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Da primeira vez que recupero os sentidos, sinto-me confusa

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Da primeira vez que recupero os sentidos, sinto-me confusa. A custo abro os olhos, mas não entendo onde me encontro ao certo. Pouco mais consigo perceber, pois rapidamente volto a adormecer. Da segunda vez, uma dormência percorre-me o corpo e a minha cabeça dói de uma forma muito intensa. Tento mover-me, mas existe dor presente em cada um dos meus músculos.

Não, é demasiado cedo. Não sei por quanto tempo dormi, porém não deve ter sido por muito visto que ainda não me sinto completamente recuperada. Preciso de mais tempo. Reviro-me sob os lençóis tentando encontrar uma posição que seja minimamente confortável. Após algumas tentativas, deixo-me novamente levar pelo inconsciente.

A luz encadeia-me os olhos obrigando-me a acordar. Oiço uma cadeira a ser arrastada, o som cada vez mais perto de mim. Por momentos, penso que ainda estou a dormir. No entanto, sinto uma presença perto de mim. Para grande desagrado meu, abro os olhos, forçada a enfrentar a realidade.

De início a minha visão está turva. Vejo tudo esborratado sem conseguir encontrar o foco. Então, pouco a pouco, tudo em meu redor começa a definir-se mais e mais. E é nesse momento que eu o vejo.

O rapaz encontra-se sentado na cadeira, os braços cruzados no peito. De repente quase parece que está a dormir, mas eu sei que não. O seu olhar está pregado em mim, à espera de algo.

– Tens fome? – Pergunta num tom de voz quase rouco.

O meu estômago contorce-se como se quisesse responder por ele próprio. Preciso de comer rapidamente depois de todo o desgaste das últimas horas. Aceno tão levemente que acho que ele não vê. Mas sem mais comentários, o rapaz levanta-se e deixa-me sozinha. Aproveito para tentar perceber onde estou.

O quarto não tem janelas, o que não me possibilita a verificar se é de dia ou de noite. Na realidade, nem sei que dia é hoje. O espaço em si não é muito grande. Tem uma cama na ponta oposta, mas esta encontra-se feita até à perfeição. Quanto a objectos pessoais, não há nada que me leve a pensar que mais alguém dá uso àquele espaço. Pelo menos, não há algum tempo.

Quando o rapaz volta, vem acompanhado de um tabuleiro que deposita nos pés da minha cama. Lá tenho uma tigela de sopa, um pedaço de pão escuro e um copo com água. Esse é o primeiro que eu ataco. Bebo a água toda em três tragos. Até agora não me tinha apercebido da sede que tenho. Depois sigo para a sopa, comendo pedacinhos de pão aos poucos. Em todo esse tempo o rapaz não tira o olhar dele de cima de mim. Observa cada movimento meu, o seu rosto impassível.

Ele é bonito. Não do tipo exagerado, como se fosse o rapaz mais bonito que já vi, mas é realmente bonito. Tem uma certa postura, um brilho difícil de explicar. Pele morena, rosto oval delineado pela barba que já não faz há alguns dias; lábios cheios e rosados. No entanto, o que mais chama à atenção são os olhos. Nunca vi algo assim. O olho esquerdo é de um cinzento tão peculiar como o mar num dia de tempestade. Enquanto que o direito é preto como a noite.

Filhos das RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora