PALO ALTO

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JOSEPHINE

Sentei-me na cama, um pouco enojada e com a cabeça girando. Eu mal podia acreditar que o pai de Hero tinha dito tamanhos absurdos. De certa forma, George estava certo, mas ele podia ter sido mais delicado com o filho.

— Realmente, isso foi cruel — Pensei alto ao escutar a triste narrativa do jovem de olhos verdes parado a minha frente.

Acho que não pegou bem ter dito isso, mas ele não ia levar a mal. Hero estava tão vulnerável, com as mãos no rosto, sentindo raiva, com medo, triste e aflito.Fiquei admirando seu rosto por alguns segundos, mesmo em meio às lágrimas, ainda era lindo. Sua atitude de me procurar pra desabafar, realmente me deixou muito surpresa, e acho que por causa disso, eu não consegui elaborar conselhos melhores para dar. Eu já tinha saído da vida dele há tanto tempo, que nem imaginava que as coisas na casa dos Tiffin iam tão mal. Senti uma pontada de esperança a respeito de poder ser amiga dele novamente, como há cinco anos. Senti um formigamento crescendo no peito, uma sensação gostosa, quente, que eu não sabia explicar porque nunca tinha sentido nada parecido antes... Era como se, sei lá, eu soubesse que algo ia acontecer. Eu queria que ele olhasse pra mim, então, ergui seu rosto segurando-o pelo queixo.

— Hero? — Penetrei seus olhos verdes tentando acalmá-lo. Meu coração pulou dentro do peito, ao inclinar minha cabeça involuntariamente, e perceber que ele ansiava por algo.

Os lábios dele pareciam tão convidativos. Eu queria que ele me beijasse. Eu queria colocar a mão no rosto branco e expressivo, desejei tocar seus cabelos quase raspados na parte de trás da cabeça, mas lisos nas laterais e na parte de cima, formando um topetinho adorável. Gostaria muito que ele estivesse próximo o suficiente para que eu pudesse reparar em cada traço masculino que me atraíam tanto. Nunca tive esse tipo de desejo por ele, mas hoje, eu o olhei com outros olhos. Um milhão de coisas flutuavam pela minha cabeça. Será que ele gostaria de me beijar? Eu acho que não. Ele beija meninas como a Khadijha. Hesitei. Ele continuava parado, sem nenhuma expressão, parecia petrificado. Seria uma babaquice me aproximar mais. "Não seja idiota, Josephine!", minha consciência gritou. Decidi que isso não era uma boa ideia. Ele só veio aqui desabafar comigo porque não tem mais ninguém que possa escutá-lo. Seus amigos são uns fodidos e drogados e eu sou a única que um dia prestou em sua vida, mas ele não deu valor. Não me merece.

— O que foi, Josephine? — Perguntou interrompendo meus pensamentos.

— Um dia você vai sentir orgulho de si mesmo.

Fui até a porta e a destranquei indicando que ele deveria ir embora. Sem pestanejar, a abri, para insistir na ideia, e deixá-la clara o bastante para Hero. Ele ficou me encarando, enquanto eu segurava a maçaneta com a mão trêmula. Não queria de maneira nenhuma que ele reparasse nisso.

— Se precisar de algo, pode me ligar pela manhã — Murmurei, como se eu quisesse que ele me ligasse. Quero que se exploda.

Obviamente, Hero nem sequer se opôs. Ainda calado, ele foi em direção a porta. Ele não queria mesmo me beijar, ainda bem que eu nem tentei nem deixei subentendido. — Quando sair, bata a porta lá embaixo com força, que ela tranca sozinha. — Informei com mesmo tom de voz. Nem morta que eu ia descer lá com ele.

Tiffins se virou para mim, e começou a falar um monte de baboseiras que eu nem fiz questão de escutar. Dei boa noite, e bati a porta em sua cara. Eu me deitei, encolhendo meu corpo no meio das cobertas macias, com cheirinho doce que eu tanto amava. Senti raiva de mim mesma por ser uma garota tão racional. E se eu tivesse beijado ele? Será que seria diferente? Será que ele ia corresponder? Revirei os olhos. "Deixa de ser idiota, iludida, otária".

Without You - Herophine {CONCLUÍDA/DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora