Without You - Herophine {CONCLUÍDA/DEGUSTAÇÃO}

VERDADE

- Você reparou numa coisa? - Abruptamente, Hero assume um tom sério, mudando de assunto.

- O que?

- Essa é a primeira vez que você me conta uma história, onde admite que não sabia fazer alguma coisa.

Pensativa, mergulhada em seus olhos verdes, admito a mim mesma, que é verdade. É a primeira vez que eu conto uma história como realmente aconteceu, sem omitir um momento de fraqueza, insegurança, ou falta de conhecimento da minha parte, sobre algum assunto. Eu sempre escondia isso. Detalhes que revelavam traços da minha personalidade, que eu julgava serem desnecessários. Mas são apenas traços humanos.

- Eu não conheço esse Shane, mas já tô vendo que ele é um ícone sensato. - Hero diz, cobrindo seu copo vazio com a tampa. Logo, ele relaxa as costas na cadeira, despreocupado.

- Ele me ajudou em muitas questões, Hero. Você nem faz ideia.

Ele balança a cabeça, inclinando-se um pouco pra frente, o que demonstra interesse.

- Tipo?

Respiro fundo, analisando se deveria mesmo me expor. Mas por que não? Ele havia se exposto para mim. Então, acho que não tem nada de mais em fazer o mesmo. Talvez assim, eu me sinta ainda mais leve.

- Eu tinha bulimia até o último ano da faculdade. - Parece que a minha revelação choca meu chefe mais do que eu imaginei que chocaria. Ele, boquiaberto, alterna seus olhos entre os meus, e suas mãos, entrelaçadas entre as pernas abertas.

- Josephine, isso é sério? - Ele procura certeza, demonstrando angústia em seu semblante. Vejo suas mãos falharem em seu movimento. Não sei se ele pretendia segurar as minhas, mas acho que eu iria começar a chorar se me aprofundasse no assunto. Então apenas afirmo, balançando a cabeça, sentindo meu rosto corar de vergonha. - Mas, você tá bem agora? Parou com isso de vez?

Meu estômago vazio só conseguia jogar pra fora o líquido gástrico. Era amargo, e eu sentia vontade de morrer toda vez que saía mais uma porção do líquido amarelo de minha boca. Eu já vomitei tudo o que tinha comido nas últimas horas, mas mesmo assim, minha garganta ainda continuava com os movimentos peristálticos. Shane passava as mãos nas minhas costas, tentando me relaxar enquanto eu, ajoelhada na beira do vaso, chorava silenciosamente.

- Calma, calma. Foi só uma recaída - Sua voz serena transmiria tranquilidade. Eu rezava sem curtos e fracos sibilos, pedindo que isso acabasse mais rápido.

- Eu não queria, Shane. Eu não queria. - Repeti, cheia de culpa.

A garganta doía. Minha cabeça também. Tudo em resposta a um grande esforço para que a perfeição do meu corpo se mantivesse intacta. Eu estava me sentindo inchada. Tinha a sensação de que minhas roupas estavam se apertando contra minhas curvas.

- Josephine, você é maravilhosa, é uma das meninas mais bonitas que eu conheço. Ouso dizer que você é mais bonita que a Pia - Ele piscou, na intenção de me animar. Eu sorri. - Não tem necessidade de se castigar assim. Vamos lá, levante.

Assim o fiz, coloquei-me de pé, e ele secou algumas lágrimas travessas que ainda insistiam em descer pelo meu rosto.

- Quero que me prometa uma coisa - Shane pediu, aprofundando seu olhar cativante.

- Pode falar.

- Quero que quando você sentir vontade de vomitar, olhe no espelho, cuidadosamente, e veja como você é linda.

Pouco a pouco, Shane me ajudou a desconstruir uma série de paradigmas que eram mais sólidos que as rochas do Grand Canyon. Eu entrei na faculdade como uma garota completamente problemática, grossa, estúpida, arrogante, prepotente, com mania de perfeição, com ar de superioridade e soberba. Não que eu seja outra pessoa atualmente, mas durante esses doze meses em que fui amiga dele de verdade, eu melhorei um pouco. Não tem como mudar completamente a essência de uma pessoa, mas pelo menos eu melhorei no sentido de esconder minha insegurança a sete chaves, colocando todos esses atributos ruins como armaduras. Eles ainda estão presentes em mim, ainda uso essa capa como defesa para coisas e pessoas que eu sei que possam vir a me ferir...Porém, consigo abrir essa armadura com um pouco menos de complicação.