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---Iris--- (14/04/2018 , quarta-feira )

Abro os olhos e encaro o teto.
As luzes ainda estão apagadas e o sono não volta , talvez o melhor seja mesmo ficar acordada.

Com todas as coisas que têm acontecido, não tenho tido tempo para fazer duas coisas essenciais. Pensar e rezar.

O que se passou no balneário, entre mim e o Jack é talvez preocupante.
Eu não me posso apaixonar por ele e , mesmo sendo muito cedo para pensar numa coisa dessas , não vou mentir e dizer que nunca pensei nessa possibilidade.
O Jack foi o primeiro rapaz que disse coisas boas á cerca de mim e não consegui deixar isso passar em claro. Ele ajudou-me sem ser obrigado a isso , ajudou-me a lutar pelo que realmente quero e nunca desistiu de me ensinar.

Estar aqui , presa sem poder sair , faz-nos viver os sentimentos com mais intensidade.
A saudade, a amizade , o medo e quem sabe o amor.

-Também não consegues dormir?- ouço a voz rouca do Jack num sussurro e viro as minhas costas para o lado oposto.

Fecho os olhos com força porque ignorar as pessoas não é o meu forte. Junto as minhas mãos e suspiro em antes de começar a minha oração.

-Senhor , obrigada por tudo que me tem dado. Estar aqui presa não é fácil , mas a sobrevivência é um presente seu. Obrigada por eu ainda estar a respirar. Provavelmente nos próximos dias posso perder isso , mas enquanto posso , vou sempre agradecer. Obrigada por mais um dia , cada dia é precioso. Cuide da minha família, não deixe que nada de mal lhes aconteça. Obrigada por ter posto o Jack na minha vida , não queria que fosse desta maneira nem neste lugar , mas mesmo assim tenho aprendido todos os dias a sobreviver , muito por causa do moreno. Obrigada senhor , por tudo. Amém.- falo em sussurros inaudíveis.

(...)

Sento-me na mesma mesa de sempre e cruzo as pernas.

-Iris , pára de me evitar.- o Jack senta-se à minha frente.- Temos que acabar aquilo.- ele aponta para o fundo do terreno e eu assinto apenas.

-Acompanhem-me.- o mesmo guarda de ontem aparece e deixa-nos novamente na sala de enfermaria.

-Eu ontem vi que estavas acordada , porque é que viraste costas?- ele pergunta e eu engulo em seco.

-Simplesmente não queria falar.- encolho os ombros e pego no pincel para começar a trabalhar.

-Ouve , eu peço desculpas pelo que aconteceu no balneário , não se vai voltar a repetir.- ele fala.

-Ok Jack.- respondo e sento-me no chão para pintar as partes em falta.

-É só isso que me dizes?- ele cruza os braços e eu baixo a cabeça.

-Que queres que te diga?

-Quero que digas que vamos voltar ao que éramos ontem neste mesmo espaço.- ele senta-se ao meu lado.

-Vamos voltar ao que éramos ontem neste mesmo espaço. Satisfeito?- suspiro.

-Não vou insistir mais.- ele levanta-se.

-Achas que é fácil para mim processar isto tudo? Tu ías beijar-me Jack.- grito com os olhos postos nele.

-Como não sentes nada em relação a mim, pensava que ía ser mais fácil de lidar.- ele ergue as mãos.

-Achas que eu não me sinto vulnerável quando estou contigo? Achas errado então.- bato com o pé no chão.

-Eu não tenho culpa. Foi mais forte que eu.- ele fala num tom mais alto que eu.- Mas é que...esquece.- ele suspira e voltamos os dois ao trabalho.

-Querem fazer uma pausa para o almoço?- o guarda aparece passado algum tempo.

-Eu quero.- levanto-me , deixando o Jack sozinho.

(...)

De volta à enfermaria para continuar o meu trabalho , posso ouvir pessoas a discutir de dentro da sala e isso deixou-me com receio de entrar.

-Achas que eu vou deixar isto assim?- reconheço a voz do Jonhson e assim que entro vejo que ele está a discutir com o Jack.

O Jack faz-me um sinal para eu ir embora , mas eu mostro-lhe o meu dedo do meio como forma de resposta.

Vejo o Jonhson a aproximar-se do Jack e o meu primeiro instinto foi dar-lhe um pontapé nas postas , o que o fez cair no chão.

-Vai chamar um guarda.- o Jack sussurra e eu corro para fora do espaço.

Assim que aviso o primeiro guarda que vejo , corro novamente para a enfermaria e suspiro de alívio ao ver que o Jonhson está inconsciente no chão.

-Obrigado.- o Jack agradece assim que ficamos sozinhos de novo.

Não respondo e subo na escada em que estava quando saí para ir almoçar.

-Tem cuidado aí em cima.- o Jack avisa.

-Não preciso dos teus concelhos.- cuspo.

-Pára de ser assim Iris , eu quero ser teu amigo e tu não facilitas.- o Jack fala e eu observo-o.

-Mas eu não quero.- minto.

-Pronto, eu respeito-te.- ele suspira e volta ao trabalho. Tento fazer o mesmo mas os meus pensamentos impedem-me.

Desço da escada com cuidado e assim que alcanço o Jack , surpreendo-o quando o abraço.

-Desculpa.- sussurro no meio do abraço e por causa da diferença de tamanhos , sinto o batimento cardíaco rápido dele contra o meu ouvido.

-Eu é que peço desculpa , princesa.- ele apoia o seu queixo na minha cabeça.

Ficamos ali , em silêncio e abraçados durante um bom tempo e confesso , estava a precisar de um abraço assim. É muito reconfortante.

-Vamos voltar ao trabalho.- rio assim que nos separamos.

-Deixa que eu vou para a escada , não te quero ver no chão outra vez.- ele troca de lugar comigo e eu vou para a prede em que ele estava.

-Sabes Iris, ouvi-te rezar.- o Jack fala e eu peço para que ele não tenha ouvido tudo ao pormenor.- Só ouvi sussurros , mas deu para perceber que estavas a rezar.- ele continua e eu suspiro de alívio.

-Faz-me bem , estar sozinha , só a falar com ele.- admito e torço para que o Jack não goze.

-Eu admito que só rezo quando preciso , é um hábito mau meu.- ele fala seriamente.

-Menina Iris , o diretor quer comunicar-lhe uma coisa.- um guarda entra na sala de repente e eu engulo em seco.

M-e-d-o

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Prison | Jack.G Onde histórias criam vida. Descubra agora