão. - ficou pensativo por um instante até  continuar - Para mim sempre foi difícil lidar com mudanças. Tracei metas e não admiti que eu não era o detentor de tal poder. Por mais que façamos planos, não temos garantias que serão cumpridos. Agora me dei conta disso e por incrível que pareça, não me assusta.

Pérola; Pensei que para um lobo tão mau o medo fosse apenas lenda. - brinquei e ele sorriu

Márcio: Até a mais terrível criatura tem algum resquício de medo, Chapeuzinho. Assim como a beleza tem seu lado feio, a coragem tem sua pitada de medo.

Pérola: Nisso você tem razão. Nada é completamente uniforme. E pensando bem, seria até chato se assim fosse.


No outro dia...


A conversa com meu pai como eu previa, aconteceu. Posso até dizer que era o que eu estava precisando para entender algumas coisas que ainda pairavam como nuvens negras em minha mente. Estava ciente que nem todos veriam com bons olhos o relacionamento que tinha com Márcio, mas saber que teria o apoio dos meus pais e que principalmente eu estava segura da minha decisão acabou por me fazer sentir mais leve e disposta a enfrentar o que fosse.

Quando cheguei Márcio já havia ido trabalhar. Na verdade ele havia me dito quando nos falamos ontem a noite por telefone, que estava cheio de trabalho e que iria mais cedo para assim retornar mais cedo. Queria nos levar , eu e Clara, a um lugar.

Roberta estava tirando a mesa do café e nem notou minha presença. Eu estava louca para contar tudo, mas fui interrompida pela chegada do jardineiro. Ele era um rapaz bem simpático e vivia cantado umas músicas estranhas que tenho quase certeza que eram inventadas por ele mesmo.

Fiquei sabendo que não trabalhava aqui há muito tempo. Acabou vindo substituir o tio que ficou com sérios problemas de coluna depois de um acidente doméstico. Segundo Roberta ele era um homem muito ambicioso e não entendia como tinha aceitado esse trabalho. 

Roberta: Como está o Sr. Leopoldo, Davi? - ela sempre procurava saber notícias dele.

Davi: Resmungando mais do que nunca. - falou pegando a xícara com café que Roberta lhe ofereceu - Não é fácil ficar em casa sem fazer nada depois de anos de trabalho.

Roberta: Teimoso como ele é deve está deixando todos nervosos.

Pérola: E essa situação é definitiva?

Davi: Pelo o que o médico falou, é sim. Só duvido que meu tio aceite isso tão facilmente.

Roberta: Não há nenhum tratamento?

Davi: Ele está se tratando. O Sr. Márcio fez questão que os melhores especialista cuidassem dele, mas a idade não ajuda muito. - ouvir aquilo não me espantou. Márcio queria mostrar uma imagem de homem frio, mas eu sabia o quanto era bom e doce. - O difícil é ela aceitar isso.

Estávamos conversando e nem percebemos que nossa conversa era presenciada por outra pessoa. Roberta começou a contar das vezes que o Sr. Leopoldo reclamou do café doce dele e das vezes que a mesma acrescentava mais açúcar só para importuná-lo. Rimos imaginado o quanto ele resmungava e num ato involuntário, creio eu, Davi colocou a mão em meu ombro. Foram apenas segundos antes que um trovão ecoasse na cozinha.

Márcio: Tira a mão dela agora! - até tremi com o tom de sua voz.

Davi: Senhor, eu... eu - o pobre homem estava pálido e era aceitável diante da expressão assassina que tínhamos a nossa frente.

Márcio: Você é pago para cuidar do jardim e não para ficar de conversa. - sua voz podia cortar até o ar. 

Pérola: Nós estávamos apenas conversando sobre o Sr. Leopoldo. - tentei desfazer a confusão que se formava. Roberta olhava para mim sem entender nada.

Roberta: É verdade. - concordou e praticamente foi fuzilada pelo olhar do meu namorado raivoso.

Márcio: Você vem comigo! - me pegou pela mão e praticamente me arrastou até seu quarto.

Pérola: Tá maluco? - estava incrédula com o homem das cavernas diante de mim. - Pra quê falar daquele jeito com o Davi? Ele estava apenas falando sobre o tio, porque nós perguntamos.

Márcio: E pra falar precisa te tocar? - o homem era pura possessão e isso me assustou, mas não recuei.

Pérola: Vamos deixar uma coisa bem clara, tá? - me mantive firme - Sou sua namorada e não sua propriedade. De mim você sempre terá respeito e confiança e é o que espero de você. Não pense que irei deixar que me coloque numa redoma e dite minha vida. - ele de repente mudou a expressão que carregava no rosto. - Se pra você é difícil, então começo a acreditar que tomamos o caminho errado.

Márcio: Aquele idiota estava querendo te tocar!

Pérola: Tocar? - não podia acreditar - Você só pode está brincando. Coloca nessa tua cabeça louca que conversar com alguém não é sinônimo de interesse. Você realmente acha que eu usaria a sua casa para aceitar flerte de outro homem? Se pensa assim é porque deve ter conhecido um tipo de mulher muito diferente de mim.

Márcio: Porra! - falou passando as mãos na cabeça feito um alucinado. Que fique careca! Louco! - Desculpa! É que quando vi aquele moleque tocando você, perdi a razão.

Pérola: Pois encontre a sua razão antes que eu perca a minha. - falei e me virei para sair daquele quarto, mas fui impedida. Márcio me puxou para seus braços e colou nossas bocas. Por mais que estivesse irada com ele, resistir àquele homem era algo que eu não queria. O beijo foi tomado por posse e desejo. Quase esqueci como se respira e minhas pernas não ajudaram muito na tarefa de manter meu corpo de pé.

Márcio: Vou tentar me controlar. -'prometeu, embora eu não tenha acreditado muito. - É que quando vi aquela cena...

Pérola: A cena foi protagonizada por você. Agora deixa eu descer e tentar explicar pra Roberta. Graças a você passarei por um interrogatório. 

Márcio: Estou desculpado? - outra vez a ovelhinha inocente tomou o lugar do lobo

Pérola: Tudo bem. - beijei seus lábios antes de sair.

Estou prevendo que esse lobo tem que ser domesticado antes que saia atacando todo mundo que ele suspeita que lhe traz perigo. O homem é lindo. gostoso e totalmente apaixonante, mas tinha que ser louco também? Nada vem de graça né Senhor? 

Aprendendo a AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora