Aprendendo a Amar

Capítulo 42

Pérola

Após a ligação de Márcio fiquei apreensiva. Sua voz demonstrava calma, mas eu sabia que esconder sentimentos era algo que ele fazia muito bem. Tentei me distrair e aproveitei para ficar um tempo com as crianças no jardim. Roberta aproveitou também que o almoço estava bem adiantado e me fez companhia e assim o tempo passou sem que eu percebesse.

Já estava descendo para ir a cozinha, após verificar que as crianças dormiam tranquilas quando um barulho vindo da área de serviço chamou minha atenção. Quase não acreditei quando vi Márcio com vassoura e balde na mão. 

Márcio: Temos uma faxina para começar. - avisou me passando uma vassoura e em seguida pegando alguns produtos de limpeza. Passou por mim indo em direção a sala e o acompanhei até a escada. essas costas e essas pernas não são de Deus! Para completar o homem tem uma bunda de causar inveja. É incrível ! - Está secando minha bunda? - perguntou sem nem olhar para trás.

Pérola: Eu jamais faria tal ato. - Mentira! - Só tentando entender essa faxina.

Márcio: Safada! - sua voz sai em uma mistura de riso. - Eu terei que carregá-la nos braços ou subirá por conta própria?

Pérola: Entendido! Vamos à faxina! - ter esse homem ditando regras é tentador. É espantoso como o desejo consegue ser maior do que todos os meus pensamentos confusos que estava tendo antes dele chegar.

Márcio: Tem muita coisa nessa casa que já deveria ter ido para o lixo. - informou me deixando ainda mais alheia a situação. - Hoje começa um novo ciclo e carregar bagagem sem importância não vale a pena. - É engraçado vê-lo com uma mão no quadril e a outra apoiada na vassoura. Um doméstico muito gostoso.

Pérola: E essas coisas a que se refere seriam?

Márcio: Quando a mãe da Clara faleceu eu fiquei sem saber para onde deveria mandar seus pertences. Num segundo momento pensei em doar, mas caiu no esquecimento e as coisas acabaram ficando no antigo quarto que ela ocupava. O que por esse motivo virou quase um depósito do esquecimento. Vamos ver se ainda tem algo que se aproveite e podemos doar. O resto vai para o lixo.

Pérola: Você acha que isso é o correto a ser feito? 

Márcio: Por qual motivo além do esquecimento eu guardaria aquelas coisas?

Pérola: Clara. - falei deixando minha opinião bem nítida. - Um dia ela vai querer saber mais da mãe. Talvez essas coisas façam falta para ela.

Márcio: Não vou apagar a memória da mãe dela, Pérola. Só não acho que vestidos e sapatos sejam importantes. Eles não irão trazer lembranças necessárias. Não pretendo apagar a mãe dela, longe disso, estarei aqui para falar o que ela quiser saber, principalmente a verdade. - disse já abrindo a porta do quarto. O cheiro de mofo me fez espirrar. Nunca havia entrado lá. Talvez se soubesse o que aquele cômodo guardava tivesse tido curiosidade para isso. - Acho melhor esperar um pouco aí fora enquanto abro as janelas e o ar melhora isso aqui. Faço como sugerido e do corredor começo a ouvir ele batendo com a vassoura nos móveis. Passado alguns bons minutos ouço sua voz me chamando. - Vamos Pérola! Não vou fazer todo o trabalho sozinho. Hoje você é minha ajudante e não pense que seu charme vai te livrar do trabalho. Safada!

Pérola: Eu sou safada? - fingi indignação.

Márcio: Você é muito safada, Pérola. Me deixa doido em todos os lugares impróprios apenas segurando essa vassoura.