Capítulo 29

22.3K 2.6K 185
                                    

Já fazia uma semana que eu estava presa na fisioterapia desse hospital, tentei por diversas vezes sair mas os movimentos limitados das minhas pernas me impossibilivam. Passar mais de um ano sem me movimentar deixou sequelas felizmente quase cem por cento reversível.

Quando me olhei no espelho pela primeira vez quase não me reconheci, estou bem abaixo do peso e com um rosto palido demais, meu lábio inferior tem uma cicatriz profunda. Minha barriga tem várias cicatrizes de cirurgia, precisei tirar parte do intestino danificado pelo peso das ferragens sobre o corpo do soldado que eu descobrir se chamar Edward e ter apenas uma semana no camp, um dos meus ovários também foi removido depois do aborto.

- Isso Ella, você consegue. - Mary a fisioterapeuta me ajudava a voltar a andar sem tropeçar nos meus próprios pés, o impacto na cabeça machucou o lado esquerdo do cérebro e por isso minha perna direita sofre com os movimentos, e minha mão direita ainda não consegue fechar em torno da bola completamente.

- É facil falar, doutora. - resmunguei enquanto ela colocava alguns pesos em minhas pernas e eu lutava para conseguir erguê-los. As vezes Gezy vinha me olhar escondido mas quem me dava forças era o Troy que estava aqui todos os dias.

- Nunca vi alguém ter mais garra do que você, Ella. Agora deixe de chorar. - Troy comentou me entregando a garrafa de água, gargalhei para ele enquanto bebericava um pouco e continuava meus exercícios.

- Troy está certo, nenhum dos meus pacientes conseguiu ter uma melhora tão rápida. - ela mal sabia qual era o meu incentivo, eu precisava voltar para o Fire e torcer para que ele não tenha me esquecido enquanto os garotos tratavam de localizar meus alvos.

- Quanto mais rápido você se recuperar vou poder te levar para a minha cama. - ele fez um movimento vulgar e Mary desviou o olhar constrangida.

- Nem em sonho, Troy. Desculpe, Mary esses homens não tem filtro. - ele gargalhou e ela apenas abanou as mãos dispensando os comentários.

- Tudo bem, agora aperte essa bola com a mão direita enquanto empurra os pesos com os pés. - incapaz, infelizmente era assim que eu me sentia, um soldado excluído e incapaz. Nunca mais teria os mesmos reflexos ou as mesmas habilidades de antes.

[···]

- Ella, o general não quer você no Camp. Agora para de birra!- fui obrigada a ficar na antiga casa do meu pai, ninguém queria me ver no Camp desse jeito é óbvio.

- Claro, elimine os mais fracos e mate os aleijados! - resmunguei subindo a escada com dificuldade.

- Pare de drama, você não está aleijada. Agora sobe logo essa maldita escada antes que eu te coloque em uma cadeira de rodas. - joguei a bolsa nele e me apoiei para subir mais rápido. Empurrei a porta para ser preenchida por lembranças do passado, eu correndo por essas escadas e as salas separadas apenas para meu pai tentar me achar.

- Odeio essa casa. - murmurei caminhando para dentro e me jogando no sofá da primeira sala de reuniões. Resmunguei alguns palavrões por causa da minha perna e Troy me olhou com pena. - Pare de me olhar assim, é melhor me matar do que sentir pena de mim.

- Vamos fazer um trato? - ele se jogou ao meu lado soltando o ar dos pulmões com dificuldade, assenti enquanto olhava as paredes amarelas da sala repleta de móveis marrons antigos. - Te conto o que está rolando e em troca você me deixa te ajudar e continua a fisioterapia, feito?

- Feito. - sentei mais confortavel no sofá de couro e ele ficou de frente para mim me olhando com cautela, seus olhos verdes brilharam em algo próximo a tristeza e sua testa bronzeada enrugou.

- Estão dando entrada na sua aposentadoria, Mary disse que você não poderia mais voltar por causa da saúde frágil. O Gezy não vai localizar quem derrubou o helicóptero e muito menos te proporcionar a vingança que quer, Gezy está organizando uma festa e vai te pedir em casamento. - nesse momento não me importei com a dor ou a resistência dos meus músculos a mão quase se fechou por completo.

- Esses filhos da puta! - gritei socando o sofá com força, eu sabia que estavam me excluindo. Troy segurou minhas mãos fazendo um carinho delicado.

- Eu vou continuar te ajudando se quiser e vou te ensinar a atirar novamente. Mas tem que me dizer tudo que aconteceu, Ella eu não posso te ajudar as cegas. - concordei e comecei a contar tudo o que tinha acontecido em Homeland, eu confiava em Troy com minha vida e sabia que ele iria me ajudar independente de qualquer coisa.

- Agora você entende? - um sorriso largo se depositou em seu rosto e ele me colocou nos braços me levando até a parte de trás da casa onde ficava o pequeno campo de tiro ao alvo.

- Entendo, nunca fiquei tão feliz por te ver feliz. Se esse cara te ama de verdade vou ficar do seu lado para tudo. Agora vamos treinar! - uma mesa repleta de armas e munições, alguns alvos distantes e um desafio pela frente, reaprender a ser um atirador de elite.

Fire - Novas Espécies [L1]Onde histórias criam vida. Descubra agora