• Vencedor do Wattys na Categoria de FICÇÃO CIENTÍFICA 2019 •
"Após a Grande Guerra, não ficou nada mais do que restos do que outrora formou as nações. Sobraram apenas pessoas quebradas, outras doentes, outras
loucas; lugares sujos e sem vida; u...
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Amriel dá um passo em frente, cortando toda a distância que se entrepõe entre nós. A minha respiração suspende-se, incerta do que vai acontecer.
Quase não o reconheço de tão normal que parece. O fato preto que enverga assenta-lhe que nem uma luva; o cabelo cor de areia está num reboliço, mas sem parecer despropositado. Ele não tem qualquer máscara a cobrir-lhe o rosto. Como se apresenta, passa bem por um cavalheiro. Aliás, por breves instantes, consigo mais uma vez ver como ele seria se não tivesse sido alterado como eu - um homem bonito com o seu encanto próprio, em vez de uma máquina de matar.
Estende-me a mão, mas eu sei que não é um convite. Aceito-a sem conseguir impedir o arrepio que me atravessa toda a espinha. As suas mãos são macias, apesar de tudo.
- Que surpresa, encontrar-te aqui de todos os sítios onde podias estar - ele diz. Um sorriso irónico nos seus lábios. - Tens algum desejo de morte?
Não consigo responder de imediato. Tenho de engolir em seco e juntar toda a minha coragem para conseguir olhar para ele. Devido à sua altura, e da pouca distância que ele força entre nós, tenho de olhar muito para cima para conseguir chegar aos seus olhos. Quando eu os encontro, são como duas augites a observarem-me.
- Talvez tenha - por fim, respondo.
- Achas que isto é um jogo?
A raiva cresce em mim. Fui tão tola em deixar-me levar por este plano estúpido, claro que algo assim ia acontecer. Eu tinha medo que alguém me reconhecesse, mas não que fosse Amriel. Não estava de todo à espera sequer que ele me aparecesse à frente.
- Como não estás morto?
- Da mesma forma que tu não estás, Imogen. Somos mais resistentes do que realmente dás crédito.
Faço uma careta. Só quero fugir. Olho para todos os lados, à procura de uma solução. Esta não é a primeira vez que tenho de arranjar uma sob pressão, embora já comece a tornar-se um hábito em ser a fugir da mesma pessoa.
Só mais um pouco. Eles já deram pela tua falta. Não tarda estão aqui.
Brevemente, os meus olhos passam pelo Presidente. Agora, o seu grupo de admiradores diminuiu. Encontra-se somente acompanhado de mais um homem. Ambos parecem estar a comentar algo em vozes muito baixas, pela proximidade que mantêm um do outro. O olhar do homem que tenho de matar passa pela sala, parando em mim por coincidência. Nesse momento, Amriel vira-me encobrindo-me com o seu corpo.
- Vou voltar a repetir: O que estás aqui a fazer? - A sua voz parece um sussurro agora.
- Vim só aproveitar um pouco da festa.
A sua cabeça pende de lado. - A ideia que te está a passar pela cabeça não é uma boa ideia - avisa-me.
- Como podes saber o que estou a pensar?
- Não é muito difícil, visto as circunstâncias, e já ando atrás de ti há algum tempo para conhecer os teus movimentos e intenções.
- Não soou nada obcecado - solto.
Ele puxa-me mais para si. - Imogen, eu posso condenar a tua vida neste momento. O Presidente está a menos de três metros de nós. Seria uma enorme vantagem para mim.
- Então porque não o estás a fazer? - A minha impulsividade explode nas minhas palavras sem controlo.
- Não tens minimamente receio que eu realmente faça isso?
- Tenho - redargo sinceramente. - Mas não sei do que tenho mais medo. De que me desmascares ou que estejas a dançar contigo como se fôssemos amigos.
Amriel solta uma gargalhada que, para minha surpresa, parece combinar com ele. Consigo ver a sua beleza. - E eu que achava que éramos amigos.
- Lamento informar-te que não partilho dessa tua ilusão sádica.
- Porque tens tanto medo de quem és?
A pergunta apanha-me desprevenida. Olho para ele incapaz sequer de perceber o seu intuito.
- Um monstro, queres tu dizer?
Ele faz um esgar. - Tu tens potencial que não estás a aproveitar.
- Mas irei usá-lo, quando te matar - retruco. - É uma promessa.
- Fico ansiosamente à espera.
Tento me separar, mas não consigo. Amriel agarra-me numa mão e força-me a dar uma pequena volta sobre mim mesma. Sinto o meu vestido girar sobre o meu corpo, leve como uma brisa de verão. Quando termino a volta, ele puxa-me novamente para ele quebrando qualquer barreiras.
- Vou contar até dez, Imogen, e quero que saias daqui o mais rápido que conseguires. Não olhes para trás. Não pares até achares que estás segura.
- Porque estás a deixar-me ir?
- Talvez goste da caça, ou da tua personalidade ousada. Saberás da próxima vez que nos encontrarmos.
Em choque, não me movo. Não faz sentido ele deixar-me ir quando me tem ali, sem lugar nenhum para fugir, sem ninguém para me ajudar.
- Não me faças arrepender-me da minha decisão. Vou largar-te agora. Um...
Não espero para ouvir mais nada. As minhas pernas levam-me automaticamente para fora daquele salão. Não olho para trás nem uma única vez, como ele me indicou. Só páro quando choco contra Kai. Os seus braços envolvem-me para controlar os tremores que me percorrem o corpo. Annaleah está atrás dele com Rick a seu lado.
- Imogen! Íamos agora à tua procura. O que aconteceu?
Desenredo-me dos braços do rapaz. Não consigo suportar que alguém me toque neste momento. Não quero falar, nem pensar. Faço apenas sinal para que me sigam. Temos de mexer-nos rapidamente, antes que Amriel mude de ideias. Não estou segura aqui. O meu coração subiu até à minha boca, a minha respiração está irregular. Nem entrar no carro me acalma.
- Estás bem? - Kai pergunta-me, com verdadeira preocupação no seu rosto.
- Sim, perdi-me só isso - minto. - Vamos voltar para casa.
Ele assente e liga o carro. Annaleah e Rick sentam-se na parte de trás do carro, em silêncio. Em segundos, estamos a mover-nos.
Sem conseguir controlar-me, olho pela janela para a mansão. Talvez seja imaginação minha, mas consigo jurar que Amriel está na varanda a olhar na nossa direcção.
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Obrigada por mais uma leitura. Até ao próximo capítulo.