20. Pieces

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Quando Summer Kaufmann tinha dezoito anos e precisou avisar aos pais que estava de matrícula feita e passagem comprada para Munique, ela não conseguiu formar uma frase sequer que fizesse sentido.

Tudo eram meias palavras, sílabas incompletas que, juntas ao nervosismo do momento, não transmitiram conteúdo nenhum aos seus pais, que a observavam curiosos.

Era assim que ela ficava sempre que precisava usar palavras demais. Com as mãos trêmulas, a mente a mil e os pensamentos bagunçados, precisando de mais que um copo com sal e açúcar para que sua pressão voltasse ao normal.

Por isso a sua tranquilidade incomum enquanto olhava no fundo dos olhos castanhos de Fernando era assustadora.

Suas mãos não tremiam, seus pés não balançavam incessantemente como quando ela fazia sempre que estava nervosa e, por mais que não tivesse ensaiado o discurso mil vezes como teria preferido, estava confiante.

Confiante de uma forma que não se lembrava de ter estado igual outra vez em toda a sua vida, nem quando tinha seis anos e se voluntariava para apresentar todos os trabalho da sua classe.

Ela estava certa que queria Fernando Navarro de volta a sua vida e sabia o que teria que fazer para conseguir isso.

Precisava ser sincera com ele. Não era pedir muito.

— Nunca foi meu objetivo passar todo esse tempo longe de você — Summer quebrou o silêncio incômodo, apertando os lábios em uma fina linha antes de continuar. — E eu sinto muito por isso, mas eu precisava de tempo para pensar e não seria justo com você e comigo também se eu voltasse sem as respostas que você quer.

— Então você as tem? — Fernando questionou, arqueando as sobrancelhas. — Eu quero ouvi-las.

Sempre tive — ela deixou um sorriso pequeno surgir no canto dos seus lábios, acomodando-se melhor no sofá escuro do apartamento do jogador, de frente a ele. — E você vai ouvir, mas eu preciso te contar uma longa história antes.

Fernando assentiu diversas vezes, sem desgrudar os olhos um segundo sequer do rosto de Summer. Ele tinha esperado por aquele momento por tanto tempo que nem mesmo se atrevia a piscar com tanta frequência, temendo perder alguma coisa que fosse importante a ela.

— Vá em frente — o jogador murmurou, engolindo em seco. — Nós temos todo o tempo do mundo.

Summer concordou, porque era exatamente o que se parecia.

Quando estava com Fernando, ela tinha a contínua sensação de que todos os relógios do mundo paravam e só voltavam a funcionar quando ela se despedia dele com um beijo preguiçoso nos lábios com gosto de café, sempre que ele saía para treinar no Säbener Strasse.

Como se o tempo fosse um conceito extremamente relativo para os dois. Dezesseis dias poderiam ser doces como um chocolate belga, se passados na companhia ilustre de Fernando Navarro.

Ou, como ela tinha experimentado, duros como o inferno, longe do jogador.

— Eu preciso começar em 2006, quando eu tinha quinze anos de idade e nós descobrimos que minha Opa tinha Alzheimer — Summer começou a falar, dividida entre encarar Fernando ou a cidade, visível pela janela de vidro da sala. — Eu me mudei para Munique quando tinha dezoito anos. Um pouco porque eu queria e precisava de um novo ar na minha vida e o resto porque eu queria estar ao lado dela diariamente. Então eu vim para cá, comecei a trabalhar no café e estudar na Ludwig-Maximilians.

Summer ficou em silêncio por um instante, enquanto as memórias daquela fase da sua vida passavam de frente aos seus olhos. Ela ainda era uma criança na época, mas ali já sentia como se fosse de sua responsabilidade tomar conta de todo mundo.

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