6. Like a Summer Breeze

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O responsável pelo projeto da sala de fisioterapia do Eintracht München tinha um espírito que podia ser compreendido como incentivador ou puramente masoquista.

Foi a primeira coisa que Fernando Navarro pensou após conhecer o lugar, quando fora devidamente apresentado no clube e a todos os espaços que ele oferecia, quase dois meses antes. Agora, frequentando-a pela terceira vez em quase dois meses de treino, ele não estava menos incomodado com o fato de que uma parte dela era completamente de vidro, onde ele poderia ter uma vista de camarote do treino do time. Nem a música ambiente que ele escolhera era capaz de impedir que a voz autoritária de Afonso Reina fosse escutada, no campo ao lado.

O jogador tinha o rosto apoiado nas mãos enquanto, deitado, recebia massagem do preparador físico que o acompanhara desde o começo do seu tratamento. Seus olhos acompanhavam a bola que ia de um lado para o outro, até deixando que um sorriso cruzasse seus lábios quando Greco Fiorentini fez uma defesa sensacional de uma bola que parecia certeira ao traçar seu caminho até o gol.

— O quão grave é a minha lesão? — questionou, colocando em palavras toda a vontade que tinha de deixar aquela sala que parecia sufocá-lo. — Eu posso ao menos ter um treino individual?

A risada de Boris era fruto da impaciência visível na fala do camisa 10 que, se pudesse, não teria nem mesmo passado naquela sala como recomendado pelo treinador no dia anterior.

Geralmente os jogadores ganhavam o dia após um jogo de folga, principalmente os titulares, mas não tinha sido assim após o jogo de estreia do time Lila de Munique. A frustração no vestiário após o apito final sumiu assim que Afonso Reina entrou pelas portas, parabenizando todos pela grande partida, anunciando que no dia seguinte eles teriam treino normal e pedindo para Navarro passar pela médica do time.

Pedido que não fora acolhido de primeira, já que o atacante continuava a insistir que ele estava bem o suficiente para deixar a visita para o dia seguinte. Mas não conseguiu vencer o olhar autoritário do treinador e o jeito mandão da mulher que o consultara um pouco depois.

— Ainda não — o preparador físico respondeu, virando-se para pegar mais uma faixa de relaxante muscular. — Você provavelmente não vai treinar mais por essa semana. E se você não respeitar seus limites, Fernando, vai frequentar essa sala por mais tempo do que gostaria.

Antes que o jogador pudesse retrucar, Boris apoiou suas mãos em um lugar que ele já sabia que doía, fazendo o espanhol travar o maxilar em tentativa de prender o muxoxo de dor que tentava sair do seus lábios.

A aplicação da faixa azul trouxe alívio quase imediato, fazendo-o fechar os olhos e relaxar na maca que estava deitado. Quebrar as recomendações médicas não era uma possibilidade e tinha ficado muito claro que a médica que o atendera era muito boa no que fazia.

E, como ela tinha dito no dia anterior, o músculo da panturrilha de Fernando Navarro preocupava.

Algo tinha saído errado no seu jogo de estreia.

Não só o fato de só ter acertado um dos sete chutes a gol que fizera só no primeiro tempo, mas também uma lesão muscular.

Como sempre, não sentira nada durante o jogo e nem Afonso Reina com seus olhos críticos percebera que Fernando estava correndo diferente ou com algum incômodo. Sua substituição não tinha sido pensada em nenhum momento pelo treinador, nem solicitada pelo jogador, mas bastou o apito final para Fernando começar a sentir.

Desconforto.

Um puxão na parte anterior da sua panturrilha, como se estivesse algo preso ali toda vez que ele tentasse correr ou andar. Algo que tornava o simples fato de encostar o pé no chão um trabalho doloroso, junto com uma forte fisgada toda vez que ele tentava se apoiar nele.

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