capítulo 1 - limbo

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22 de Setembro de 2018
(carta escrita por Raul na manhã do dia de sua "morte")

Imensamente magoado.

Eu confiei por minha vida toda em pessoas que não queriam que eu tivesse vida.

Todos nós fazemos isso o tempo todo.

Eu estou devastado. Eu não sei o que fazer.

Eu tenho o que fazer, mas não sei como fazer.

Há pessoas que querem me ajudar.

Mas e se elas forem iguais? Ou pior: e se elas forem as mesmas pessoas que querem me machucar?
O pior da humanidade são os humanos. Engraçado como essa frase se contradiz.

Pois os humanos são a humanidade.

Mas são eles que acabam com ela.

Hoje pode ser meu último dia de vida.

Ou pode ser o primeiro.


1º DE ABRIL DE 2019

Evans voltando para a casa, resolve passar no parque em que ele viu o garoto mais cedo. Está de noite e relampeando. O detetive desce de seu carro, e caminha pelo parque. Ele senta-se em um banco, e observa os patos no lago. Olhando para o chão, ele vê uma sombra, de uma pessoa que está prestes á lhe apunhalar. Ele rapidamente vira-se. É Raul.

- Já passamos por isso antes, não é? - pergunta Evans.

Evans algema Raul, e apanha de sua mão um pedaço de madeira.

Os clarões do céu refletem ao seu olhar marrom.

O detetive leva-o para a delegacia.
- Markley,- telefona Evans - ligue para toda a equipe dos policiais, estou com o assassino de Raul Murphy na delegacia.

- O que você tem a me dizer - pergunta Evans - antes que os policiais cheguem?

Raul o responde:
- Eu preferiria agora estar no limbo.

Raul é levado para a delegacia. Ele observa através da janela do carro toda a cidade de Vancouver. Há respingos da chuva na janela. As ruas estão sendo vagarosamente iluminadas pelas luzes dos postes. Há poças de água nos asfaltos. Há contáveis pessoas andando pelas calçadas: algumas com guarda-chuvas e outras com capas amarelas de chuva. Algumas andando olhando diretamente para o chão, com a pressa de chegar em casa. Outras numa ligação de celular. Mas todas não estariam tão ferradas como Raul, no final daquela noite.

Margot e Alexandre que estão saindo do shopping  vêem a viatura mas não percebem que Raul está nela.

Evans chega na delegacia com o garoto que até então estava morto. Raul está com as mãos algemadas, para frente de seu corpo. Seu cabelo levemente bagunçado. Ele está com uma calça preta e um moletom azul escuro com listras cinzas. Evans caminha com uma das mãos em seu ombro. Ele está com vergonha e medo ao mesmo tempo. Arrependido. Olhando para os policiais, ele possui receio do que pode acontecer.

Markley e Cordelia chegam na delegacia. Eles rapidamente correm para a sala onde Raul está contando sua história.

- E então, depois que eu descobri que meus próprios pais estavam planejando minha morte, eu resolvi dar a volta por cima. Como podemos ver eu sei fazer isso muito bem.

- O que você está querendo dizer? - pergunta Rafael, um novo detetive.

- Foi eu quem colocou Lohany na clínica psiquiátrica. Bom, não literalmente eu, mas eu a assombrei, e a fiz pensar que ela estava louca. Assombrei Bennet também mas ele não se transmutou.

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