•1•

2.3K 85 18
                                    

---Iris--- (06/04/2018 , terça-feira)

Sinto os meus olhos marejados quando o juiz dá final ao julgamento. Isto não pode estar a acontecer.

-Não , Iris.- a minha pequena irmãzinha corre para os meus braços e eu tento alcançá-la. Sem sucesso , os guardas prenderam-me sem me dar tempo para despedidas.

Olho uma última vez para os meus pais que choravam tanto ou mais que eu e logo baixo a cabeça. Vou sentir tantas saudades , dos sorrisos deles.

Sem qualquer respeito , os guardas empurram-me para dentro do carro da polícia e encosto a cabeça á porta assim que ela se fecha.

Tento com todas as minhas forças arranjar uma razão para deixar de chorar , mas nada me veio á cabeça a não ser coisas horríveis.

Estou neste momento, em todos os telejornais e programas que passam pela televisão e tudo em vão. Vou ser presa na pior cadeia do meu país por um crime que não cometi.

-Pare de chorar menina , isso irrita-me.- o guarda que conduzia o carro pede e eu tento não fazer barulho.- Você cometeu um crime , tem que lidar com as consequências.- o senhor gordo , com barbas brancas e com uma caixa de donuts á frente continua.

-Eu...eu não cometi nada.- sussurro de maneira inaudível.

O carro pára e eu sinto as minhas pernas perderem a força assim que o guarda me puxa para fora.

Olho para o edifício á minha frente. Enorme e aterrorizante.

-Despeça-se destes lugares aqui fora.- O guarda que antes conduz o carro sussurra no meu ouvido e encolho-me.

Sinto um calor sufocante preencher o meu corpo assim que entro no espaço chamado prisão.

-Vista isto.- uma senhora atira para as minhas mãos um macacão verde tropa, um pouco grande para mim.

Entro num espaço pequeno e retiro tudo do meu corpo , deixando apenas a roupa íntima.
Depois de me vestir , direciono o meu olhar para um pequeno espelho que ali havia. Os meus olhos arregalam-se ao ver que estou totalmente acabada.
Cabelos despenteados , rosto inchado e lábios estragados.

-Demora muito aí dentro?- uma voz fina que eu desconheço ouve-se do outro lado da porta e eu abano a cabeça para afastar os pensamentos.

Assim que saio do cubículo, é me entregue uma placa preta e sou levemente empurrada para a frente de uma câmera.

Sou atingida com o flash várias vezes.

-Bem-vinda ao inferno.- a senhora que me entregou o macacão sorri falso em minha direção e eu reviro os olhos com a sua atitude.

Dois homens fortes , puxam-me pelo braço e caminham juntamente comigo até um corredor , onde vários prisioneiros estam presos.

Baixo a cabeça enquanto caminho entre eles e sinto todos os olhos postos em mim, o que me deixa constrangida.

-O intervalo é de 30 minutos. Ás 14:00 em ponto.- um dos guardas que me leva empurra-me para dentro de uma das jaulas e sinto o meu coração apertar ao cair na realidade.

Olho em volta e suspiro por causa das poucas condições que isto tem.
Uma pequena cama e , num dos cantos do quarto um pote.

-Esperava por melhor.- uma voz masculina faz-se ouvir na cela ao lado e eu subo o olhar para encara-lo.- Disseram-me que era uma assassina, mas com esse físico até o Oscar te matava.- o rapaz sarcástico aponta para a cela da frente onde estava um rapaz magro , careca e com ar desgastado.

Não respondo e nem encaro o rapaz que me havia falado.
Simplesmente sento-me na cama com o rosto entre as mãos a suplicar para que isto tudo não passasse de um pesadelo muito muito mau.

-Ai ai , meninas choronas. Irritantes.- o mesmo rapaz fala e isso ainda me fez chorar mais.- Também choraste quando assassinaste a tua amiga?- ele continua e eu engulo em seco.

-Eu...eu sou inocente.- sussurro, completamente sem forças e tento conter o choro.

-Olha para mim.- a mesma voz masculina pede-me e eu subo o olhar até encontrar o dele.

Estilo punk, algumas tatuagens espalhadas pelos braços e uns profundos olhos castanhos escuros.

-Realmente não tens cara de quem mataria alguém , nem uma mosca talvez.- ele ri em tom de gozo.- Vais passar momentos inesquecíveis aqui.- ele ri novamente.

-À quanto tempo estás aqui?- pergunto , curiosa.

-Eu? 2 anos e tenho mais 5 pela frente.- ele parece indiferente a isso.- Andei metido em muitas merdas.- ele revira os olhos.- Fazia de novo.- ele ri e senta-se na sua cama , sem tirar os olhos de mim.

-Calem-se.- um dos polícias que rondava o local grita e eu salto de susto com isso.

-Ela acabou de se assustar com um grito.- uma voz que desconhecia fala do quarto ao lado e eu viro-me para encarar uma rapariga que ainda não tinha visto. Ela assusta-me.

O rapaz riu com a minha reação e isso deixou-me frustrada.

-Senhor , pode-me dizer a que horas costumam ser as visitas?- pergunto ao guarda que ainda ali estava e fico sem resposta.

-São das três da tarde ás três e meia , só ás quintas.- a rapariga ao meu lado sussurra e eu tento sorrir para a mesma em forma de agradecimento.- Quantos anos apanhaste?- ela fala e eu arregalo os olhos ao vê-la cheirar um pó branco que ela tinha no bolso.

-12.- respondo e deito-me na pequena e desconfortável cama.

-Coitadinha. Nem vais aguentar um ano aqui.- o rapaz que ainda não sabia o nome ri e eu fecho os olhos com força assim que se instala "silêncio".

O sorriso iluminado dos meus pais e da minha irmãzinha aparecem logo na minha cabeça e tudo o que quero neste momento é poder ver esses sorrisos novamente.
A cena do crima aparece também , e faço de tudo para a tirar da minha cabeça.

-Como te chamas mesmo?- o rapaz pergunta e eu caio na realidade.

-Iris.

-Belo nome para estar na prisão.- a rapariga da cela ao lado responde.

Um toque esquisito soa e logo percebi que seria o intervalo.
Em antes de poder sair da cela , o guarda coloca-me sobre os pulsos algemas , como já previa.

-Tenta não armar confusão.- o guarda sussurra ao meu ouvido e eu franzo as sobrancelhas. Porque é que uma rapariga como eu armaria confusão? Talvez porque aqui sou vista como uma assassina? Sim , muito provavelmente.

-Anda , vou mostrar-te onde é.- a rapariga que havia falado comigo á minutos atrás sorri e eu tento fazer o mesmo.

Caminho lado a lado com a rapariga cuja ainda não sabia o nome até atraversarmos todo o corredor.
Ao fundo do mesmo há uma porta que mostrava o que seria o sítio do intervalo.
Um lugar grande , coberto por relva e mesas de pedra para nos podermos sentar.
Há também campo de basketball e ao fundo um sítio onde os homens podem treinar e levantar pesos. Coisa que nunca me agradou.

-Não é grande coisa , mas podemos jogar ás cartas.- a rapariga fala empolgada e eu tento perceber comigo mesma como é que ela consegue ser tão "feliz" , trancada num sítio destes.

-O...o que fizeste?- a curiosidade sobe-me á cabeça.

-Para estar aqui?- ela pergunta e eu assinto com medo.- Assaltos em demasia.- ela coça a parte detrás da cabeça e eu arregalo os olhos.- O teu caso é mais grave que o meu , não arregales esses olhos.- ela fala como se fosse óbvio.

-Eu sou inocente. Eu não fiz nada áquela rapariga.- olho para o chão.

-Então estás aqui porquê? Aceita , se disseres mais vezes isso é pior para ti. Ninguém aqui é inocente Iris.- ela responde.- Anda , vou apresentar-te ás minhas amigas.- ela muda de assunto.- Sou a Mady , by the way.- ela fala enquanto caminhávamos para uma mesa onde estavam seis raparigas.

___________

Prison | Jack.G Onde histórias criam vida. Descubra agora