O livro dourado

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O dia amanheceu junto com o início do longo inverno, já havia se passado uma semana, a semana mais longa da sua vida desde que Dylan havia sido expulso de casa.
O garoto que tinha dezesseis anos acordou com o barulho do frenético trânsito da grande cidade, ele que havia feito um pequeno abrigo de papelão em um beco estreito e deserto se levantou tremendo de frio e caminhou ate a entrada do beco.
Do outro lado havia uma pequena biblioteca local que mesmo invisível à tantos olhos, tinha cor dourada e aura de encanto para ele.
Há uma semana atrás o mesmo detestaria a ideia de levantar cedo para ir à escola, mas agora que não tinha as mínimas chances de continuar no colégio ele sentia o quão valiosas eram aquelas manhãs.
Dylan passou suas mãos sujas por entre os fios castanhos escuros de seu cabelo bagunçado, enquanto tomava coragem suficiente para ir até a padaria ao lado da biblioteca pedir um pedaço de pão.
Coragem não era bem a palavra certa para o que ele definitivamente conseguiu juntar dentro de si, era mais como um impulso de necessidade roncando em sua barriga faminta, o garoto foi então até a padaria e deu duas leves batidas na porta de vidro do estabelecimento.

— O que você quer moleque? - O dono da padaria abriu a porta já aos berros.

Ele pensou em responder à altura da ignorância do homem à sua frente, mas a barriga que continuava a roncar dizia severamente que ele deveria conter sua língua.

— Desculpa incomodar, o senhor poderi...

— Suma daqui pirralho!! - O homem fechou a porta em total descaso, como se o garoto que estava ali não fosse nada além de um animal.

Dylan serrou os dentes e desejou no fundo de seu coração pegar uma pedra e jogar com toda a sua força naquela porta, mas ele sabia como as coisas funcionavam no mundo: se você não tem dinheiro você não é ninguém!
Embora sua cabeça se acostumava com a ideia de esperar um pouco mais para comer alguma coisa, sua barriga roncava ainda mais forte como se estivesse lhe dando uma bronca.

— Infelizmente o governo reduziu consideravelmente as verbas locais, estamos fechando as portas da biblioteca Lydia, e não podemos deixar ninguém entrar enquanto isso, eu sinto muito!- Uma voz velha e feminina saia de dentro da biblioteca.

O coração de Dylan disparou em desespero, havia dois dias que ele levantava todas as manhãs e admirava aquele lugar e os incontáveis livros que ali tinha, com a perda da sua antiga vida ele aprendeu a gostar das histórias fantásticas que os livros contavam, príncipes e princesas que viviam felizes para sempre em castelos enormes, esse pensamento o fez sentir o dobro da vontade de adentrar o local e ler o máximo que podia antes de ser pego.
De repente uma mulher de aparência jovem e bonitos cabelos crespos saiu de dentro da biblioteca com um semblante cabisbaixo, aquela deveria ser Lydia pensou ele.
Por um curto espaço de tempo sua cabeça trabalhou na mais afiada ideia que ele já teve, sorridente ele já sabia de uma forma de entrar naquele lugar.

— Moça moça!!! Pelo amor de Deus você precisa ajudar aquela mulher lá fora!! - Ele gritou enquanto entrava na biblioteca encenando um suposto desespero.

— O que foi garoto? O que está acontecendo? - a senhora de cabelos brancos e um terrível suéter de crochê arregalou os olhos parecendo cair em sua atuação.

— Tem uma mulher grávida passando mal lá no beco, acho que ela vai parir o bebê ali mesmo!

Dylan acreditava que a senhora da qual ele havia ouvido a voz era velha o suficiente para já ter presenciado partos em casa, se sua intuição estivesse certa a senhora iria desesperada ao beco para ajudar a pobre grávida falsa.

— Ora garoto chame uma ambulância enquanto tento ajudá-la!

A senhora se levantou da escrivaninha e pareceu correr mais rápido que ele jamais teria fôlego para correr, dessa forma até mesmo para uma senhora ela voltaria rápido de mais, ele respirou aliviado pelo plano ter dado certo porém suou só de imaginar o pouco tempo que tinha para ler algo.
Aproveitando que a bibliotecária havia corrido para ajudar a falsa grávida, o garoto seguiu adiante até as múltiplas estantes de livros e delicadamente começou a selecionar sua leitura.
Haviam livros de todos os tipos desde bibliografias até a contos de terror, entretanto um livro em específico o chamava a atenção: um livro velho que brilhava na prateleira.

MaléficoOnde histórias criam vida. Descubra agora