Pérola
Aquilo não foi um pedido, foi uma ordem! Mãezinha, que voz de trovão era essa? Meu corpo todo se arrepiou e minha respiração ficou descontrolada. Isso deveria ser assustador, mas estava aguçando algo em mim que passava longe disso.
Márcio: Quem é você? - perguntou com uma calma controlada, mas dava para sentir a fúria contida.
Pérola: Sou a babá da Clara. - ainda não tinha conseguido me virar para saber como era a aparência por trás daquela voz.
Márcio: E é burra por acaso ou apenas não sabe cumprir ordens? - fiquei muda. Que homem mais autoritário e sem educação. - Responda!
Pérola: Eu... eu... - tentei me controlar para não explodir. Precisava do emprego, mas aguentar calada humilhação já era outra história.
Márcio: Burra e gaga. - senti que se aproximava e o arrepio dos pelos da minha nuca foram um sinal disso.
Pérola: Desculpa, senhor. - minha vontade era de manda-lo à puta que pariu, mas me mantive inabalável. - Eu pensei que aqui fosse o escritório. Só queria pegar uns brinquedos de Clara. Sua mãe disse que tinham alguns por lá. - desembestei a falar. Geralmente quando ficava nervosa, minha boca perdia o freio.
Márcio: Saia! - urrou como um bicho. Nessa hora fiz a maior besteira da minha vida. Virei- me para encará-lo e congelei. O homem da voz de trovão estava sem camisa e seu peitoral era bem trabalhado. Tinha braços fortes e firmes. O homem malhava muito! Seu rosto trazia os traços de Clara. E os olhos um vazio que me inquietou. - Agora!
Não esperei para saber qual seria a sua próxima ordem. Praticamente corri deixando as roupas que segurava pelo caminho. Valéria havia me alertado que o filho era problemático, mas isso já beirava a psicopatia. Ninguém pode ser tão mandão assim e encarar isso apenas com ser problemático. Aquele homem era a prova viva de que ogros existiam e não eram tão divertidos como o Shrek.
Quando desci o último degrau da escada, senti meu coração na garganta. Não tem dinheiro no mundo que vai me fazer aguentar esse ogro louco. Daqui o rumo é minha casa e não contei nem até dois para sair dali. Antes de chegar ao portão, lembrei de Clara. Se era difícil para mim, imagina para aquele anjinho indefeso ter um pai desses?
Pérola: Volta lá sua covarde! - dialoguei comigo mesma. - Não vai ser esse trovão azedo que vai te distanciar dos seus sonhos. Encara a fera e mostra que deixou de ter medo de bicho papão há muito tempo. - e foi o que fiz mesmo com as pernas bambas e o coração aos saltos.
Márcio
O dia começava a nascer e não tinha dormido nem uma hora direito. Já havia consultado todos os pediatras dessa cidade e nenhum foi capaz de explicar o porquê que Clara chorava tanto. Cólica. Manha. Medo. Fome. Tudo isso foi cogitado e nenhuma solução foi dada. Eu passava minhas noites com aquela criança nos braços e isso estava me matando.
Até meu trabalho estava sendo afetado. Já não conseguia desempenha-lo como antes e isso me tirava do sério. O meu humor matinal que já era raro, agora se tornou inexistente. Para acompanhar essa bagunça, estava sofrendo de fortes enxaquecas.
Hoje era um dia que o escuro seria a única solução para não enlouquecer de tanta dor. Assim que minha mãe chegou, entreguei Clara aos seus cuidados. Dentro de algum tempo a tal babá chegaria e pelo menos poderia descansar o meu corpo já morto.
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Aprendendo a Amar
FanfictionAmar vai muito além de pele, de corpo, de toque. Amar é alma, espírito. Nem todo mundo conhece esse tipo de amor... Amor que o tempo não apaga... O vento não leva... Ninguém separa.