Capítulo 25

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Márcio



Tentei fechar os olhos quando uma luz branca penetrava em minha pupila, algo apertava meu braço esquerdo como um torniquete, porém macio. Não sabia precisar em quanto tempo as coisas estavam acontecendo, mas percebi a movimentação à minha volta, mãos sobre mim e uma voz feminina falando calmamente. " Senhor, consegue me ouvir? Pode piscar as pálpebras?" Alguns pares de olhos estavam sobre mim, todos em silêncio na expectativa do próximo acontecimento. Examinei a sala e identifiquei a assistente social com quem tinha falado. Ela chamou a minha atenção mais algumas vezes até que consegui retomar totalmente a consciência.

Márcio:  Eu estou consciente. Escuto  perfeitamente... Acho que tive... 

Débora:  Uma crise de pânico. Seu estado geral é bom, mas preciso saber o que desencadeou a crise.  - o teor da nossa conversa saltou em meus pensamentos e, imediatamente, tentei ficar de pé enquanto uma médica falava. Busquei visualmente meu telefone. 

 Márcio: Meu celular, preciso dele. Onde está o meu telefone? - ninguém respondeu, a mulher tentava me acalmar. - RESPONDAM! 

Médica: Acalme-se, o senhor está exaltado. Sente aqui e vamos conversar sobre o que aconteceu antes de você ficar tão alterado. Foi uma ligação? 

Márcio:  Olha... - esfreguei os cabelos e afastei um dos enfermeiros que tentava forçar meus ombros para baixo. - Não quero deitar. Quero o meu celular, droga! Exijo que o  devolvam. Agora! - já sozinho, tentei controlar minhas emoções e liguei para minha mãe. O celular marcava 6:40h, tinha certeza que ela esperava pela minha ligação. Bloqueei todas as emoções e concentrei-me em entender. Precisava entender. 

Valéria: Hoje começa seu calvário. Sinto muito, meu filho. - deu a minha sentença.

Márcio:  Ela nunca vai me perdoar. - um turbilhão de coisas fazia redemoinho com a minha sanidade. - Quem fez isso com a gente?

Valéria: Você! 

Márcio: Mãe, aquelas fotos...

Valéria: Mostraram o que você quis ver, Márcio. Sua prepotência e total descrença nos sentimentos nobres dessa mulher mostraram o que você quis. Não foi capaz de perceber que alguém te amava sem querer nada em troca a não ser o seu respeito, confiança e amor.

Márcio: Eu preciso ver meu filho... - imagens de como ele poderia ser vieram em  meus pensamentos. Eu não tinha acompanhado sua gravidez, não vi quando meu filho nasceu. Eu iria matar quem tinha feito uma barbaridade dessa comigo.

Todas as possibilidades começaram a povoar minha mente, eram tantas chances e nenhuma certeza. Acabei de saber que fui o pior homem que uma mulher poderia ter, saber que sou pai de seu filho. Deus eu sou pai de Enzo! Tinha preocupação na voz de minha mãe, não era só a reprovação às minhas atitudes. Meu filho não estava bem e eu, no fundo, sentia isso. Era muito cedo para que ele passasse por essas dificuldades. Talvez fosse  tarde demais para mim.

Escutei em silêncio minha mãe explicar detalhes de tudo que Pérola tinha enfrentado durante esse tempo. Ouvi-la falar sobre a morte de Eduardo, a perda da loja, o trabalho nas madrugadas, o abandono do seu sonho e tudo que passou sem mim era ainda mais devastador. Contou-me do parto e das condições clínicas dela e do nosso filho, a todo momento ela foi fria e impessoal, nada parecido com a mulher carinhosa que conheço desde que nasci. A única coisa que consegui fazer foi chorar, me sentar junto a parede mais próxima que encontrei e deixar a dor manar em forma líquida pelos meus olhos. Tudo em volta estava embaçado, não tinha foco, meu único sentido funcionando era a audição, estava atento a todos os detalhes relatados por ela.

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