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---Iris--- (07/03/2018 , quarta-feira)

De volta á cela , reparo que estava uma pequena bandeja em cima da cama , que continha um pão simples com café frio.
Tento obrigar-me a comer pois não posso ficar a passar fome e com muito esforço consigo acabar a refeição.

-Sim, isto é o almoço. Estou faminto.- o Jack suspira do outro lado e eu arregalo os olhos.

-Pensava que era o pequeno-almoço.- franzo as sobrancelhas.

-Habitua-te , aqui não se vive vida de princesa.- ele pisca o olho e eu bufo.

-Não sabes nada da minha vida.- cruzo os braços a encarar o moreno á minha frente.

-Também não quero saber.- ele fala como se fosse óbvio.- És só mais uma que não vai durar nem um mês aqui.- ele ri como se estivesse a duvidar de mim.

-Como é que tens tanta certeza disso?- pergunto.

-Porque as outras raparigas , incluindo a Mady , vão dar cabo de ti num estalar de dedos. É sempre assim.- ele encolhe os ombros.

-Ai é? Então vamos ver.- deito-me na minha cama , enervada com tudo isto que está a acontecer.

***Memories*** (27/02/2018 , terça-feira)

-Com quem vais sair princesa?- a minha mãe pergunta.

-Com a Emily , como sempre.- rio e despeço-me da minha mãe que está a preparar um dos meus bolos preferidos.

Saio de casa assim que a Emily me dá um sinal e abraço a minha amiga assim que a vejo chorar desesperadamente.

-O que se passa?- pergunto assim que desfaço o abraço.

-O Henry...ele assaltou várias lojas com o Thomas.- ela suspira , referindo-se ao irmão e ao ex namorado.

-Como é que sabes?- pergunto , boquiaberta.

-Eu vi armas no quarto do Thomas , e quando o confrontei , ele ameaçou-me com a própria arma.- ela baixa a cabeça.

-Isso é muito mau.- falo sem saber o que dizer para a confortar.-Então tu e o Thomas...- tento fazer uma pergunta mas a Emily interrompe-me.

-Acabamos. Eu acabei.- a loira responde e eu assinto.

-É melhor para ti linda , vais ver que vais encontrar alguém melhor que ele.- afasto uma mecha de cabelo para trás da sua orelha.

-Eu tenho medo de morrer Iris. Ele é capaz de fazer coisas muito más.- ela fala a medo.

-Hoje ficamos em minha casa.- puxo-a para dentro de minha casa , onde estamos seguras.

***Memories off***

Suspiro contra a pequena almofada da cama da cela. A Emily era o meu suporte , a primeira pessoa que eu procurava quando estava mal.
Passamos momentos lendários juntas e apesar das brigas sei que ela estava sempre lá para escutar os meus bla bla blas.
Uma rapariga belíssima, tanto no exterior como no interior. Passou muito com a família desde pequenina , mas mesmo assim nunca perdeu a sua essência.
Só lhe tenho a agradecer. É mais uma estrelinha brilhante, que sei que está a olhar por mim.

-Olá Iris.- ouço a voz da Mady vinda da sua cela e aceno á mesma.

-Foi demorado!!- o Jack exclama preocupado.

-Os guardas foram dizer ao diretor que eu estou sempre a falar e vou ter que fazer serviço comunitário durante a noite. Por 12 dias.- ela bufa e atira-se para a sua cama.

-Ao menos que não foi por outra coisa.- o Jack tapa uma das narinas.

-Iris? Que é isso na tua bochecha?- a Mady pergunta e eu passo a mão na mesma. Reparo que ao passar a mão senti dor , e isso fez-me concluir que a minha bochecha estava negra.

-Não foi nada.- tento mostrar indiferença perante os dois seres humanos ao meu lado. Sinto as minhas pernas e as minhas costas doridas também.

-Foram elas não foram?- o Jack pergunta e eu baixo a cabeça.

-Elas não aprendem.- a Mady bufa.

Pelo que ouvi dizer , elas já mataram várias raparigas que aqui entraram , por isso é que elas eram as únicas aqui. E isso só fez a pena delas aumentar e aumentar. Agora estão todas , sem contar a Mady , em prisão perpétua.
Eram seis contra uma , sempre.

-Elas têm uma ligação muito forte com os pretos.- o Jack revira os olhos.- É fácil matar alguém aqui , por isso se eu fosse a ti tinha cuidado.- o Jack ri.

-Não amedrontes a rapariga Gilinsky.- a Mady fala num tom um pouco elevado, o que fez o guarda virar-se para nos encarar aos três.

-Mais alguém quer ir falar com o diretor?- o guarda pergunta.

-Eu quero.- o Jack brinca e o guarda deita-lhe um olhar mortal. Acho que ele se arrependeu.

Ouço o guarda resmungar alguma coisa quase de imediato que o toque para o intervalo soa.

-Vamos a isto.- sussurro para mim mesma e assim que chego ao terreno do intervalo , sento-me na mesma mesa de ontem e aperto o macacão contra mim assim que um vento forte choca com o meu corpo. Hoje não estávamos com algemas , e isso fez-me ficar ainda mais medrosa.

-Vou ficar aqui , posso?- o Jack senta-se à minha frente.

-Não. Quero ficar sozinha.- cruzo os braços.

-Se elas te atacarem não venhas chorar para o meu ombro.- ele avisa em antes de sair e eu sinto um leve arrependimento assim que o vejo sair.

Olho em volta. Um montão de gente. De todas as raças e religiões. Homens fortes , monstros em comparação ao corpo do Jack.
Em cima de uma torre , estavam polícias, com pistolas na mão , á procura de qualquer conflito para intervir.

-Olá , novata.- um jovem , provavelmente da minha idade , senta-se à minha frente e eu sorrio fraco para o mesmo.- Boatos dizem que vais morrer em dias.- ele aponta para as raparigas que estavam numa mesa distante , com o olhar posto em mim.

Levanto-me sem nada dizer e procuro o Jack com o olhar.
O terreno é demasiado grande , não o encontro mesmo.

-Pobre menina , vai ter um fim trágico.- choco contra um senhor mais velho que me acaricia de maneira nojenta.

Tento fazer um sinal aos polícias mas as minhas mãos são presas.

-Deixem-me em paz.- imploro e sinto os meus olhos marejados assim que o velho toca no meu rabo.

-Albert , deixa-a.- a voz rouca do Jack faz-se ouvir e eu suspiro de alívio.

-Oh , Gilinsky , que bom ver-te!- o senhor que apertava as minhas mãos exclama.

-Larga a rapariga.- o Jack pede e sou empurrada pelo velho , o que me fez ir contra o chão.

-Não me digas que é esta a tua nova paixão , na prisão. Oh Gilinsky, estou tão orgulhoso de ti.- o jovem que ainda ali estava fala em tom de gozo.

-Anda.- o Jack puxa-me de forma bruta e leva-me para um canto.- Eu avisei que te ías lixar se estivesses sozinha, não me ouviste.- ele cruza os braços.

-Sou grande o suficiente para cuidar de mim sem ajuda.- cuspo.

-Nota-se Iris , nota-se. Aqui , ninguém é grande o suficiente para isso. Todos precisamos de proteção.- ele fala como se fosse óbvio. Talvez ele tenha razão.

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Prison | Jack.G Onde histórias criam vida. Descubra agora