Suicide

Capítulo 14 - Marjorie Harvey

I – O início.
Em 2000 Peter Harvey e Genoveva Cavalieri se casaram depois de anos de namoro. Eles se conheceram no ensino médio, e naquele tempo, seus pais italianos estavam aproveitando seus últimos momentos de vida numa de várias fazendas que eles tinham no Canadá. Os pais de Peter eram multimilionários também, donos de uma importante dinastia.
Apesar de saber da linda e rica história de amor dos pais, Marjorie Harvey que nasceu no dia sete de agosto de 2002 sabia que havia muito mais que sentimentos amorosos envolvido no casamento. Mesmo assim, ela sempre teve amor dos dois, exceto é claro pelo dia em que seu vídeo com o Raul foi exposto na internet.
Marjorie sempre teve tudo o que queria, ela nunca foi uma criança problemática e nunca presenciou brigas relevantes de seus pais, entretanto ela tinha em mente que por trás das portas, Peter e Genoveva não mantinham um aspecto harmonioso e feliz.
Até 2019, quando ela fez 16 anos, sua vida nunca foi cansativa, estressante ou depressiva... ela sempre teve muito amor, tanto dos pais, dos amigos e dos avós paternos, já que os maternos tinham morrido. Diferente de Raul, Marjorie não vivia uma vida baseada no dinheiro, apesar de ela usufruir da riqueza dos pais, como em viagens, roupas, acessórios e colégios caros, ela nunca endeusou e fez da grana sua saída de emergência.
Ser humilde e solidária foram duas coisas que Marjorie sempre fez de forma natural. Ela ajudou seus pais a criarem uma ONG beneficente, a primeira dos Harvey e induziu que jovens ricos fizessem também. Apesar disso, ela não tinha tanta visibilidade quanto deveria ter e acabou desistindo de levar ao mundo tudo o que fazia como caridade.
A vida de Marjorie estava decolando: ela estava indo para o último ano do ensino médio, numa das melhores escolas de Vancouver, já estava cotada para estudar em uma universidade muito bem visada em Nova Iorque e tinha novos planos para novas ONGs. No entanto, sua única inimiga era Jade... Até que Margot, Raul e o Senhor Vermelho chegaram.
Antes do ano letivo começar, Marjorie começou a receber mensagens estranhas, de um número anônimo. A pessoa começou elogiar ela, assim como as roupas que ela vestia quando saia com sua amiga Joyce nas férias de verão. Sem poder perceber, Marjorie estava apaixonada por alguém que ela não conhecia e Joyce estava de mudança para NYC. O que anestesiou a dor desse fato foi que finalmente o anônimo deu as caras: era Raul, ou pelo menos, era o que ela achava.
         A tática do Senhor Vermelho foi muito bem pensada. A viagem sem volta da melhor amiga de infância deixaria Marjorie vulnerável e ela se jogaria para os braços da primeira pessoa que encontrasse – mesmo se essa pessoa estivesse num relacionamento sério com outra garota.
         O mesmo aconteceu com Raul: o Senhor Vermelhou começou a mandar mensagens para ele como se fosse um antigo amigo que sabia de algumas coisas do seu passado em Miami, porém mais tarde esse "amigo" viria a ser Marjorie. Ele apenas teria que inventar essa do amigo, para que o Raul não rejeitasse logo de cara, pois não daria chance para nenhuma garota apaixonada, já que ele só tinha olhos para Margot.
         Antes mesmo de Marjorie e Raul desconfiarem, o Senhor Vermelho finalmente colocou seu plano de traição em ação, e saiu de cena quando as duas vítimas começaram a conversar verdadeiramente. O que mais impressionou o destruidor de casais, foi que ele não teve de se esforçar muito pro primeiro beijo acontecer, muito menos para vazar o vídeo desse beijo. E foi aí que tudo começou a dar errado...

II – O Grande Erro.
O Senhor Vermelho não pôde esperar para ver Margot descobrindo sozinha sobre a traição, por isso ele mesmo colocou as mãos no celular de Kyle, que havia sido uma das primeiras vítimas a ajuda-lo e enviou para ela. Depois disso, tudo o que aconteceu de ruim para Marjorie foram consequências de seus erros, e nada além do vazamento do vídeo para o mundo foi de autoria do Senhor V.
A traição até foi armada, entretanto, Marjorie e Raul continuaram a sair escondidos pois gostavam de estar juntos, até que Michelangelo, o primo de Margot chegou. Diferente de Raul, ele dava confiança para Marjorie, já que ele não tinha outra a quem amar. Marjorie estava desconfiada de ter alguém lhe vigiando, - e realmente tinha – por isso pediu mais segurança para Michelangelo, que ficou lisonjeado em ajudar.
O relacionamento de Marjorie e Michelangelo não era algo saudável, mas ela nunca tinha percebido. Primeiramente, pois Margot tinha aproximado os dois, afim de tirar o foco de Raul para Marjorie, e deu certo, mas nenhuma das duas contavam com uma coisa: Michelangelo não era o que parecia. Por trás daquele adulto recém-formado, existia um adolescente sedento por atenção e carne feminina, e além disso, drogas.
Em fevereiro de 2020, Marjorie descobriu no carro de Michelangelo um compartimento de uma substância química ilegal – droga – e ficou arrasada. Era a primeira vez que ela saia com alguém desde o vídeo vazado com o Raul, e saber que Michelangelo estava envolvido com algo que ela abominava, a fez ficar decepcionada com ele. Apesar de ela poder relevar o que ela tinha presenciado, seu pai não poderia. Desde o vazamento do vídeo, ela pensava em uma forma de limpar sua imagem, - tanto com seus pais, quanto com seus amigos – e de certa forma, reconquistar Margot, uma pessoa que ela gostava muito. O mais próximo de namorado perfeito que ela chegaria seria com Michelangelo, mas quando ela descobriu que ele era usuário de drogas, ela percebeu que seu pai poderia descobrir também.
Marjorie sabia o que fazer, mas não tinha o que fazer. Ela resolveu se afastar de Michelangelo por um tempo, e culpou as drogas. No colégio, ela era rejeitada por todos, até alguns professores que tinham visto o vídeo faziam bullying com ela, sendo mais rudes com ela do que com outros alunos, ou diminuindo notas propositadamente. Os rumores sexuais chegaram até os contribuintes de sua ONG, o que acabou com toda sua reputação no mundo da caridade, mesmo que não fosse público.
As semanas foram se passando e Marjorie foi caindo num buraco sem fim. Aos poucos, ela foi voltando a manter contato com Michelangelo, que dizia estar parando de usar drogas. Em meados de março, ela voltou com seu plano de pedir ele em namoro e poder por um fim naquela história de traição de uma vez por todas. O que ela não entendia era o motivo de ela e Raul continuarem pagando pelo ato dos dois, enquanto Margot parecia ter superado aquela situação, já que estava namorando Renan, o primo de Raul.
Marjorie pode constatar que a humanidade não tinha compaixão, e que o karma não existia. Todas as coisas boas que ela havia feito antes não serviram para nada, quando descobriu outra verdade sobre Michelangelo. Ele não a amava como dizia amar, na verdade, ele e outros dois amigos da faculdade estavam competindo para ver quem a levaria pra cama primeiro. Óbvio que Michelangelo ganhou, mas a aposta estava subindo cada vez mais. O fato de ela não dar bola para os garotos que chamavam pela sua atenção, fez com que os três disputassem cada vez mais, e mesmo que Michelangelo havia ganhado a primeira aposta, ele continuou no "jogo" até que um dos amigos dele conseguisse tirar o trono – Marjorie – dele. Antes disso acontecer, ela descobriu o plano nojento de seu agora antigo futuro namorado e percebeu que ninguém no mundo amava ela de verdade. Até que Jade voltou.
Quando Margot tirou Marjorie do time das líderes de torcida, Jade percebeu que ela não estava bem, e começou a pensar na possibilidade de ajudar ela. Como elas tinham duas aulas semanais juntas que Margot ou outra pessoa que pudesse interferir na amizade delas, Jade resolveu se aproximar indiretamente de Marjorie, já que ela sabia como era ser traída e trair. O problema é que durou dois meses até que Jade tomasse coragem para se aproximar dela, e quando fez isso era tarde demais.
         Marjorie começou a pesquisar sobre o suicídio falso de Raul após ter visto alguns artigos sobre o ato na internet, e ela ficou obcecada pelas cartas que ele escrevia. Algumas delas foram publicadas em 2018 e a fez querer expressar o seu sentimento da mesma forma que ele expressava: com palavras.

III – As Palavras.