• Vencedor do Wattys na Categoria de FICÇÃO CIENTÍFICA 2019 •
"Após a Grande Guerra, não ficou nada mais do que restos do que outrora formou as nações. Sobraram apenas pessoas quebradas, outras doentes, outras
loucas; lugares sujos e sem vida; u...
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Está demasiado escuro para ver alguma coisa. Sob um grito abafado tento me libertar, mas os meus pulsos estão presos à maca. Entro em choque. Não, outra vez não. Grito pelo que sei que vai acontecer, grito pela dor agonizante que sei que vou sentir no momento em que a injecção espetar-se no meu braço.
O homem de bata aproxima-se de mim com a agulha na mão. Reparo no verde do líquido dentro dela e estremeço. Penso em fugir, contudo estou imobilizada. Não tenho para onde ir. Lentamente, arregaça-me a manga do braço esquerdo o suficiente para ter acesso às minhas veias. Sem qualquer dificuldade, visto que já o fez comigo e com todas as outras crianças, insere a agulha na minha veia a pulsar. O líquido entra frio. Sinto-o a espalhar-se com um temor que quase me bloqueia a respiração. Espero pelo pior.
Mas é então que me apercebo de que algo não está bem. Sinto uma pontada no âmago e na consciência. Eu estou a sonhar, penso para mim. Quase automaticamente, o medo dissipa-se. Tudo em meu redor pára no tempo. Levanto-me da maca e olho em volta. Então dou por ele – Amriel. Também ele se encontra congelado no tempo, um sorriso aterrador preso nos seus lábios.
Um toque no ombro desperta-me. Acordo a transpirar.
O meu primeiro instinto é colocar a mão sobre o braço esquerdo para me assegurar que está tudo bem. Demoro alguns segundos a regularizar a minha respiração e a aperceber-me que realmente estou acordada.
Tocam-me novamente. Um grito prepara-se para sair da minha boca no exacto momento em que alguém a cobre com a mão. Abro os olhos em choque para encontrar Kai a observar-me com um ar neutro.
– Em cinco minutos, vai ter comigo lá fora. – Sem acrescentar mais, sai do quarto.
Continuo deitada com o coração aos pulos. No relógio da parede indica que passa pouco das três. Mas que raio se está a passar com este rapaz? O que acabou de acontecer?
A custo, levanto-me. Visto as calças e calço as botas o mais rápido que posso.
Kai espera-me, descontraidamente, encostado à parede do corredor. Com a iluminação sobre ele, parece menos apavorante. Está todo vestido de preto, o que lhe destaca mais os olhos. Uma athame está guardada no coldre preso em redor da coxa direita e uma pistola no que lhe circunda a cintura. Um cheiro doce e perfumado chega até mim. Denoto que o seu cabelo está molhado, deixando-o ainda mais escuro e desgrenhado.
Quando dá pela minha presença, o seu olhar percorre-me dos pés à cabeça. Interrogo-me sobre o que ele estará a pensar, mas não consigo sequer formar uma ideia.
Não precisa de falar para eu saber que o devo seguir. Percorremos o longo corredor, viramos à esquerda para parar em frente de uma porta de metal. A tinta começou a descascar dando lugar à ferrugem.
Kai agarra num dos casacos que estão pendurados num bengaleiro velho e atira-mo.