Capítulo 1 - Fatal

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Foi um dia como todos os outros. Exceto pelo fato de ser o último.
Por volta das três horas da tarde eu cheguei em minha casa. Completamente sozinha, apenas com a minha depressão que por mais que eu já havia tentado me desfazer dela, ela nunca ia embora. A casa estava tão vazia quanto meu corpo, tanto por dentro quanto por fora.
A última amiga que eu tive, o último resquício de esperança para eu permanecer respirando se foi antes mesmo do segundo período de aula.
Jade Xander recebeu uma foto de uma conta falsa no instagram e imediatamente me chamou de vadia na frente de toda a classe. Porém, ela não foi a primeira a me chamar disso. Mas seria a última, pelo menos enquanto eu estivesse viva.

Enquanto eu trocava de roupa e tocava em meus vestidos pendurados nos cabides de meu armário, sentindo cada tecido diferente nas pontas dos meus dedos, lembranças da noite em que aquela foto foi tirada vinham em minha memória, tão fresco quanto a brisa que entrava nas janelas do meu quarto remexendo as cortinas de cor bege.

Coloquei um vestido branco, de tecido fino semelhante aos que Margot Watterson usava, e fui até a cozinha.
Procurei pelos armários e gavetas marrons de um tom rústico o lugar onde meu pai guardava os remédios. Ao abrir a gaveta onde estavam todas aquelas caixinhas e cartelas com dezenas de comprimidos fatais; imediatamente eu senti a morte se aproximando cada vez mais.
Apanhei umas sete cartelas e dois tubos laranjas de remédios manipulados e coloquei alguns deles num bolso que tinha em meu vestido. Com a outra mão, segurei firme um copo d'água que já estava sobre a mesa.
Caminhei até meu quarto desfilando sobre todos os quartos e cômodos da casa.

Ao subir as escadas, eu pude sentir cada degrau implorando para que eu voltasse para o primeiro andar e não fazer o que fiz. Só me dei conta que meus problemas poderiam ter solução quando eu tomei o último gole de água e deixei o copo cair no chão do meu quarto.

I

7 MESES ANTES

Marjorie está em seu primeiro dia como cheerleader. Ao som de Electric Love de BORNS ela e as demais animadoras estão ensaiando para uma apresentação num campo aberto na Bodwell. Jade e seu grupinho de amigas estão observando Marjorie e a forma como ela dança. Elas são líderes de torcida desde o primeiro ano, e Marjorie só conseguiu entrar no último ano. O rebolado de Marjorie é impecável. Seu cabelo preto natural e comprido com cachos intactos nas pontas vão até a poupa de sua bunda. Sua pele é tão branca que suas bochechas são rosadas naturalmente, o que faz com que ela não tenha que exagerar no blush. Seus olhos são tão azuis que pode-se enxergar o reflexo do céu neles, e seus cílios cumpridos e tão pretos quanto seu cabelo aumentam a beleza do seu olhar.

- Quer tirar uma foto? - pergunta Marjorie para Jade cruzando os braços após parar de dançar e caminhar até ela e as meninas - Dura mais.

Jade e as garotas soltam uma risada debochada.

- Estamos apreciando o quão desengonçada você é! - diz Jade antes de soltar mais uma risada.

Marjorie não dançava mal. Pelo contrário, ela nunca tinha feito uma aula de dança ou ballet, mas dominava os passos de qualquer coreografia como ninguém. Ela amava dançar. Em casa quando sozinha, tirava os tapetes da sala de televisão e dançava até cansar... E depois de descansada, dançava mais ainda. Ela sentia a liberdade correndo por suas veias e por alguns minutos sentia que estava sendo ela mesma.

- É sério? - Marjorie questiona Jade e suas amigas. Colocando as mãos em seus olhos, ela abaixa a cabeça e solta uma risada ecoando sua boa autoestima. - Vocês são melhores que uma apresentação de circo completa. - ela escorrega as mãos no rosto descendo até seus peitos e circundando sua cintura - Caso queiram algumas "aulinhas" de dança, me mandem uma mensagem. Ah, espere... Vocês não devem ter meu número. Então caso queiram me mandar uma mensagem para aprenderem a dançar como eu, sugiro que tenham moral suficiente para terem meu número e poder me mandar uma mensagem.

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