Rick fica em choque ao ver-me a aproximar-me dele. Antes que eu tenha tempo de realmente chegar até eles, ele termina a conversa com o Presidente, que logo de seguida já estava rodeado por mais duas pessoas a falarem com ele. Eu sei que o rapaz está alarmado, enquanto se dirige até mim, por muito pouco que o conheça. Penso nas possíveis reacções que ele irá ter com as novas informações e alterações no plano original. Nenhum deles conhece Amriel como eu conheço. Contudo, será que eu o conheço também?
– Imogen, que raio?
– Mudança de planos, temos de sair daqui. – Ele não responde ao meu aviso. – Agora, Rick.
Não preciso de me repetir. Segue-me sem qualquer questão, demonstrando afinal que confia em mim.
Considero como posso sequer ter considerado que seja ele o infiltrado. Se assim o fosse, ele nunca aceitaria qualquer alteração de planos sem que eu explicasse realmente o que está a acontecer.
Encaminho-nos segundos as direcções de Amriel. Nunca estive nesta parte da Casa Presidencial, não que tenha muito interesse em conhecer. Quando chegamos ao corredor, abro a porta que me foi instruída. É realmente um escritório. Por isso, até aqui, Amriel não me mentiu.
No momento em que a porta se fecha, vejo a indagação no rosto de Rick, que ainda aguarda uma explicação.
– Preciso que não te passes – aviso logo.
O seu rosto mantém-se imutável. – Desde que me expliques o que está a acontecer.
– Temos uma "toupeira" dentro dos Filhos. Eles sabem do nosso plano.
– Como assim? – Alarme estala na sua voz em cada sílaba. Partilho do mesmo sentimento quando penso em Kai e Annaleah à porta do Quartel, a aguardar que seja a altura certa.
Alguém nos traiu. A minha preocupação começa, lentamente, a tornar-se em raiva.
– Eles sabem de tudo – aponto para a porta. – De todo o nosso plano, Rick.
Agora ele reage à informação passada. Começa a deambular de um lado para o outro. A observá-lo, fico cada vez mais ansiosa ao minuto. Sei que ele está a pensar em algo, numa forma de revertermos e sairmos vitoriosos no fim. Porém, por algum motivo, não consigo acalmar-me. Apetece-me subir novamente as escadas e matar o causador de tudo isto. Terminar com tudo de uma vez por todas, seja quais forem as consequências.
– Como soubeste de tudo isto? – Questiona-me, cortando o silêncio.
A parte difícil chegou. – Amriel contou-me.
Não consigo sequer descrever a sua reacção. Múltiplos sentimentos atravessam o seu rosto ao mesmo tempo que ele processa o que lhe acabo de dizer.
– Amriel?
Mantenho-me silenciosa, acreditando que é o melhor neste momento. Tudo o que tenho de fazer neste momento é mantê-lo calmo. Não podemos correr mais riscos, sem avaliarmos primeiro a situação por completo. No entanto, não temos muito tempo. Amriel disse que ia arranjar uma forma de trazer até nós o Presidente, sozinho. Temos de agir rapidamente.
Rick, contudo, não partilha dos meus pensamentos e não compreende de imediato a emergência da situação. Ele parou de deambular. No meio do escritório, encontra-se imóvel, com os braços cruzados no peito. Descrença tomou conta de todo o seu corpo.
– Sim, - resolvo responder. – Eu acredito nele.
Eu sei o quão tolas as minhas palavras devem parecer. Quando as processei, no meu subconsciente, pareciam mais confiantes e credívieis.
– Quem é que ele ameaçou? Imogen, ele deve ter feito algo. É quase impossível de conseguir compreender o que me acabas de dizer.
Mas como posso eu explicar-lhe que tudo o que aconteceu nas últimas semanas levou-nos a este momento? Como por exemplo, eu ter sido testemunha da mudança gradual de Amriel, desde o nosso primeiro encontro. Com que palavras lhe explico o rapaz que está por detrás da máscara de kakoi, aquele que por tantas vezes já me salvou? Ele não é apenas um kakoi. Existe uma pessoa por detrás, uma criança que nunca foi salva. Tal como eu, mas também como todas aquelas crianças que aguardam no Quartel que alguém as vá resgatar. Mais do que eu, Amriel é o exemplo de que somos somente um produto da sociedade.
– Rick... Eu acredito nele. – Agora soou mais confiante, e consigo perceber nele a mudança. Ele está indeciso, descrente, mas ao mesmo tempo não sabe como não pode acreditar em mim.
Rick abana a cabeça, como se quisesse ignorar o que lhe passa pela mente. – O que estamos aqui a fazer?
– Amriel diz que vai trazer o Presidente para aqui, tentando desaparecer com as suspeitas do nosso plano. Pediu-me que aguardássemos.
– Ah! Então ele agora já dá ordens? – E começa a deambular novamente. – Tanto trabalho para...
Todo o meu corpo desperta com a sua interrupção de palavras. Vozes chegam até nós do corredor. São eles. Ou assim, eu espero.
Agarro na adaga que mantive todo este tempo presa à minha perna. A arma é leva na minha mão. Pertence a Kai, e por breves instantes, atrevo-me a pensar nele. Suplico para que esteja tudo bem do lado deles, que não tenham sido apanhados em toda esta confusão.
– Bem, Imogen – Rick sussurra, enquanto se coloca em posição de ataque, à espera do que quer que esteja a direccionar-se para nós. – Parece-me que vamos descobrir se sempre podemos confiar no teu demónio.
E, com toda a fibra do meu corpo, imploro para que sim.
Até ao próximo capítulo!
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Até ao próximo capítulo, Filhos.
Atenciosamente,
a autora.
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Filhos das Ruínas
Science Fiction• Vencedor do Wattys na Categoria de FICÇÃO CIENTÍFICA 2019 • "Após a Grande Guerra, não ficou nada mais do que restos do que outrora formou as nações. Sobraram apenas pessoas quebradas, outras doentes, outras loucas; lugares sujos e sem vida; u...