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Como seria de esperar na linha de evolução de uma sociedade humana, decaem sempre níveis que separam os mais pobres dos mais ricos

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Como seria de esperar na linha de evolução de uma sociedade humana, decaem sempre níveis que separam os mais pobres dos mais ricos. A utopia de que é possível todos terem os mesmos direitos e oportunidades não passa disso mesmo – uma utopia. Talvez se não tivesse passado pelo que passei, se já não tivesse visto o que vi poderia acreditar nesse ideal. Contudo, acontece-me o oposto.

No meio de uma multidão adornada com as melhores jóias e relíquias de outros tempos, com os seus vestidos pomposos e os seus copos finos com bebidas caras, não consigo deixar de me sentir revoltada. Observo todo e qualquer rosto, a tentar perceber se eles agem assim porque realmente são assim, apedrejados de ignorância, ou se não passa de uma farsa tal como nós. Há tanta fome em redor das fronteiras e aqui há comida a mais. Questiono-me se sou a única que pensa desta forma.

Kai encontra-se ao meu lado, rígido. O seu olhar atento a qualquer indivíduo que se movimente. Ele não liga nem um pouco a todo o luxo exagerado que nos rodeia, o que me leva a crer que ou ele realmente não se importa com isso e não é impressionável ou então está habituado a estes círculos. Pela postura que assume, muito semelhante à que identifiquei em Annaleah mais cedo, opto pela segunda opção.

Durante o meu treino no Quartel, também houve ocasiões em que tive de atender a festas assim, com um único propósito: mostrar-nos como a próxima geração que manteria a nossa população segura. No entanto, nunca atendi a nenhuma que tivesse tanta pompa e luxo e desperdício. Que fantochada. Os meus olhos circundam mais uma vez a sala. Este grupo de pessoas não merece estar segura.

– Consegues vê-lo? – Annaleah pergunta.

Kai abana a cabeça. – Talvez ainda não tenha chegado. Já sabes como ele é.

Antes de conseguir controlar a minha curiosidade, inquiro: – De onde o conhecem ao certo?

O rapaz responde-me num suspiro. – Vamos dizer que já fizemos parte das crenças dele e de todos os resistentes.

Apesar de já desconfiar, a surpresa toma conta do meu corpo. Eles fizeram parte da Resistência. Agora, tudo faz sentido.

– Porque não me disseram antes que fazem parte deles?

– Fizemos – Annaleah corrige-me. – Há mais de um ano que deixámos tudo isso para trás.

– Qual foi o motivo?

Kai desvia a sua atenção para mim, durante instantes. No seu olhar, não percebo o que vejo. Será tristeza, raiva? Com ele é impossível saber.

– Rick cresceu connosco num mundo onde tudo o que nos foi ensinado foi o ódio pelo Estado. Quando deixámos de concordar com as medidas deles, viemo-nos embora. O Rick ficou.

Baixo o meu olhar. Não me arrependo da questão, mas arrependo-me do que provavelmente eles estão a sentir ao reviver tudo. Tudo o que sei da Resistência não me faz querer ser a melhor amiga deles, aliás se houvesse outra alternativa não estaria aqui. Mas há algo que não podemos negar: tudo o que eles fazem, fazem em prol do povo. Todos os seus ataques à Alta Sociedade, ao Presidente Ross em si. Sem eles, muito provavelmente, milhares teriam já perecido de fome ou por falta de outro recurso.

Filhos das RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora