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---Iris--- (14/04/2018 , quarta-feira )

-Sente-se , por favor.- um senhor de barbas brancas e cabelo branco pede-me eu sento-me na cadeira que existia em frente à sua secretária.

-Disseram-me que queria falar comigo. Espero não ter falhado em nada.- falo a medo.

-Na verdade não tem nada aver com isso , tem aver com a sua família.- o senhor responde e eu logo sinto as minhas mãos e pernas a tremerem sem parar.- A sua mãe , desmaiou ontem e está em coma.

Sinto logo várias e várias lágrimas a descerem do meu rosto. Tudo o que quero agora é sair daqui e ir para o lado da minha família. Ficar aqui presa num momento destes é o cúmulo da minha tristeza.

-Quando eu tiver notícias, irei informá-la. Agora , volte para a enfermaria.- o diretor sorri fraco e eu levanto-me da cadeira.

Os dois guardas que ali estão a vigiar pegam-me pelo braço e deixam-me no espaço em que eu e o Jack estamos a trabalhar.

-Que se passa?- o Jack pergunta confuso e eu tento falar , mas as palavras não conseguem sair.

-A minha mãe está em coma.- fungo e tapo a cara com as mãos.

Sinto que o Jack ficou sem saber o que dizer e caio de joelhos no chão. Sofro de ansiedade nos momentos mais difíceis e mais dolorosos da minha vida , fico sem força nas pernas e acabo por cair na maior parte das vezes.

-Ela vai ficar bem. Deus encarrega-se disso.- o Jack senta-se à minha frente e eu sou surpreendida pelas suas palavras. Nunca o tinha ouvido a falar de Deus.

-E se ela estiver em risco de vida?- suponho e ligo sinto os braços do Jack em volta do meu pescoço.

-Não penses assim.- ele repete a mesma frase várias vezes e eu sinto-me mais calma no seu aperto.

-Eu estou aqui presa , como é que eu vou saber?- sussurro enquanto choro.

-Tens que ter fé Iris , fé.- ele separa os nossos corpos e acaricia o meu rosto.

Ficamos em silêncio durante algum tempo , só se ouvia o meu choro.

-Vamos trabalhar Iris.- ele levanta-se e assim que eu tento fazer o mesmo , caio novamente no chão por causa de ter perdido a força.- Estás bem?- o Jack pergunta confuso.

-Sim , como tenho ansiedade nestes momentos as minhas pernas perdem a força.- suspiro e sento-me na mesa central, onde estavam as tintas com que pintamos as paredes.

-Deixa-te estar aí por mais tempo , se não ficares melhor avisa-me ok?- ele pergunta preocupado e eu assinto apenas , sem força para pronunciar qualquer outra palavra.

Temho doze anos pela frente , se nada correr mal. Muita luta , muito esforço e muito suor derramado por tentar a sobrevivência.
Não vou aguentar psicologicamente doze anos sem notícias concretas , sem poder estar presente nas situações importantes , como esta.
Gostava de poder abraçar a minha pequena irmã que neste momento deve estar em desespero. Ela precisa de apoio, mas eu confio no meu pai e sei que ele não vai deixar que nada de mal lhe aconteça.
O meu pai , o maior guerreiro que conheço. Um verdadeiro super herói. É muito provável que esteja desiludido comigo e eu não o julgo.

-Os meus pais , educaram-me desde cedo para ser civilizado e sobretudo educado. Sou totalmente o oposto e quando eles souberam tal coisa , deixaram de ter um filho.- o Jack conta enquanto pincela as partes escuras da parede.- O meu irmão , nunca aqui apareceu e quando te disse que nunca tive uma família, não menti. Pensava que eles eram uma família para mim mas depois conclui que nunca tive uma.- ele admite e eu baixo a cabeça. Deve ser difícil.

-Quando me disseste que te diziam que ías encontrar uma família! Porquê?- pergunto confusa.

-A minha "família" não me educou para ser filho , educou-me para ser um cidadão aleatório. Por isso , sempre pensaram que eu era órfão, nunca andava com os meus pais.- o Jack fala e eu confesso que fiquei confusa.- Na verdade , nunca gostei da maneira que me criaram , nunca os considerei muito mais que educadores.- o Jack encolhe os ombros.

-Desculpa por ter-te feito falar sobre isso.- engulo em seco.

-Oh , não faz mal. No início era difícil mas agora consigo falar com facilidade.- o Jack sorri e eu tento fazer o mesmo.

Ponho-me de pé e suspiro de alívio ao perceber que a minha força voltou. Falar com o Jack acalma-me , tenho que admitir.

Pego no pincel habitual e pinto a única parte que falta para ficar completo.

-Fizemos um bom trabalho.- o Jack estende-me a mão e eu bato na mesma.

-Podíamos vir para aqui mais vezes , ao menos não estávamos a olhar para o teto de uma cela.- admito a minha vontade.

-É verdade, mas estar num espaço fechado contigo não é muito bom.- ele goza e eu atiro-lhe com tinta para o rosto.- Desta vez não me escapas.- ele atira-me com o balde de tinta e eu arregalo os meus olhos ao ver o meu corpo completamente branco.

-E agora? Vou ter que dar banho outra vez?- fingo choro.

-Vocês podem parar de se sujar? Porra , já não são nenhumas crianças.- um dos guardas aparece e eu baixo a cabeça.- Banho , já.- ele ordena e nós assim o fizemos.

Novamente juntos a tomar banho , ainda bem que já acabamos de pintar aquilo.

Abro a água e franzo as sobrancelhas ao perceber que a água desta vez não estava fria.

-Porque é que não sai água fria?- pergunto ao Jack que cantava alegremente uma música qualquer.

-Digamos que eu já conheço aqui o sistema.- ele pisca o olho e eu assinto.- Estás suja nas costas.- ele ri e eu tento alcançar a sujidade mas sem sucesso.

Sinto as mãos quentes do Jack nas minhas costas e isso fez subir um arrepio desde as minhas pernas até ás costas. O contacto foi inesperado , talvez seje por isso.

-Já está.- o Jack fala depois de algum tempo a esfregar as minhas costas com sabonete e eu assinto.

-Isto tudo à tua conta.- aponto para o meu corpo que ainda estava branco.

-Tu é que começaste!- ele ergue as mãos ao ar.

-Mas tu já estás limpo , eu não.- respondo em minha defesa.

-Eu posso ajudar-te a limpar.- ele fala com um sorriso malicioso.

-Não , obrigada.- sorrio falso e quando vejo o Jack ir embora arregalo os olhos.- Fica comigo, não me deixes sozinha.- peço com medo.

-Então deixa-me ajudar-te.- ele cruza os braços e eu acabo por concordar.

Depois de alguns momentos em constrangimento , voltamos limpinhos para o quarto e confesso que já estava a precisar de um banho de água quente.

As luzes já estão apagadas e não consigo de qualquer maneira adormecer.
Só consigo pensar na minha família, e no quanto tenho saudades deles.
Antigamente diria que odeio quando a minha irmã me acorda com água fria no rosto , mas hoje desejo que ela me acorde dessa maneira novamente.

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Prison | Jack.G Onde histórias criam vida. Descubra agora