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O olhar do homem, o homem que me recorda de todas as memórias que tanto quero apagar da minha cabeça, persegue cada respiração minha, como se estivesse à espera de algum tipo de reacção

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O olhar do homem, o homem que me recorda de todas as memórias que tanto quero apagar da minha cabeça, persegue cada respiração minha, como se estivesse à espera de algum tipo de reacção. No entanto, não sei como serei capaz de obrigar o meu cérebro a processar e a reinventar novamente movimentos no meu corpo. Estou em choque, para dizer o mínimo.

Quase consigo sentir o cheiro de desinfectante da sala de operações, de sentir a agulha a penetrar-me a pele do braço de quando me injectavam uma nova solução qualquer que achavam que me ia tornar na mulher invencível. Eventualmente, conseguirão fazê-lo, para grande contentamento deles. Henry lembra-me de todos os desejos de morte que passaram pelos meus pensamentos que quase levaram a sua avante.

Rick corta o pouco espaço que há entre nós, e toca-me levemente no meu braço afim de me trazer novamente à toa. Porém sinto-me a afogar no mar de recordações dos meus antigos pesadelos, não consigo perceber como vou manter a minha respiração calma e impedir o tremor que começa a despertar no meu corpo.

Preciso de respirar. O ar está em falta em meu redor. Coloco o braço em redor do  meu estômago como se preparasse para vomitar.

Eu tentei mentalizar-me que algo assim poderia acontecer. Contudo, não me preparei para todas as manifestações que o meu corpo está a sofrer, incapaz de assimilar. Quero fugir e deixar tudo para trás. Talvez consigam levar em frente este plano sem mim. Não sou assim tão indispensável. Talvez consiga lidar com a minha consciência se virar costas a tudo isto e correr para a porta e nunca mais parar.

Algo em mim grita que não. Oiço as vozes a darem-me incentivos para continuar. Não posso permitir que magoem mais crianças, que lhes roubem tudo o que elas são, como fizeram comigo um dia. Tenho de pôr um fim a esta tirania disfarçada de boas intenções. Então, num acto de coragem, sorrio para o meu antigo carrasco.

– Eu não sabia que o Rick tinha alguém de tão alto escalão no Quartel. – Consigo visualizar o desconforto do rapaz ao meu lado. Não tenho ideia porque ele não partilhou com o grupo esta informação tão importante, mas talvez seja eu quem não tive direito a saber. – Um dia, gostaria de saber mais. Sempre senti uma certa curiosidade sobre o que se passa lá dentro.

Henry dá-me um sorriso nervoso. Consegui encurralá-lo contra  a parede. Algo dentro de mim sente-se um pouco vitoriosa. Se não posso magoá-lo fisicamente, ao menos que consiga puxar o seu lado humanista para a lama. Há que aproveitar o facto de ele não me reconhecer.

– Talvez um dia possas  - o desconforto presente em cada palavra. – Rick, meu rapaz, eu vou circular. Há um tanto de pessoas ainda para cumprimentar. Tu sabes como é.

Rick espera que fiquemos sozinhos para se virar para mim. Sei o que ele quer dizer – pedir desculpa, explicar-se de alguma forma. Contudo este não é o momento nem o lugar correcto para isso. Para além de que, quando ele finalmente trouxer a verdade sobre ele ao decima, não poderei somente eu estar presente, mas todos os nossos companheiros.

Pensar neles faz-me revirar o estômago. Temos de nos mover.

Levanto a mão, desincentivando o rapaz a enveredar por caminhos pelos quais são dispensáveis neste momento. Porém, antes que ele mesmo perceba o meu gesto, um alvoroço implanta-se na sala. Sabemos de imediato o que está a acontecer.

Por entre as pessoas, como sempre, a requerer todo o máximo  de atenção que seja de seu direito, o Presidente entra no salão, sem máscara, com um sorriso plástico no  rosto. Questiono-me se serei somente eu quem nota o esforço que ele faz, como, por exemplo, estar aqui rodeado por pessoas que acreditam nele é na realidade quase um sacrifício para a sua pessoa.

Olho em redor. Oiço as exclamações e aplausos. Talvez seja só eu. Mas também não existe mais ninguém que o conheça tão bem quanto eu.

Então o meu coração pára. A seguir de perto o encalço do Presidente, está Amriel. Ao contrário do meu alvo, que não se dignou sequer a olhar para o fundo da sala, para onde nós estamos, ele olha. Todo o meu sangue gela. O seu olhar prolonga-se mais em mim do que em qualquer outra pessoa, mas depois de algum tempo desvia-o.

– Temos de ser rápidos – digo ao meu parceiro. Afinal de contas, embora Amriel tenha fingido que não, eu sei que ele me reconheceu. O motivo pelo qual ele não me está a denunciar é que desconheço. De qualquer forma, não irei permanecer aqui muito mais tempo à espera de descobrir o que ele irá fazer de seguida com esta informação.

O Presidente continua o seu caminho, inconsciente do que irá acontecer. Quando chega ao seu lugar habitual, senta-se ainda rodeado de pessoas. Perscruto o meu relógio. São quase dez da noite. Às dez em ponto eu tenho de ter o meu caminho livre até ele. Faço sinal a Rick, e ele avança com confiança, sabendo o que tem a fazer. Nós revimos e revimos este plano durante semanas.

Ao ficar sozinha, começo a seguir o meu caminho para fora do salão. A missão de Rick é afastar o Presidente de todas as pessoas, enquanto que a minha é manter-me nas sombras.

Vejo-o aproximar. Empurrando o  seu caminho por entre os sanguessugas, ele consegue chegar até ao nosso alvo. O Presidente sorri ao detectar a presença dele. A conversa entre eles começa com toda a naturalidade possível. Invejo essa capacidade de Rick – ele consegue camuflar-se em todas as situações, por mais desconfortáveis que sejam.

– Sabes, não me espanta encontrar-te aqui – a voz que me desfaz o corpo em mil pedaços denuncia-se por detrás de mim. – Eu sempre soube que este seria o teu plano a longo prazo.

Viro-me, irritada.

Amriel encontra-se nem a um centímetro de mim. A sua mão já a dirigir-se até ao meu rosto.

– Olá, Imogen - diz enquanto me faz uma festa na bochecha.

– Olá, Imogen - diz enquanto me faz uma festa na bochecha

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Obrigada por mais uma leitura. 

Estamos quase na recta final. Espero que tenham paciência comigo. É difícil encaminhar-me para o fim. Mas tudo a seu tempo.

Até ao próximo capítulo.

Não se esqueçam da estrelinha.

Atenciosamente,

a autora.

Filhos das RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora