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A pouco e pouco, o burburinho começa

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A pouco e pouco, o burburinho começa. Vejo grupos a juntarem-se mais afim de puderem cochichar melhor sobre mim. Eu sou o novo tópico, a bomba que acaba de chegar. Olho para a minha roupa cheia de sangue e rasgadas dos ferimentos que sofri. Depois analiso Kai, também não está em melhor estado com a t-shirt rasgada e o rosto todo marcado. Que par e que raio de primeira impressão estamos a dar – bem, a com maior peso é só a minha. O Kai não é nenhum estranho aqui.

Mesmo com tudo isto, só quero descansar. Posso pensar nisto depois.

– Vamos arranjar algum sítio para descansares, sim? – Kai diz-me, interrompendo e praticamente lendo os meus pensamentos.

– Por favor – suplico.

Rick indica-nos o caminho, forçando-nos a caminhar por entre as pessoas. Não sei se é realmente necessário este caminho ou se existe um alternativo, no entanto anseio pelo poder de teletransporte para conseguir escapar a todos os olhares. Ao fim de cinco minutos, que me pareceram horas, Rick leva-nos por outro túnel. Portas demarcam-se na pedra que compõe a parede, sistematicamente e sempre iguais, o que me leva a concluir que estamos na zona residencial. Mais dez túneis com a mesma estrutura arquitectónica divergem daquele onde nos encontramos.

– Imogen – Rick chama-me.

Olho em frente, quebrando o meu olhar fascinado por este lugar.

– Este vai ser o teu quarto. A Annaleah partilhá-lo-á contigo, até termos mais quartos disponíveis. Kai, o teu será o do lado. – Ambos assentimos. – Eu vou pedir à Tessa que te venha mostrar o caminho para os chuveiros, pois não sei onde anda a Leah.

Imagino-a a cumprimentar os seus conhecidos que não vê há anos. Fico feliz por ela. Acredito que estar de volta a este lugar deve trazer-lhes algum tipo de conforto.

– Obrigada – digo apenas.

Kai solta-me. Por breves instantes, fico desiludida pela recente ausência do calor do seu corpo. Com o intuito de lutar contra esse sentimento, despeço-me deles e entro no meu novo quarto.

Em termos de espaço, é muito mais pequeno do que aquele que tinha no refúgio de Kai e Annaleah, mas não deixa de ser aconchegador. As paredes são de pedra, por isso seria de imaginar que é frio, mas não. Há uma cama ao canto com uma mesa de cabeceira e uma cómoda no lado oposto. Deito-me na cama, o colchão é macio. Quando a minha cabeça encosta na almofada, os meus olhos forçam-me a fechar-se. Mas não posso. Primeiro preciso de tomar banho, depois comer algo, e somente após tudo isso posso dormir. Desta vez, tenho que induzir a minha recuperação como deve de ser.

Não fico muito tempo à espera de Tessa. Cerca de dez minutos após me ter deitado, oiço uma leve batida na porta. A esforço, levanto-me para encarar a rapariga. O boné continua na sua cabeça, escondendo-lhe metade do rosto. Ela fica assim, imóvel à porta, sem dizer ou fazer nada.

Decido aliviar o ambiente. – Eu não mordo.

De início, acho que Tessa não vai achar piada. Não posso dizer que eu tenha uma veia engraçada. Somente sei sê-lo quando a minha língua pinga sarcasmo ao mesmo tempo. Porém, uma pequena gargalhada infantil ecoa pelo quarto. É bom ouvir alguém a rir genuinamente em tanto tempo. É uma sensação nova e reconfortante.

Filhos das RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora