Capítulo 43

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Meses depois...


Pérola



Tudo estava frio ao meu redor, porém havia alguém aquecendo minha vida naqueles dias cinza: ele. A existência de Márcio trazia um sentido diferente no cinza da paisagem. Talvez suas palavras e seu jeito possuíssem uma enorme variedade de cores. E diante dos meus olhos, o simples fato de pensar nele ia cobrindo os traços cinzas, preenchendo-os com tonalidades diferentes.

Caminhei até a janela, as gotas caíam e escorriam pelo vidro, olhei através delas e percebi as árvores se movendo por uma brisa suave. Toquei o vidro e o calor dos meus dedos desfizeram o embaçado. O inverno era uma estação diferente, parecia trazer a introspecção em seus ares úmidos, deslocando-se apressado na direção dos pensamentos, ou até se transformando em brisa, mansamente acolhendo as lembranças, me fazendo recordar com saudade cada uma delas. Instantes que se prolongavam enquanto um sorriso discreto aparecia em meu rosto, em cada recordação, um pouco mais dele. 

As coisas aos poucos foram encontram seu lugar. Rafael estava em uma viagem há uns dois meses e vez ou outra ligava para saber como as coisas estavam. A relação de pai e filho estava encontrando outra maneira de seguir e eu me sentia aliviada por isso. Não justifico as ações de Rafael, mas aprendi que julgamentos não trazem nada de bom. Ele pareceu ser sincero quando disse que a partir de agora queria ser um homem diferente e eu sei que para que isso acontecesse de verdade era preciso que acreditássemos. E embora Márcio quisesse parecer alheio ao pai, era nítido que ele estava tentando se enganar.

Roberta: Uma moedinha de cinco centavos por seus pensamentos. - falou como se estivesse me oferecendo uma fortuna .

Pérola: Nossa! Tudo isso? - me fiz de surpresa entrando na brincadeira

Roberta: Estou juntando dinheiro para a velhice, meu amor. - riu - No momento é tudo que posso oferecer.

Pérola: Então se é para um bem maior eu vou te dizer de graça. Afinal amigos são para essas coisas, né?

Roberta: Com certeza.

Pérola: Estava só pensando em tudo que aconteceu em tão pouco tempo. Olhando para trás parece que faz um século. Enzo já está andando, Bertinha. - meu pequeno já dava seus passinhos pela casa, com uma independência assustadora.

Roberta: Puxou ao pai, adiantado em tudo - sua gargalhada encheu o cômodo - Vai se preparando para as noras que vão aparecer por aqui.

Pérola: Não quero nem pensar nisso... Meu pequeno...

Roberta: Por falar no patrão, acredita que me deu folga  esse final de semana também? Será que devo me preocupar?

Pérola: Deixa de bobeira, criatura. - ri pois sabia que ela estava pensando besteira - Nós não vamos te largar nunca. Apenas sabemos a importância que você tem para nós e o quanto Manuel sente saudade de estar com você.

Roberta: Aquele lá não acha nem os pensamentos sem mim. - rimos juntas. Realmente o marido de Roberta era um completo desastre longe dela. Era cada uma que ela me contava que só Deus na causa. E nesse momento meus sentidos entraram em alerta. Meu corpo sentia a presença de Márcio e isso era muitas vezes assustador.

Pérola: Márcio está vindo.

Roberta: Credo! A mulher sente o cheiro de longe. 

Pérola: Incrível, né?

Roberta: Isso tem outro nome, mas agora vou picando a mula antes que presencie algo tremendamente picante. - saiu correndo me deixando rindo feito boba. E em poucos segundo a imagem de Márcio entrou no meu campo de visão, fazendo com que um sorriso bobo surgisse em meus lábios.

Márcio: Estava procurando por você - falou me abraçando e depositando um beijo em meu pescoço. 

Pérola: Quer algo?

Márcio: Quero tudo. - me olhou com tanta intensidade que meu coracao perdeu até uma batida.

Pérola: De mim você já tem tudo, não basta?

Márcio: Isso não é verdade. - falou se encostando na mesa que estava próxima de seu corpo

Pérola: Claro que é. Sou sua sem nenhuma restrição.

Márcio: Falta uma coisa. - sorriu do jeito que me deixava ainda mais apaixonada 

Pérola: Que é...

Márcio: Casar comigo. - seus olhos estavam cheios de expectativa

Pérola: Mas para mim já somos casados. - falei com toda naturalidade, porque era verdade

Márcio: Eu sei, mas pode até ser bobeira, sei lá... Coisa de bobo, mas eu sonho em te ver assinando meu sobrenome, entrando na igreja com um vestido todo lindo. Sonho em ouvir te dizer sim. Dizer que aceita ser minha para sempre.

Pérola: Assinar seu sobrenome e o vestido realmente podem até ser um sonho para você, mas ser sua para sempre? - vi que ele prendeu a respiração e tive até vontade de rir - Eu já sou.

Márcio: Acha isso besteira?

Pérola: Você sabe que sou romântica e acredito sempre no amor. - acariciei seu rosto lhe dando conforto. - Mas para falar a verdade nunca sonhei assim com casamento. Não acho bobo, ao contrário, mas não foi algo que ficou passando pela minha cabeça como uma meta. Sempre sonhei em ter um grande amor, ser mãe... casar de papel passado como diz minha mãe, não era necessariamente uma obrigação. - senti nesse momento seu corpo enrijecer pelo uso de minhas palavras.

Márcio: Obrigação? - sabia que essa palavra tinha pesado para ele e pensando melhor entendia.- Então casar comigo seria uma obrigação para você?

Pérola: Claro que não, amor. - peguei em seu rosto que já se negava a me olhar. - Eu já me sinto casada com você, só não acho que para sermos felizes precisamos disso, sabe? O mais importante é que nos amamos e respeitamos como marido e mulher. Agora se realmente é necessário para você , não vejo problema algum em casarmos como quer.

Márcio: Esquece o que falei. - a tempestade se formava lá fora e aqui dentro. Não sei como uma conversa tão natural se transformou nisso. - Vou lá pro escritório. - seus braços colocaram uma barreira entre nós e isso doeu. - Tenho umas ligações para fazer. - foi saindo e me deixando com o coração apertado por tê-lo magoado.

Pérola: Márcio... - ainda tentei segurá-lo, mas sabia que seria pior continuar com aquele assunto. 

Assim que ouvi a batida da porta fui em direção ao telefone. Tinha sido insensível com Márcio e sabia disso. Agora surgia uma loucura em minha mente e sabia que Valéria era a única que poderia me ajudar.



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