• Vencedor do Wattys na Categoria de FICÇÃO CIENTÍFICA 2019 •
"Após a Grande Guerra, não ficou nada mais do que restos do que outrora formou as nações. Sobraram apenas pessoas quebradas, outras doentes, outras
loucas; lugares sujos e sem vida; u...
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Kai não consegue ainda acreditar na sua audácia. É claro que desde sempre tem tido o desejo de saber como seria beijar a rapariga, porém nunca num milhão de anos imaginou que fosse ter a coragem para ir para frente com isso. Mas que mais podia fazer? Ela estava ali, à sua frente, transtornada e completamente convencida que todos a odeiam. Não podia deixá-la sentir-se dessa forma, não quando nem sequer remonta a verdade. Está bem, alguns sim podem nutrir esses sentimentos em relação a ela, contudo isso é porque ainda não a conhecem. Basta passar algumas horas com ela e é impossível não entender o quão diferente ela é de todos os kakois com os quais já se encontraram.
O seu único receio é saber como irá enfrentá-la? E que frase foi aquela que disse no fim, a prometer algo que nem ele sabe se será capaz? Ele está ali com uma missão – salvar o seu irmão. Esse é o único motivo para ter forças para se levantar da cama todos os dias e continuar a lutar. Aidan está em apuros e é o seu dever tirá-lo dessa confusão.
Abana a cabeça enquanto entra no quarto. Agora não há mais nada a fazer. Ele terá de agir da melhor forma consoante o momento. Mas bolas, como é possível que só pense em beijar aquela rapariga novamente? Imogen é como uma droga e ele tem de distanciar-se. Pelo menos, até ter o seu irmão em segurança consigo.
Quem te garante que ela ainda estará cá depois disso? A voz da razão atormenta-me. Porém, a decisão mais sensata é essa. Terá de lutar contra os seus sentimentos, ou adiá-los de certo modo.
– Tu consegues – diz a si mesmo em frente ao espelho.
As olheiras irão desaparecer aquando tiver uma boa noite de sono, tal como o cansaço e dores que se espalham pelo seu corpo. Veste uma t-shirt preta e passa novamente com a toalha no cabelo. Está com melhor aspecto do que aquele que tinha quando chegou. Os cortes ainda estão bem avermelhados no seu rosto, mas não é nada que não esteja bom daqui a uns dias. Já sofreu ferimentos piores.
Respira fundo e prepara-se para ir ter com Rick e com os restantes.
Anda pelos corredores, ainda conhecendo os caminhos de cor. Pensava que por agora já os teria esquecido ou ficaria extremamente confuso, mas não. Conhece-os como a palma da sua mão.
A sala que Rick ocupa como escritório é o mesmo que Paul ocupava, no seu tempo activo nos... Filhos. Kai sente a nostalgia a invadi-lo, visto que grande parte da sua adolescência foi passada dentro daquelas quatro paredes claustrofóbicas. Se tivesse permanecido naquele lugar agora serie ele a ocupar a cadeira de couro onde Rick está confortavelmente sentado. Ele seria o sucessor de Paul, no momento certo, e liderá-los-ia na sua luta contra o Estado. Questiona-se se ainda tem em si essa capacidade. Houve alturas em que achou que somente ele poderia tomar a responsabilidade desse papel, no entanto conhecendo Rick como conhece sabe que ele está a desempenhá-lo tão bem quanto pode.
Kai entra na sala, sem pronunciar uma palavra. Todos os olhos voltam-se para si, inclusive os dela. Sente o seu estômago a revolver-se com o nervosismo. Quem lhe dera puder cruzar a sala, e envolvê-la nos seus braços. Abana a cabeça, tentando apagar todos esses pensamentos. Não são propositados nem oportunos.