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---Iris--- (03/05/2018 , quinta-feira)

Abro os olhos com o som estridente da campainha e a primeira coisa que faço é olhar para a cela do Jack.
Ontem , adormeceu em prantos , a olhar para a carta que mantinha por baixo da cama à meses.
Chorou , chorou e chorou. Depois , sentou-se no chão virado para mim e desabafou tudo o que tinha guardado dentro de si quando aqui veio parar até ontem.

Vejo-o com o seu sorriso matinal e logo sorrio também.

-Vamos para o intervalo.- ele abraça-me de lado e acompanha-me até ao mesmo lugar de sempre.

Vejo um autocarro chegar e logo deduzo que são os novos reclusos.
De lá , saiem mais de vinte pessoas , entre elas homens e mulheres.

-Não tenhas medo Iris , eu não te vou deixar.- o Jack beija-me a testa assim que vê o medo no meu olhar.

-Eu também não te vou deixar , acho eu. Não prometo sobreviver.- suspiro.

-O facto de vivermos para sobreviver , é estranho.- o Jack ri e eu faço o mesmo.

No momento em que ele me falou pela primeira vez , senti que iria ser um problema. Nunca pensei que ele fosse este Jack que conheço hoje. Ele parecia frio.

-Novos reclusos , perigosos, não os tratem mal.- um guarda senta-se na mesma mesa que nós e eu logo que o encaro , reparo que o conheço. Óbvio que é daqui , mas não me estou a recordar do momento em concreto.

-Como é que sabe que são perigosos?- o Jack pergunta curioso. Eu e ele temos muito em comum, a curiosidade está incluída.

-Estavam na prisão de segurança máxima aqui da zona , onde quem espanca , morre de imediato.- o guarda responde e logo me lembro de onde o conheço.

É o guarda que perdeu a mulher , por causa das raparigas que foram executadas.

-E porque é que foram transferidos para aqui?- é a minha vez de falar.

-A prisão de lá está sem espaço.- o guarda responde com o olhar num lugar qualquer do terreno.- Sabe Iris , eu sei que a menina é inocente , devo ser dos únicos guardas que acredita nisso.- o senhor continua e eu suspiro. Realmente são poucas as pessoas que acreditam em mim.

-Os outros guardas costumam mencionar o nome dela?- o Jack pergunta.

-Não vos posso informar de nada , sou apenas um guarda que não quer perder o emprego.- o senhor levanta-se e volta para o seu trabalho.

O intervalo continuou normalmente, eu e o Jack não paramos de falar e no fim despedi-me dele com um abraço. Ía agora para o banho , não sei o que me espera.

-Quero-te inteirinha ouviste?- ele brinca e eu assinto , saindo em seguida. São sempre difíceis estas despedidas , nunca sei se o vou voltar a ver.

Assim que chego aos balneários , o resto das raparigas já está a tomar banho e eu sinto-me extremamente envergonhada quando sou a única atrasada e quando elas viram as cabeças pra me encarar.
São sete novas raparigas , todas elas com um aspeto distinto.

-Esta deve estar aqui porque matou uma mosca.- uma das raparigas fala. Ela tem olhos verdes , tal como eu , e cabelo loiro , um loiro natural.

-Não tenhas medo delas , não te fazem nada.- a rapariga que estava no chuveiro ao lado do meu sussurra-me.- Só têm treta , como os cães.- a morena ri e eu faço o mesmo.

-Sou a Iris.- apresento-me , tudo o que eu menos quero é fazer inimizades aqui.

-Sou a Ellie. Prazer.- ela pisca-me o olho.- Acho que vou ficar na cela em frente á tua , no outro lado do corredor.- ela continua e eu assinto.- Disseram-me que estás aqui por assassinato! É verdade , ou és inocente? É que com essa carinha não te consigo imaginar a matar alguém.- a Ellie ri e eu suspiro.

-Sou inocente. Vou a tribunal dia 10 por causa de novas provas a meu favor.- seco o meu corpo com uma toalha e de seguida visto o meu macacão lavado.

-Eu estou aqui por meu descuido , não tinha cuidado quando roubei uma bolsa na Louis Vuitton.- ela ri num tom nervoso.

-Ao menos não tens a fama de ser uma assassina, o que aqui não é mau de todo.- respondo à rapariga que já estava vestida.

-É , ao menos isso.- sorri.- Tu e aquele moreninho namoras?- ela continua num tom curioso , referindo-se ao Jack.

-Nem sei o que é que somos.- rio e despeço-me da Ellie com um aceno assim que entro na minha cela.

O Jack está sentado na sua cama , a olhar para a folha que me entregou ontem.

-Guarda isso , não te faz bem.- falo na direção dele e ele encara-me. Reparo que os olhos dele estão marejados e logo sinto a necessidade de o ajudar.

-Ele tem razão, eu não sou ninguém.- o Jack funga.- Eu nunca pensei no meu futuro , vou apodrecer aqui dentro.- ele continua já a chorar e eu tento não fazer o mesmo.

-Calma Jack , tu és alguém. És a melhor pessoa que tenho comigo, e olha que é difícil ocupar esse lugar.- apoio a minha cabeça nas minhas mãos fechadas.

-E quando te fores embora? Não me resta nada aqui.- ele solta algumas lágrimas e eu baixo a cabeça , gostava tanto de o poder abraçar agora.

-Não penses nisso agora , tu ainda me tens aqui. E quando eu sair , eu estou lá fora à tua espera.- asseguro.

O toque para irmos para o refeitório ecoa por todos os corredores e assim que saio da minha cela, não perco tempo em abraçar o Jack que me beijou a testa.

-Não gosto de te ver chorar.- limpo as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e caminho de mãos dadas com ele até ao refeitório.

Depois de termos os tabuleiros nas mãos , sentamo-nos numa mesa mais reservada.

-Pombinhos? Posso juntar-me a vocês?- a Ellie pergunta e eu assinto.- Sou a Ellie.- ela acena para o Jack.

Os dois apresentam-se e depois começamos a nossa pequena e simples refeição.

-Como é que vocês se conheceram?- a morena pergunta depois de terminar a sua refeição.

-Eu já aqui estava quando ela chegou, depois ela ocupou a cela ao lado da minha e a partir daí ela não me largou.- o Jack pisca-me o olho.

-Tu é que não me largaste.- deito a língua de fora.

-Não és nada sem mim.- o Jack brinca.

-Vocês são tão fofinhos, a vossa história dava para fazer um filme.- a Ellie cruza os braços e eu rio com o seu comentário.

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Prison | Jack.G Onde histórias criam vida. Descubra agora