PERGUNTAS

1.3K 105 17
                                    

 — Eu pensei que ia querer te matar mas você está sendo menos cretino do que eu pensava que fosse — Admite, encarando as vacas. Ela franze o nariz quando uma delas levanta a cauda, começando a defecar no meio da rua.

— Josephine, você é mesmo insuportável — Declaro com tom de voz amistoso.

— Insuportável é esse cheiro! — Reclama, cobrindo o nariz arrebitado com a mão, cheia de anéis de ouro, afastando-se para o lado oposto do animal.

Estamos de frente para o Hawa Mahal, mais conhecido como palácio dos ventos.. Fica no meio do caos. No meio do trânsito, dos tuks-tuks atravessando as vias, das motos com pilhas de caixas na traseira, das bicicletas que acomodam até quatro pessoas de forma inacreditável, das vacas, dos cachorros, das crianças, dos comerciantes gritando, das pessoas vendendo lenços para mulheres e tudo o que Josephine mais temia; uma verdadeira bagunça. 

Cheio de turistas arriscando a vida no meio da rua movimentada para tirar fotos. Pegamos um folheto informativo que está sendo distribuído por uma jovem trabalhadora do local, em prol do turismo. Este lugar trata-se de um palácio que lembra uma união de vários favos de mel de uma colméia, construído com um curioso arenito cor de rosa, que entrega a coloração natural as paredes bem trabalhadas. A arquitetura é bastante peculiar, conta com várias janelas dispostas em fileiras e colunas, e segundo o folheto informa, a construção servia para as mulheres que moravam ali, no passado, espiarem as festas e movimentações da rua do centro da cidade, sem serem vistas.

Ao invés de debater comigo sobre a cultura e as peculiaridades, Jo decide tirar selfies. Segundo ela, não retornará aqui nunca mais na vida, então precisa manter registros.

— Quer que eu tire uma foto sua? — Ofereço-me educadamente ao ver seu esforço para enquadrar seu rosto, e o monumento completo dentro de um retângulo da tela.

Ela estende o celular pra mim, timidamente. Virando-se de costas, afastando-se um pouco para tomar distância e caber dentro do melhor ângulo, eu tomo proveito de sua distração e capturo uma foto minha, sorrindo. Ela se posiciona, finalmente, um pouco acanhada, fazendo uma pose de patricinha, com ombros tensionados, e mãos juntas na altura do umbigo, como uma estátua. Eu chacoalho os braços, ordenando que se solte, que faça uma pose mais espontânea. 

Ela revira os olhos, e contrariada, me obedece, abrindo os braços, e rindo. Aproveito o momento certo, e faço o registro. Mantenho o dedo pressionado, capturando-a várias vezes, em sequência. Devo admitir que, apesar de um pouco borradas, porque ela se movimentou, ficaram lindas e completamente despojadas. Ela se aproxima de mim, ajeitando o rabo de cavalo, estendendo a mão, curiosa para ver as fotos. Apesar de franzir o nariz na hora, ela gostou. É diferente das poses perfeitas e ângulos milimetricamente estudados para parecer que ela é mais alongada, ou mais magra, do jeito que deve estar acostumada.

— Obrigada, Hero. Eu vou postar agora mesmo! — Ela afirma, concretizando minhas especulações. Ela desliza o dedo pela tela, abrindo um aplicativo, que carrega com certa dificuldade, por causa do chip de internet internacional de péssima qualidade.

— Quer dizer que você tem instagram mas não segue seu chefe? Nossa, que preconceito — Resmungo de forma fingida, espionando ela por cima dos ombros, aproveitando-me de nossa diferença de altura agora que ela não está usando um par de sapatos de salto alto.

— Não costumo envolver o lado profissional nas redes sociais — Responde-me seca, como de costume.

Estreito os olhos, focando na tela ao máximo, enquanto ela procura um emoji para legenda. Presto atenção em seu nome de usuário na rede, e assim que tenho certeza, tiro meu celular do bolso, pesquisando por ela. Sorrio de canto ao encontrar seu perfil, mas logo a alegria se esvai, quando vejo o perfil trancado. Mesmo assim, solicito permissão para seguir. Josephine, há alguns passos de mim, caminhando despretensiosamente, me encara virando o rosto, por cima do próprio ombro, numa curta olhadela de desprezo, autoriza minha entrada em sua lista de amigos. Chego perto dela, porque não é seguro deixá-la sozinha e distraída no meio da confusão. Curto sua foto de imediato, digitando rapidamente um comentário: "Créditos ao fotógrafo". Vejo sua cabeça se levantando para olhar pra mim, vagarosamente.

Without You - Herophine {CONCLUÍDA/DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora