20 • V e r d a d e s C r u é i s •

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Shirt hanging off my shoulders
Both hands when I hold you
So baby, what's the hold up?

Adrien acordou meio assustado.
Em primeiro momento, tentou se situar. Obviamente não estava no próprio quarto. Sentia calor e peso sobre seu peito. Marinette repousava ali a cabeça, dormindo serena. Como era possível ser tão linda? Ajeitou o melhor possível, e voltou a dormir. Não queria que ela acordasse. Era pedir demais que ela ficasse assim, com ele, juntos ali, compartilhando calor? Sabia que Marinette era carente de calor e atenção humana. Carente de carinho.
E isso o fazia se perguntar: Por quê Bridgette era tão fria com a sobrinha? Como ela conseguia ver o que fazia com aquela menina, e não sentir nada? Como conseguia viver sob o mesmo teto que ela e ser tão indiferente?

Nunca ia entender.
Quando acordou outra vez, Marinette o fitava. Seus grandes olhos de safira brilhavam gentis. Sabia que aquilo era um caminho perigoso a se seguir. Ela sorriu, o fazendo retribuir o gesto da melhor forma possível. Doía saber que ela não sentia o mesmo que ele.

— Bom dia, minou — voltou a deitar a cabeça sobre seu peito.

— Bom dia, pequena — ele beijou seus cabelos. — Dormiu bem? Está melhor?

— Eu sempre fico bem, com você por perto — ela sorriu fofa. — Obrigada por não... por não se afastar de mim.

— Ei, eu nunca mais vou me afastar de você, ok? — ele segurou seu queixo, sorrindo. — Melhores amigos, esqueceu? Juro de mindinho e tudo.

Ele ergueu o dedo mindinho e Marinette riu, entrelaçando com o dela. Abraçou seu peito e voltou a repousar ali, sentindo Adrien acariciando suas madeixas escuras (e um pouco embaraçadas), e ouvindo as batidas ritmadas dos corações. Estava quase dormindo outra vez, quando alguém bateu na porta.

— Finge que tá dormindo — ela sussurrou.

Mas as batidas se tornaram mais constantes, e, por fim, a voz de Bridgette soou no corredor:

Marinette, faça o favor de abrir a porta! Preciso falar com você!

Marinette resmungou e se levantou, destrancando a porta e abrindo.

— Que foi? — bocejou.

— Você não devia... — ela reparou Adrien no quarto e franziu a testa. — O que vocês estavam fazendo trancados aí dentro?

— Isso por acaso é da sua conta? — a mais nova ergueu uma sobrancelha.

— Vocês são menores de idade, e estão sob meu teto, então, sim — Bridgette a olhou com deboche. — Que você é uma vadia eu já sei, só não precisa trazer suas diversões pra dentro de casa.

— Não fizemos nada de mais, Bridgette — Adrien abraçou Marinette pelos ombros. — Só assistimos séries.

— E mesmo que tivéssemos feito, você nunca se importou. Não seja hipócrita.

— Antes ser hipócrita do que uma vadiazinha, cópia perfeita da mãe.

Antes que Adrien pudesse empedir, a Cheng mais nova avançou.
O som do tapa fez eco no silêncio sepulcral do corredor. Seria possível ouvir o barulho de uma agulha caindo no chão.

— Eu suporto qualquer coisa que venha de você, seu monstro — Marinette respirava ofegante. — Qualquer coisa. Mas não ouse tocar no nome da minha mãe outra vez!

— E, por quê eu não tocaria no nome de uma puta, capaz de entregar a própria filha para os pais criarem? — Bridgette a olhou com frieza e ódio estampado no rosto. A outra recuou.

— Do que você está falando?

Marinette tremia. Sentia a palma da mão arder. Qual era a próxima daquela louca? Sentiu Adrien se aproximar pelo lado. Pronto pra interferir se ela quisesse voar na cara da sua parente.

— Está surpresa, não é? — a mais velha massageou a bochecha. — Sua mãe não era uma mulher respeitável, princesinha. Quando ela tinha quinze anos, ela engravidou de um dos namoradinhos, sabia? Porque ela era igualzinha a você. Ela não sabia quem era o pai da criança. Mas os pais dela a amavam demais, então viajaram, antes que fosse possível desconfiarem. Quando voltaram, Sabine não tinha indícios de ter tido um filho.

— Você está inventando isso — Marinette disse, tampando os ouvidos. — É mentira!

— Oito anos depois ela se casou com Tom Dupain, seu pai — Bridgette soou enojada. — Ele nunca soube do passado nojento da sua mãezinha querida. Um idiota. Então eles tiveram você. A princesa da família. A filha legítima. O orgulho de todos. Mimada, fútil.

— Bridgette, por favor, para... — Adrien pediu, tentando se aproximar da amiga, mas ela se afastava ainda mais. — Pelo amor de Deus...

Mas ela o ignorou. Parecia estar descarregando anos de ódio e rancor. Não se importava de estar ferindo a garota.

Eu sou a bastarda! Eu sou a filha ilegítima. Eu sou a sua irmã mais velha! — o tom dela era um tanto mais alto. Nem as lágrimas nos olhos da outra a fazia parar. — E sabe o que é pior, Marinette? O pior é que sua mãe fez questão de morrer naquela porra de acidente, e jogar você na minha responsabilidade. Me deixando sem escolha a não ser ficar com você. Uma menina sem nada especial. Que se acha o centro do universo. Eu odeio você! Te odeio com todas as minhas forças!

Marinette chorava, murmurando “não” várias vezes. Se sentia torturada. Ela merecia aquilo por simplesmente nascer? Ela não tinha culpa do passado. Ela não tinha culpa de nada...
Se desvencilhou dos braços de Adrien, andando de costas e sem rumo. Só queria sumir. Queria ficar longe. Não merecia aquilo. Não!

— Mari! — Adrien tentou pegar seu braço uma última vez, mas ela o empurrou e deu um passo. — MARINETTE!

Era tarde.
Tinha chegado nas escadas.
Ela não via por conta das lágrimas.
O grito de desespero do Agreste ecoou, enquanto ela rolava escada abaixo, desacordada.

𝐴𝑙𝑚𝑜𝑠𝑡 ꪶꪮꪜꫀ ||MLB • AU|| ⚠️reescrevendo⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora